A ação da Apple demorou cinco pregões para ter o primeiro dia positivo em Nova York, na última segunda-feira. No meio do caminho, teve recomendação rebaixada por pelo menos duas casas e perdeu quase US$ 200 bilhões em valor de mercado, em meio a incertezas sobre o futuro na China, sinais de enfraquecimento das vendas e crescente riscos legais nos Estados Unidos.

Apesar disso, ainda há indícios de oportunidade no horizonte da mais valiosa empresa de capital aberto do planeta. A FactSet estima que, em média, analistas classificam o papel em “overweight” (compra) e projetam um preço-alvo de US$ 197,53, um prêmio de mais de quase 7% em relação ao fechamento do dia 9 de janeiro. Mesmo assim, o ativo acumulava desvalorização de 5% no período de um mês, enquanto o índice Nasdaq tinha valorização superior a 3% no fechamento deste texto, no dia 10 de janeiro.

O relativo desinteresse de investidores pela gigante do Vale do Silício neste começo de 2024 é reflexo de uma confluência de fatores. Muitos deles já se arrastavam desde meados de 2023, como é o caso do crescente cerco chinês aos sistemas da companhia americana. Nos últimos meses, o país asiático ampliou a proibição ao uso do iOS para funcionários da administração pública, para além do primeiro escalão. O grupo não representa uma parcela relevante da base de clientes, mas o temor é de que as medidas antecipem uma campanha mais dura contra a Apple.

O cenário amplifica os desafios nas tentativas de expansão no mercado chinês, onde a competição com a Huawei se intensifica. Em setembro, a chinesa lançou um smartphone com características semelhantes aos aparelhos mais avançados da rival norte-americana, o que gerou especulações de que Pequim tenha contribuído no acesso a tecnologias bloqueadas por meio de sanções impostas por Washington.

Os riscos, no entanto, se estendem para além do contexto da demanda. Na sexta-feira, 5, reportagem do The New York Times revelou que o Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos está nos estágios finais de uma investigação sobre possíveis práticas anticompetitivas da empresa da maçã. A apuração pode culminar em um processo antitruste ainda no primeiro semestre deste ano, de acordo com o jornal.

Diante desses ventos contrários, o Barclays cortou a recomendação para a ação, de “neutra” para “underweight”, e diminuiu o preço-alvo de US$ 161 para US$ 160. Segundo análise do banco, os dados mais recentes apontam para vendas enfraquecidas do iPhone 15, o mais recente lançamento na linha de produtos mais popular da companhia. “Nossa visão inicial sobre o iPhone 16 é a de que haverá pouca diferença entre recursos e funções em comparação com o iPhone 15”, afirma. “Sem quaisquer alterações convincentes, vemos menos espaço para atualizações de dispositivos [por consumidores], especialmente em um ambiente macro desafiador”, acrescenta.

A Piper Sandler também piorou sua visão sobre as perspectivas para o papel da Apple, de “neutra” para “underweight”, diante do que espera ser uma desaceleração das vendas de celulares e do crescimento das receitas com serviços. Os analistas Harsh Kumar e Robert Aguanno acreditam que a perda de ímpeto da economia da China também contribuirá para o ambiente desafiador.

US$ 4 trilhões à vista

Por outro lado, o analista Daniel Ives, da Wedbush Securities, se mantém otimista em relação às perspectivas para a gigante americana, mesmo com o que chama de “ruídos” vindos da China.

Na visão dele, até o final deste ano, a Apple deve se tornar a primeira companhia de capital aberto do planeta a alcançar valor de mercado de US$ 4 trilhões. Ives projeta 250 milhões de unidades de iPhone vendidas ao longo do ano inteiro de 2024. “Com um negócio em expansão de iPhone novamente em 2024, logo após o início do que consideramos um novo mercado ‘bull’ [altista] de tecnologia, a Apple está preparada para ter um ano forte pela frente”, destaca.

Em um ponto de vista igualmente positivo, analistas da Evercore consideram exagerado o pessimismo recente quanto à demanda por iPhone, porque entendem que a fraqueza na China será contraposta por um desempenho fortalecido em outros países.

Eles reconhecem que os processos antitruste são um risco, mas ponderam que essas ações costumam se estender por vários anos. “Independentemente do resultado, levará anos até que haja qualquer impacto financeiro para a Apple”, ressaltaram, conforme nota revelada pela Dow Jones Newswires.