A inflação ao consumidor em doze meses situa-se na faixa de 5,5% no Brasil e no Peru, até 32,0% na Venezuela. Já a elevação dos preços dos alimentos oscila entre 6,0% na Zona do Euro até 12,6% no Brasil, 15,3% na África do Sul e 18,2% no Chile. Somente Brasil, Canadá e Tailândia, dentre as 18 nações que opera com regime de metas de inflação tem logrado êxito em manter a variação dos níveis de preços abaixo do teto de tolerância. As providências mais contundentes foram o congelamento de preços no México, da carne no Uruguai, e a taxação, limitação e/ou proibição de exportações na Argentina e Venezuela.

Apesar de o funcionamento com juros internos quatro vezes acima da média internacional, conferir margens de manobra para o exercício do gradualismo monetário, as pressões de demanda, derivadas da exponencial ampliação dos dispêndios públicos correntes em detrimento dos investimentos em infra-estrutura, constituem perigoso fator de irradiação da inflação proveniente do choque de custos externo, comprometendo a eficácia do regime de metas.

Isso pode ser atestado pelo comportamento de duas variáveis: custos e demanda. Assim, as despesas de produção de um grupo de 223 companhias abertas atuantes no Brasil aumentaram 30,6% no primeiro trimestre de 2008, contra expansão de 21,8% das receitas. No que se refere à demanda, observou-se diminuição do ritmo de crescimento das vendas de combustíveis e dos itens de supermercados, no primeiro quadrimestre de 2008, registrando variação de 6,0% e 6,4%, respectivamente, contra 11,0% para o comércio varejista em geral.

Contudo, a compensação dos déficits em transações correntes pela entrada de capitais motivada pelos juros elevados e pela compressão das restrições da oferta internacional, por conta da obtenção do grau de investimento pelo Brasil, o corte de dispêndios públicos não essenciais, e o encarecimento do crédito interno e a ampliação da seletividade dos bancos na concessão, encurtam o poder de infiltração inflacionária mais expressiva fora das cadeias comandadas pelas commodities. Até porque, a única saída para a apreciação do dólar, sem a necessidade de recorrer ao aumento de juros, passa pela desaceleração do crescimento econômico dos emergentes. Tal cenário oportuniza inclusive desonerações tributárias pontuais para segmentos afetados pela sobrevalorização do câmbio.

Gilmar Mendes Lourenço é Economista, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas, e Editor da Revista “Vitrine da Conjuntura” da UNIFAE – Centro Universitário Franciscano do Paraná – FAE Business School. Ele escreve às Quartas-Feiras neste espaço.