Há pelo menos um jogador brasileiro em cada grande equipe européia, um fenômeno que começou a surgir de forma discreta nos anos 80, ganhou força nos anos 90 e explodiu na atual década. Mas em 2008, ao contrário de anos anteriores, a estrela desses brasileiros não brilhou da mesma forma que em anos anteriores. Ao contrário.

Kaká é o único do País que ainda faz parte da lista dos grandes astros mundiais. E, mesmo assim, sofreu com lesões, não foi tão decisivo e não conquistou nenhum título. Outros passaram o ano tentando se recuperar, fugir de polêmicas, mostrar que não estão acabados ou provar que não são apenas eternas promessas.

Os vários prêmios distribuídos neste ano na Europa mostram que o prestígio dos brasileiros não é o mesmo de anos passados, quando dominaram praticamente todas as listas de destaques do futebol. A revista francesa “France Football” deu seu prêmio – a Bola de Ouro – a Cristiano Ronaldo, e, entre os 30 melhores do mundo, selecionou apenas Kaká. A FifPro (Associação dos Jogadores Profissionais) também elegeu o português como o número 1. Kaká foi mais uma vez o único brasileiro citado entre os primeiros na votação, feita por 57 mil atletas em mais de 40 países.

Cristiano Ronaldo não conseguiu levar a seleção portuguesa ao título europeu em 2008, mas destacou-se nas conquistas da Liga dos Campeões da Europa, do Campeonato Inglês e do Mundial de Clubes , no Japão – na temporada 2007-2008, fez 42 gols pelo Manchester United.

A Fifa já selecionou seus cinco melhores do ano, com Kaká como único brasileiro. A situação se contrasta com outras épocas. O Brasil é o país que mais títulos levou. Foram oito, com Ronaldo (3), Ronaldinho Gaúcho (2), Romário, Rivaldo e Kaká (1 cada). Isso sem contar com ampla lista de finalistas.

Nesta temporada, os craques da nação pentacampeã perderam um pouco – ou bastante em alguns casos – do brilho. A última edição da revista inglesa “Four Four Two” dá o tom dessa queda e demonstra que os brasileiros não são mais unanimidade. Na lista dos 20 melhores do ano, apenas Kaká está incluído. Já entre os cem melhores, são dez os brasileiros listados. Mas em posições bem mais modestas em relação a outros países. A Espanha, atual melhor seleção do mundo pelo ranking da Fifa, tem doze representantes entres os cem melhores, contra treze da Itália.

Além de Kaká, a principal estrela brasileira em um grande time é o esforçado Daniel Alves, na 23ª colocação no ranking da revista O lateral-direito vem jogando bem no Barcelona. Outros dois com bom desempenho são o também lateral Maicon, da Inter de Milão (26ª posição), e o atacante Luís Fabiano, do Sevilla (em 31º).

O Sevilla recusou oferta de 25 milhões de euros do Manchester City pelo “Fabuloso”. O presidente do clube, José Maria del Nido, alegou que o brasileiro é “muito importante” para seus planos. Mesmo assim, Maicon e Luís Fabiano ainda estão longe da fama que Roberto Carlos ou Ronaldo, por exemplo, ganharam no Velho Continente.

Quem provocou em 2008 debates na Europa foi Robinho, considerado pela “Four Four Two” o 42º melhor da temporada. Depois de uma saída polêmica do Real Madrid para o modesto Manchester City, quando todos o esperavam no Chelsea, o atacante teve de lutar contra críticas da imprensa e de torcedores, que o qualificaram de mercenário, por ter deixado, segundo eles, um dos mais importantes clubes do planeta por dinheiro.

Há uma semana, Robinho causou um início de crise ao dizer que o Manchester City tinha uma “mentalidade de time pequeno” e que faltaria ao clube a “mentalidade de campeão”. Ele, que acaba de comprar uma Lamborghini, acusou a imprensa inglesa de ter tirado suas frases de contexto. Em campo, as coisas também vão muito mal. O time ocupa a zona de rebaixamento no Campeonato Inglês.

Ronaldinho Gaúcho, depois de tumultuada saída do Barcelona e fraco desempenho com a seleção na Olimpíada de Pequim, tenta mostrar no Milan que sua carreira na elite do futebol não acabou Mas foi classificado apenas como o 70º melhor de 2008, lugar mais do que modesto para um meia que até 2006 era a maior estrela do futebol mundial. Sua equipe também sofre para se manter na ponta e tentar alcançar a liderança na tabela.

Juninho Pernambucano, como Kaká, é talvez a grande estrela brasileira de um time europeu. Levou o Lyon a sete títulos franceses, mas não consegue ir muito adiante na Liga dos Campeões. Diego, na Alemanha, é outro considerado fundamental para sua equipe. Mas, depois de bom desempenho em anos anteriores, teve um 2008 discreto, e seu time, o Werder Bremen, encontra dificuldades para disputar as primeiras posições no atual Campeonato Alemão. Para Diego, o ano também acabou em polêmica – agrediu um adversário, levou quatro jogos de suspensão e foi multado pelo próprio clube em 20 mil euros.

Adriano, que era admirado por muitos times há poucos anos, está em baixa hoje. O técnico português José Mourinho, da Inter de Milão, deixou claro que não tem grande interesse em mantê-lo no elenco em 2009. O atacante foi liberado para desfrutar de férias no Brasil e se recuperar de uma lesão muscular. “Digo de maneira muito honesta: em seu caso pensaria muito seriamente se vale a pena permanecer aqui, onde tem uma determinada imagem, que é muito difícil de limpar, ou se é melhor para ele mudar sua vida profissional”, disse Mourinho. Há poucos dias, a imprensa italiana levantou a possibilidade de que Adriano tivesse chegado embriagado a um treinamento.

Outro atacante que era considerado grande promessa também tem seu futuro indefinido na Europa. Fred pediu que o Lyon, da França, o liberasse diante da falta de espaço no time titular. Pato, do Milan, apesar de alguns gols, ainda não desencantou.

Quem ainda é ídolo é Rivaldo. Mas longe, bem longe dos principais centros do futebol. Ele faz sucesso no modestíssimo Bunyodkor, do Usbequistão. Sua contratação foi uma surpresa para a imprensa, torcedores e dirigentes. Ele garante, porém, estar feliz na ex-república soviética. O meia acumula atualmente o cargo de presidente do Mogi Mirim, mas ficará no Bunyodkor pelo menos mais um ano, sob o comando do técnico Zico.