Parece inimaginável um mundo onde as pessoas não andam com algum trocado no bolso. Mas cada vez mais o dinheiro em forma de papel-moeda perde espaço para expressões virtuais de dinheiro, como o cartão de crédito e o de débito. Na Noruega, por exemplo, somente 5% das transações são feitas em dinheiro. Um estudo, inclusive, aponta que as moedas sumirão do país até 2020. Ainda na Escandinávia, prevê-se que até 2030 a Suécia estará totalmente independente do dinheiro em espécie.

No Brasil, de acordo com o Relatório Mundial de Meios de Pagamento, 37% das transações eram feitas com cartões em 2012. Além disso, pesquisa do Ibope do mesmo ano aponta que entre 2005 e 2012 a utilização de cartão avançou de 26% para 34% na preferência do brasileiro, enquanto o dinheiro em espécie caiu de 60% para 48%.

Diante desse avanço do dinheiro virtual, já há quem defenda a extinção do papel-moeda. São os casos de Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard, e do deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG). Para o professor, o fim das notas eliminaria a falsificação de um só golpe, facilitaria o rastreamento de pagamentos ilícitos e ainda ajudaria os governos a recolher mais impostos e a desenvolver melhor a política monetária.

Já o político brasileiro apresentou no começo de fevereiro um projeto de lei (PL 48/15) que extingue a produção, circulação e uso do dinheiro em espécie, e determina que as transações financeiras se realizem apenas através do sistema digital.

A tecnologia proporciona todas as condições para que pagamentos, inclusive de pequenos valores, possam ser feitas sem a necessidade de se portar dinheiro em espécie. Além disso, como toda transação financeira poderá ser rastreada, ficarão quase impossíveis as práticas de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de pessoas, pois toda transação seria oficializada através de transações bancárias e as despesas pessoais através do cartão de crédito ou débito, argumenta o deputado.

No comércio, inclusive, já é algo quase que obrigatório os estabelecimentos disponibilizarem formas de pagamento pelos cartões, como aponta Adriana Barbosa, diretora-geral da Payleven, pioneira em soluções de pagamentos móveis de chip e senha.

Hoje, um comerciante não consegue se manter sem máquina para cartões. Fazemos anualmente uma pesquisa com estabelecimentos comerciais. Nossos clientes passaram a vender 50% a mais quando começaram a aceitar cartão, ou seja, alguém que não aceita cartão deixa de faturar, está perdendo vendas. Então hoje todos os estabelecimentos precisam aceitar cartão.

Em Curitiba, o transporte coletivo já deu seus primeiros passos para extinguir o dinheiro em espécie do sistema. Desde agosto do ano passado, as linhas operadas com micro-ônibus só aceitam o pagamento com cartão transporte. O uso do cartão como forma de pagamento será estimulado para que o volume de dinheiro nos ônibus e estações diminua significativamente. O risco de assalto é uma das principais queixas do sindicato de motoristas e cobradores. Além disso, no caso de roubo ou extravio do cartão transporte tipo usuário, é possível recuperar os créditos, argumenta a Urbs.