SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cura de um engenheiro nascido em Santos, litoral de São Paulo, com grave problema neurológico foi o segundo milagre atribuído pela Igreja Católica à Madre Teresa de Calcutá e que garantiu sua canonização como santa neste domingo (4), em cerimônia no Vaticano. Em dezembro de 2008, Marcilio Haddad Andrino, então com 35 anos, ficou doente de repente e teve que voltar da lua de mel em Gramado (RS) às pressas para ser internado urgência em Santos. Os médicos diagnosticaram hidrocefalia e oito abcessos no cérebro -áreas infeccionadas, por origem bacteriana ou viral, que provocam a destruição dos tecidos e a produção de pus dentro do encéfalo. “Era muito grave, só piorava. Parecia ter um diagnóstico vascular, depois descobriu-se que ele tinha um diagnóstico infeccioso. Estava com um quadro neurológico muito grave”, disse o neurocirurgião José Augusto Nasser, relator do processo que resultou no reconhecimento do milagre de madre Teresa de Calcutá, em entrevista à Folha de S.Paulo, no ano passado. Andrino ia passar por uma cirurgia, mas acordou se sentindo bem no hospital. Segundo a Igreja Católica, sua mulher fazia orações intensas para a madre Teresa de Calcutá. Andrino e sua mulher, Fernanda Nascimento Rocha, participaram da cerimônia no Vaticano e receberam benção do papa Francisco. O engenheiro se recuperou de forma lenta, mas impressionante, segundo Nasser. “Você sair de um coma por doença infecciosa em sistema nervoso demora bastante tempo, e o dele foi extremamente rápido. Hoje, ele é um cara que voltou às suas atividades, não tem sequelas cognitivas, tem algumas alterações neurológicas discretas por conta da localização dessas lesões, que hoje são só cicatrizes.” Segundo Nasser, mesmo após a melhora do paciente, o médico que o atendia continuou com o tratamento usual, o que é considerado “muito importante” para o reconhecimento do milagre. O neurocirurgião afirma que todo o processo está bem documentado. “Todos os exames foram feitos em locais de excelência, para que não houvesse margem de dúvida.” Ele conta que enviou o relatório ao Vaticano, onde foi analisado por um comitê que conta também com médicos não religiosos. “Foi muito laborioso, você precisa se certificar de uma série de coisas.” O neurologista italiano Carlo Jovine, que participou do comitê do Vaticano, disse à época do reconhecimento do milagre que não há precedentes para o caso. “Se um só abcesso cerebral se pode recuperar, mas com oito abcessos e um quadro de hidrocefalia aguda, a porcentagem de óbitos é praticamente 100%.” Segundo o neurologista, “é necessário concluir que estamos diante de um evento cientificamente inexplicável, que sucedeu de forma decisiva, instantânea, duradoura e total. E isso para a Igreja é o equivalente a um milagre”.