RUBENS VALENTE, SEVERINO MOTTA E GABRIEL MASCARENHAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse achar “um pouco estranho” que a presidente Dilma Rousseff não tenha sabido do esquema de desvio de recursos da Petrobras por ela ter presidido o Conselho de Administração da companhia de 2003 a 2010, mas afirmou não saber dizer se ela tinha ou não conhecimento.
Costa afirmou que nunca discutiu o que se passava na Petrobras nem com Dilma nem com o ex-coordenador da sua campanha em 2010, o ex-ministro Antonio Palocci, mas reafirmou ter sido procurado pelo doleiro Alberto Youssef atrás de R$ 2 milhões para contribuir com a campanha eleitoral de Dilma em 2010.
Segundo Costa, o pleito partiu de Palocci –em outro depoimento, por outro lado, em contradição com Costa, Youssef negou ter feito esse pedido.
As afirmações de Costa aparecem em vídeo gravado pela PGR (Procuradoria Geral da República) por ordem do STF em 11 de fevereiro passado na Procuradoria da República no Rio de Janeiro.
O ex-diretor foi diretamente indagado pelos procuradores da República se Dilma tinha ou não conhecimento do esquema na Petrobras. O ex-diretor respondeu que não sabia dizer e que nunca discutiu o assunto com ela.
“Nem com o Palocci. Nenhum dos três eu tive conversa sobre esse tema. Agora, de 2003 a 2010, [Dilma ter sido] presidente do Conselho e não saber de nada, é um pouco estranho, mas eu não tive essa conversa nem com ele nem com ela nem com o Palocci.”
Costa detalhou como recebeu o pedido de Youssef.
“Nesse caso específico, o Youssef me trouxe, numa reunião que eu tive com ele, falou: ‘Paulo, ó, ministro Palocci tá pedindo aqui uma contribuição para a campanha da Dilma Rousseff agora em 2010 de 2 milhões [de reais]. Podemos dar?’ [Costa respondeu] ‘Pode. Pode dar’. Então eu autorizei o Youssef a fazer. Mas quem me trouxe esse assunto foi Youssef e quem operacionalizou foi Youssef. Eu não tive nenhum contato nem com o Palocci e muito menos com a Dilma sobre esse fato. Isso aí veio tudo através do Youssef.”
No trecho do vídeo em que fala sobre a campanha de Dilma, Costa prestou o seguinte depoimento aos procuradores da República:
Procurador: No termo de colaboração 16, o senhor mencionou um repasse para a campanha de 2010 para a Presidência da República. Teria sido uma solicitação do Antonio Palocci feita ao Youssef.
Costa: Isto.
Procurador: Dois milhões de reais.
Costa: Correto.
Procurador: Como é que ocorreu exatamente essa situação aí?
Costa: Alguns fatos, como esse aí específico, as pessoas falavam direto com o Youssef. Outros fatos, as pessoas falaram comigo. Então por exemplo, ministro Lobão [PMDB], falou comigo. O pessoal aqui do governo do Rio, falou comigo. Não tem nada a ver com Youssef. O senador Sérgio Guerra [PSDB], falecido, falou comigo. Então algumas coisas falaram direto comigo, outras com Youssef. Nesse caso específico, o Youssef me trouxe, numa reunião que eu tive com ele, falou: ‘Paulo, ó, ministro Palocci tá pedindo aqui uma contribuição para a campanha da Dilma Rousseff agora em 2010 de 2 milhões [de reais]. Podemos dar?’ [Costa respondeu] ‘Pode. Pode dar’. Então eu autorizei o Youssef a fazer. Mas quem me trouxe esse assunto foi Youssef e quem operacionalizou foi Youssef. Eu não tive nenhum contato nem com o Palocci e muito menos com a Dilma sobre esse fato. Isso aí veio tudo através do Youssef.
Procurador: O Youssef que falou com o senhor?
Costa: O Youssef falou comigo que o Palocci… Não tenho certeza agora se foi o Palocci que falou direto com ele ou através de um interlocutor, não posso te confirmar isso, mas que tinha esse pleito do ex-ministro Palocci pra atender a campanha da dona Dilma Rousseff em 2010. [Youssef perguntou:] ‘Paulo, pode fazer?’ Eu falei, ‘faça’.
Procurador: O senhor não perguntou detalhes para ele não?
Costa: Não, não.
Procurador: Foi o Palocci diretamente, foi um assessor?
Costa: A gente não entrava muito nesse detalhe. Ele chegava com o pleito, fazia ou não fazia, mas não entrava em detalhe, quem fez, como foi, tal, não sei.
Procurador: As pessoas sabiam que o Youssef trabalhava com o senhor?
Costa: Sab… Notório. Como sabiam que o Vaccari trabalhava com o Duque, como sabiam que o Fernando Baiano trabalhava com o Nestor. Isso aí todo mundo sabia.
Procurador: O senhor sabe como foi feito esse pagamento, se foi dinheiro em espécie, doação de campanha, pagamento de despesa?
Costa: Não, não sei. Porque isso o Youssef não me falava nem eu perguntava para ele.
Procurador: Essa reunião que o senhor teve com Youssef, ocorreu onde?
Costa: Possivelmente em São Paulo.
Procurador: Era no escritório dele?
Costa: Possivelmente. Mas não posso te dar certeza porque não tenho como confirmar. Deve ter sido em São Paulo, ou no escritório ou nem hotel, não sei te dizer. […] Dois milhões
Procurador: Quando o senhor estava falando dos aspectos gerais da situação, o senhor falou que a Dilma Rousseff era presidente do Conselho de Administração da Petrobras, era ministra de Minas e Energia, ela tinha algum conhecimento do que se passava lá.
Costa: Não sei, não sei, não posso te dizer.
Procurador: O senhor nunca teve alguma conversa com ela sobre isso?
Costa: Não. Nem com ela nem com o presidente Lula, nunca tive. Agora, se ela sabia ou não sabia, não sei te dizer.
Procurador: Nem com o Palocci.
Costa: Nem com o Palocci. Nenhum dos três eu tive conversa sobre esse tema. Agora, de 2003 a 2010, [Dilma ter sido] presidente do Conselho e não saber de nada, é um pouco estranho, mas eu não tive essa conversa nem com ele nem com ela nem com o Palocci.
Procurador: Nem de ouvir dizer?
Costa: Não, de minha parte não. Não.