A semana que passou estive em Nova York na qualidade de Observador Parlamentar da 61a Assembléia-Geral Das Nações Unidas. O vasto leque de problemas tratados no âmbito da assembléia — principal órgão deliberativo da Organização das Nações Unidas (ONU) ¿ exibe o mundo com as cortinas escancaradas. Em razão da sua diversificada pauta e de uma ordem do dia que vai de A a Z, somos informados sobre o advento de crises que certamente passariam desapercebidas se estivéssemos vivenciando o cotidiano do Parlamento. O retrocesso institucional e democrático infelizmente ainda persiste em regiões longínquas. No Brasil, é pouco provável que tenha sido sequer notado o golpe de Estado nas remotas Ilhas Fiji, no sul da Oceania, uma terra etérea e deslocada de nosso contexto histórico.  A Organização não se omite sobre qualquer aberração ocorrida no planeta. O próprio porta-voz do Secretário-Geral da ONU, Stephane Dujarric, em nome de Kofi Annan, clamou pelo retorno imediato da democracia em Fiji. Uma demonstração de que aquele organismo internacional representa uma sentinela a postos em defesa das liberdades individuais. Éinegável que a ONU necessita de ajustes e reformulações. Contudo, o seu papel mediador e os alertas constantes que emite são cada vez mais necessários diante de tantas desigualdades e resquícios autoritários. No quesito desigualdades foi divulgado detalhado estudo da Universidade das Nações Unidas apontando que a riqueza mundial está concentrada nas mãos de muito poucos. Os dados não são animadores: 1% das pessoas mais ricas do planeta possui 40% da riqueza global, enquanto a metade mais pobre é detentora de apenas 1%.  O referido estudo foi o primeiro no gênero a incluir a totalidade dos países e os principais componentes da riqueza de cada nação de per si, considerando indicadores tais como ativos e passivos financeiros, terras, edificações e outras propriedades tangíveis.
Com base no relatório Panorama Social da América Latina 2006, existem sinais de diminuição da pobreza no continente nos últimos quatro anos. Segundo o economista da Cepal no Brasil, Carlos Mussi, aproximadamente 40% dos latino — americanos ainda vivem num patamar de pobreza. Os índices de desigualdade social apresentam melhoras no Brasil, El Salvador, Paraguai e Peru. O dado revelado no tocante ao crescimento das mulheres no mercado de trabalho e, em particular, nos postos de liderança financeira na família, nos obrigam a repensar as políticas sociais de apoio. É preciso considerar o núcleo familiar levando em conta a mulher trabalhando para assegurar o sustento da prole. Em suma, devem ser aperfeiçoados os mecanismos que contribuam no sentido da geração de renda para o lar, considerando esse fenômeno. O contraponto às desigualdades e à miséria é uma tarefa que envolve governo e sociedade organizada. Na ONU, a comemoração em torno do Dia Internacional do Voluntário mostrou que a solidariedade humana contrasta com a omissão de tantos governantes. Retornei ainda mais convicto de que o Brasil precisa urgentemente retomar o crescimento econômico, com eqüidade social e respeito às garantias individuais.


 


Alvaro Dias, líder da Oposição e vice-presidente nacional do PSDB