PATRÍCIA CAMPOS MELLO, ENVIADA ESPECIAL*
TEERÃ, IRÃ (FOLHAPRESS) – Mesmo após o acordo nuclear de 2015, que eliminou algumas das sanções impostas contra o Irã, o comércio do Brasil com o país persa não teve maior impulso, pois os bancos brasileiros resistem a conceder financiamento para exportação, diz o embaixador do Brasil no Irã, Rodrigo de Azeredo Santos.
De acordo com Santos, o governo quer lançar até o final deste ano um pacote de financiamento para aumentar as exportações e importações brasileiras para o Irã.
O Irã hoje é o maior mercado para o Brasil no Oriente Médio, superando a Arábia Saudita. O Brasil exporta para lá produtos básicos como milho, soja e carnes, mas também autopeças e equipamento hospitalar.
Já o Irã exporta muito pouco para o Brasil: ureia, produtos siderúrgicos, pistache e tapetes, principalmente.
Segundo o embaixador, as exportações brasileiras não crescem porque praticamente as únicas opções disponíveis para financiá-las são as vendas à vista ou, no caso das commodities, as “tradings”.
O acordo de 2015 suspendeu as sanções financeiras, e os bancos puderam voltar a negociar com o Irã, desde que os pagamentos não passem pelo sistema dos EUA.
Mas os grandes bancos brasileiros usam linhas de crédito de instituições americanas para financiar o comércio exterior, e estas vetam o uso dos recursos em países sob sanções. Logo, diz Santos, os bancos brasileiros evitam o financiamento temendo a perda de acesso às linhas americanas.
Já os bancos europeus aproveitaram o fim de sanções e voltaram a financiar comércio exterior com o Irã.
Santos diz que o governo brasileiro negocia oferecer seguro de crédito de exportação e financiamento de médio e longo prazo para incentivar bancos brasileiros a fazerem negócios com o Irã.
“Achamos que bancos pequenos e médios podem se interessar, já que irá mitigar o risco comercial, de calote.”
Se os EUA retomarem as sanções sobre o sistema bancário, o plano atrasará.

*A jornalista Patrícia Campos Mello viajou a convite do governo do Irã