ESTRASBURGO, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A tranquilidade com que Fabienne Loeb, gerente de um hotel no centro de Estrasburgo, falava ao telefone sobre o ataque a tiros que, na noite anterior, matara três pessoas e ferira 12 espelhava só em parte o clima observado na cidade francesa na manhã desta quarta-feira (12).

“Mamãe, não se preocupe. A vida está voltando ao normal. [silêncio] Não, ele não está escondido na minha casa.”

Símbolo da reconciliação franco-alemã, célebre por sua catedral e por um mercado de Natal que beira as 500 edições, a localidade amanheceu disposta a exibir resiliência.

Mas já sentindo também os primeiros efeitos práticos do choque causado pela invasão por um homem armado de um perímetro em que circulam 2 milhões de pessoas na temporada de festas. Até a conclusão desta edição, o suspeito não havia sido capturado.

Flores, velas e bilhetes com dizeres como “todos unidos contra a barbárie” se acumulavam em praças e locais nos quais o atirador fez vítimas.

Já hotéis se viam às voltas com dezenas de cancelamentos de reservas e de encurtamentos de estadas. “Cinquenta pessoas, na maioria estrangeiras, disseram que não vêm ou que desejam ir embora”, lamentava o gerente de um estabelecimento quatro estrelas situado na rua da principal estação de trem.

Nas ruas, que a essa altura do ano deveriam estar apinhadas, havia muito mais policiais e jornalistas do que pessoas com vinho quente e sacolas de compras nas mãos.

O mercado, que em cinco semanas movimenta cerca de € 250 milhões (R$ 1 bilhão), estava fechado nesta quarta, assim como muitas lojas e alguns restaurantes do centro histórico. Idem para museus e outras instituições culturais.

“Dei abrigo a umas dez pessoas na hora do ataque”, contou o gerente de uma iogurteria a 50 metros de um dos pontos em que Chérif Chekatt, 29, atacou transeuntes.

“Ficamos escondidos no corredor, com a porta fechada e a luz apagada, durante cinco horas. Mas não podemos nos abater diante de coisas assim. É preciso mostrar que não somos selvagens, que vamos ganhar”, prosseguiu ele, que não quis se identificar.

Perto dali, o aposentado Jean-Pierre Haus adotava discurso semelhante enquanto buscava presentes natalinos para a família. “Não vou mudar meus hábitos mesmo percebendo que estou cercado de gente que pode cometer atos de loucura dessa natureza.”

A grande pergunta na cidade era sobre como um homem armado teria conseguido acessar uma zona monitorada por mais de 500 agentes, entre contingentes da Polícia Nacional e da guarda municipal, além de seguranças particulares, e na qual todo mundo é revistado à entrada.

Em suma, um dispositivo robusto para desestimular planos de atentado como os descobertos em 2000 e 2016.

A Procuradoria da República em Paris informou que Chérif Chekatt tem 27 condenações em três países diferentes, já foi preso mais de uma vez e é monitorado há quase três anos pelos serviços de inteligência franceses por radicalização religiosa.

Nenhuma organização reivindicou a autoria do ataque, mas uma investigação preliminar foi aberta para apurar associação criminal terrorista.

Na terça pela manhã, agentes tinham estado na casa de Chérif, na própria Estrasburgo, para uma operação de busca e apreensão ligada a um caso de assalto com tentativa de homicídio e para conduzi-lo para depor. Ele não estava no local, onde foram achadas granadas e outras armas.

Quatro conhecidos do suspeito foram presos horas depois do ataque.