O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai trazer, pela primeira vez, no censo de contagem da população informações sobre o sexo do cônjuge. Será possível porque a opção “cônjuge/companheiro do mesmo sexo” foi incluída como possibilidade de resposta para a pergunta sobre a relação do entrevistado com o responsável pelo domicílio.

A opção foi elogiad apelas organizações de defesa dos direitos de gays,lésbicas, bissexuais e travestis (GLBT). “O censo vai mostrar para a sociedade que os homossexuais existem, estão em todos os estados e em todas as classes sociais”, avalia o antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia (GGB). “Espero que os homossexuais não tenham vergonha de dizer aquilo que não é crime, nem doença, nem pecado. É uma forma diferente de amar e de viver sua sexualidade”, definiu.

Mott afirmou que o GGB já vinha pedindo essa inclusão desde o ano 2000. De acordo com o antropólogo, na última consulta população realizada pelo IBGE, muitos homossexuais pediram que fosse incluído em suas respostas o fato de viverem com companheiros do mesmo sexo. Para ele, o recenseamento irá demonstrar que a população brasileira é composta por um grande percentual de homossexuais, colaborando para a diminuição do preconceito.

Mas para o coordenador técnico do censo doIBGE, Marco Antônio Alexandre, a mudança não foi feita com o objetivo de revelar o percentual homossexual da população brasileira. Segundo ele, a forma como a pesquisa era feita, apenas com a opção cônjuge, deixava dúvidas sobre possíveis erros dos recenseadores no momento de assinalar o sexo do entrevistado. “A contagem da população não vai fazer perguntas sobre a opção sexual do entrevistado. Estamos fazendo a melhoria na estrutura de um quesito para obter informações de maior qualidade”, explicou.

Marco Antônio acrescentou que será preciso cautela para avaliar os dados. De acordo com ele, o censo será feito apenas em municípios com população inferior a 170 mil habitantes, que juntos representam pouco mais da metade da população brasileira.

Ainda segundo ocoordenador, a metodologia da pesquisa, que considera relaçõe sdomiciliares, só permitirá que sejam contados os casais que residem em um mesmo domicílio.

Essa preocupação com a fidelidade dos resultados é compartilhada por um dos fundadores do Grupo Atobá – Movimento de Emancipação Homossexual, Paulo César Fernandes. Ele ressaltou que não morar com o parceiro é um comportamento usual entre a comunidade GLBT.

Paulo César teme também que apopulação homossexual seja subestimada devido ao grande número de gays e lésbicas que, por medo da exposição, não vão declarar sua opção sexual no censo. Mesmo assim, o ativista considerou a mudança no questionário um avanço na luta contra o preconceito. “É positivo porque isso está sendo falado. O silêncio é a pior coisa: é quase como uma morte civil, como se aquilo não existisse”, destacou Paulo Cesar.