Sobreviventes do bombardeio atômico de Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial, discordaram de um acordo de “parque irmãos” que liga o Parque da Paz da cidade a um memorial em Pearl Harbor. As informações são do jornal The Guardian e da Associated Press.

O acordo foi assinado nesta semana pelo embaixador dos EUA no Japão, Rahm Emanuel, e pelo prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, com o objetivo de promover a paz e a amizade entre os antigos inimigos da guerra.

“A esperança aqui é que inspiremos pessoas de todos os Estados Unidos e de todo o Japão a visitarem o Memorial da Paz de Hiroshima e Pearl Harbor, para que possam aprender o espírito da reconciliação”, afirmou Emanuel na cerimônia de assinatura do acordo.

Ambos os parques proporcionarão intercâmbios e partilharam as próprias experiências de reestruturação dos locais afetados pela guerra, além de outras atividades voltadas à educação e ao turismo.

No entanto, os sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki condenaram o acordo como inadequado. Segundo eles, o ataque a Pearl Harbor atingiu uma base naval, e o bombardeio de Hiroshima matou indiscriminadamente um grande número de civis, aponta a reportagem.

Haruko Moritaki, uma vítima da bomba atômica e conselheira da Associação de Hiroshima para a Abolição das Armas Nucleares, disse que o acordo era um “insulto” aos sobreviventes. “Os contextos históricos dos dois parques serão sempre diferentes”, disse ela ao jornal Chugoku Shimbun.

Vários grupos escreveram para o governo de Hiroshima pedindo a Matsui que não assinasse o acordo e que os dois ataques “não são algo que devemos perdoar um ao outro”, de acordo com o jornal Nikkei Asia. “Eles são lições históricas para aprendermos e nunca repetirmos”.

Kunihiko Sakuma, presidente da Confederação Prefeitural de Organizações de Sobreviventes do Bombardeio Atômico de Hiroshima, disse que o bombardeio atômico de Hiroshima foi desnecessário, segundo o jornal. “Estava claro que o Japão iria perder. A menos que essa questão fundamental seja abordada, não podemos apenas focar no futuro”.

No ataque surpresa do Japão a Pearl Harbor, em 1941, mais de 2,3 mil militares americanos foram mortos. Já no bombardeio de Hiroshima, aproximadamente

80 mil pessoas morreram em 6 de agosto de 1945. No final daquele ano, o número de mortos chegou a 140 mil. Outras 70 mil pessoas morreram em Nagasaki em 9 de agosto, seis dias antes do Japão se render.

Emanuel disse que estava ciente das objeções e que entende a angústia, mas que as pessoas não podem ficar presas a isso. Segundo ele, a reconciliação entre EUA e Japão é um exemplo que o mundo precisa muito neste momento.

De acordo com o The Guardian, os dois locais têm sido associados à reconciliação desde que Barack Obama se tornou o primeiro presidente americano em exercício a visitar Hiroshima, em maio de 2016. O então primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, fez uma visita a Pearl Harbor no mesmo ano, em dezembro.