Alexandre Silva/TV Brasil

A leishmaniose é uma doença que, todos os anos, afeta mais de 600 mil pessoas em todo o mundo. No Brasil, em 2018, quase 20 mil pessoas foram diagnosticadas com esta enfermidade. A equipe do Caminhos da Reportagem da TV Brasil viajou até os estados da Bahia e do Maranhão para ouvir as histórias de quem convive com a doença.

Causada por mais de 20 espécies de leishmania, um protozoário, ela é transmitida pela picada de diferentes espécies de insetos vetores. O principal deles, no Brasil, é o mosquito-palha. Existem dois tipos de leishmaniose: a tegumentar ou cutânea, que se manifesta na pele, e a visceral, mais conhecida como calazar, que afeta órgãos internos. A doença não é contagiosa.

A zona rural de Corte de Pedra, no interior da Bahia, é considerada uma região endêmica quando o assunto é a leishmaniose cutânea. Jonas de Jesus e sua esposa, Tatiele de Jesus Oliveira, conviveram de perto com a doença. Em Jonas, os primeiros sinais se manifestaram há mais de dez anos – uma ferida na testa, que ele acreditava ser uma espinha. Depois disso, mais de duas mil lesões tomaram todo seu corpo. “Sentia febre alta, doía muito mesmo. Não sentia muita fome, comia bem pouco, emagreci mesmo”, ele conta.

O tratamento da leishmaniose cutânea é feito por injeções, o que, para o dermatologista da Universidade Federal da Bahia Paulo Roberto Lima Machado, representa um problema. “É uma doença que atinge pessoas que vivem em áreas rurais, em áreas de florestas, longe de centros urbanos. Essas pessoas têm que se deslocar diariamente durante 20, 30 dias para tomar essas injeções, que têm inúmeros efeitos colaterais”. Jonas, por exemplo, conta que já interrompeu o tratamento algumas vezes, por falta de condições econômicas de ir até o hospital.

Na mesma região, Vadalberto Oliveira convive com a leishmaniose ainda ativa e faz tratamento para cicatrizar as marcas da doença em seu nariz. Quando recebeu o diagnóstico também descobriu que era soropositivo. A baixa imunidade agravou o seu estado de saúde.

Leishmaniose visceral
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Vanessa Veloso tem leishmaniose visceral e vai ao hospital a cada 15 dias – Alexandre Silva/TV Brasil
Ao contrário da leishmaniose cutânea, na leishmaniose visceral os sintomas são internos, como a barriga inchada, febre e perda de peso. O ciclo de transmissão desse tipo da doença também é diferente. Enquanto no tipo tegumentar ou cutâneo o mosquito pica a pessoa, no visceral o mosquito pica um hospedeiro infectado, geralmente o cachorro, e depois pica o ser humano.

A médica infectologista Conceição de Maria Pedrozo, da Universidade Federal do Maranhão, afirma que o Maranhão inteiro tem leishmaniose e com histórico de começar em áreas de desmatamento. “E se juntou a isso o aparecimento do HIV. Então o HIV desceu para os locais de menor suporte, interiorizou e se encontrou com a leishmaniose visceral. Hoje a gente tem duas doenças juntas formando um verdadeiro cenário de comorbidades bastante importantes no nosso cenário de doenças”, completa.

Moradora da periferia de São Luis, a dona de casa Vanessa Veloso começou a sentir dores de cabeça e enjoo. “Tudo que eu comia fazia mal, vomitava. Passava mal, tinha febre todas as noites, madrugada eu sentia febre. Inchou o abdômen e várias vezes eu vomitava sangue também”, ela lembra. Ela demorou seis meses para procurar ajuda médica. Ficou internada e hoje vai ao hospital a cada quinze dias. O tratamento da leishmaniose visceral também é feito por via venosa e o paciente precisa ficar sob supervisão médica.

Hoje, Vanessa recomenda a quem está se sentindo mal com sintomas da leishmaniose visceral que vá ao médico o quanto antes. “Eu demorei. Demorei bastante e, se eu tivesse demorado mais um pouquinho, eu não estaria aqui contando essa história”.