Em seu terceiro dia de julgamento, Lindemberg Alvez, acusado de matar Eloá Pimentel, admitiu pela primeira vez, nesta quinta-feira, ter atirado na garota dentro do apartamento dela em Santo André, no ABC, em 2008. Esta é a primeira vez que Lindemberg fala sobre o crime desde que foi preso, em outubro de 2008.

“Estávamos conversando os três no sofá. Infelizmente aconteceram algumas reações. A polícia estourou a porta e eu tomei um susto. Ela ameaçou um movimento e eu infelizmente atirei”, disse. “Pensei que ela pudesse vir para cima de mim. Eu vi o movimento e atirei. Foi tudo muito rápido.”

O acusado disse que se sentiu “traído” pela polícia. “Tiraram o contato com a minha irmã e começaram a tirar as pessoas do local. Foi uma quebra de confiança. Eu fiquei na dúvida com a polícia.”

Logo no início do julgamento, ele pediu perdão à mãe da vítima, Ana Cristina Pimentel. Lindemberg começou a ser ouvido pouco depois das 14h, no Fórum de Santo André, no ABC. O julgamento do caso Eloá entrou em seu terceiro dia nesta quarta.

“Quero pedir perdão para a mãe dela em público, pois eu entendo a sua dor”, disse o réu. “Estou aqui para falar a verdade, afinal, tenho uma dívida muito grande com a família dela.”

De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, a juíza Milena Dias leu a denúncia para o réu e iniciou as perguntas. Segundo o acusado, ele e Eloá mantiveram relacionamento amoroso por dois anos e três meses, a partir de julho de 2006. “Eu era muito amigo da família”, disse.

Durante o relacionamento, o casal rompeu quatro vezes, a última delas na primeira semana de setembro. O motivo, segundo ele, era ciúme de ambas as partes. Neste momento, a mãe de Eloá fez sinal contrário com a cabeça, negativamente.

Ao ser questionado se a relação era conturbada, Lindemberg respondeu: A gente se separava, mas se reconciliava. O réu garantiu que, dias antes do seqüestro, havia reatado o namoro com Eloá.

Ele contou que Eloá o viu com Letícia, uma garota que ele conheceu no samba e se relacionou por dois dias. O fato rendeu uma conversa com a ex-namorada. Eloá chorou e teve uma recaída, afirmou Lindemberg. Isso ocorreu cinco ou seis dias antes do início do seqüestro. Segundo Lindemberg, o relacionamento pouco significou porque amava Eloá.

Lindemberg contou que frequentava normalmente a casa de Eloá pelo contato que tinha com a família, especialmente com a mãe e o irmão Douglas. No relacionamento, Eloá reclamava de falta de atenção, segundo Lindemberg. Isso porque ele gostava de jogar bola três vezes por semana e não estava ao lado dela em momentos de crises familiares. A gente sabe que mulher tem crises.

O réu afirmou que havia recebido ameaças de morte por de um número de telefone desconhecido e de outro que não atendia quando ele retornou a ligação. Por isso, segundo ele, comprou uma arma de um “senhor” que precisava voltar para sua terra natal. o réu afirmou não recordar o nome dele. Disse apenas que o homem tinha oferecido uma bicicleta e uma arma. A compra ocorreu 20 dias antes do sequestro, quando, segundo ele, estava separado de Eloá. Por conta das ameaças, ele disse ter ido ao apartamento armado. Eu tinha mais medo de morrer do que andar com arma ou responder por porte (ilegal) de arma.

No dia 13 de outubro o réu contou que foi a casa de Eloá e que lá encontrou Victor, Nayara e Iago. Eu conhecia o Iago e a Nayara, mas o Vitor eu não conhecia, disse. Eloá se assustou com ele por ele não ter ido trabalhar. Questionou, então, a garota sobre o porquê daquela reunião e afirmou que ela sempre o informava sobre trabalhos da escola e que havia uma relação de confiança.

Os dois foram conversar na cozinha, e Eloá lhe disse que não davam mais certo. Lindemberg foi atrás de Victor então e o pressionou para que contasse se havia ficado com Eloá. Segundo o réu, ele admitiu que havia dados uns beijos nela. Ainda de acordo com Lindemberg, Victor beijou Eloá porque não sabia que ela havia reatado com o motoboy. Quis saber por que Eloá contou aquela mentira. A garota começou a gritar, segundo ele, o que o fez sacar a arma da cintura. Ela gritava alto e fazia barraco, disse Lindemberg, que teve de repetir o gesto simulando tirar a arma da cintura no Fórum de Santo André nesta quarta, a pedido da juíza.

A mãe de Eloá decidiu sair do plenário às 15h08. Ela retornou às 15h12, não concordando com o que estava sendo dito.Puxei da cintura e mostrei para ela parar de gritar. E depois coloquei na cintura, prosseguiu Lindemberg. Ele contou que pediu para os outros três descerem, e eles não quiseram. “Eles não saíram da casa por medo de que eu e Eloá ficássemos sozinhos. Eles temiam uma atitude extrema.”

Ele disse que todos ouviam música e conversavam no apartamento e que em alguns momentos levavam a situação como se fosse uma “brincadeira”.

A juíza disse seguidas vezes que não estava entendendo o relato de Lindemberg, e pedia para ele ser mais claro. Lindemberg relatou que falou pela janela com o pai de Eloá, e que disse que resolvia um problema com a adolescente. Em seguida, chegou a polícia. Eu estava num processo de como contornar essa situação, eu estava perdido.

Ele disse que durante o cárcere fez apenas um disparo, e no computador. Segundo ele, Victor passou mal e quis descer. O Victor ficou até onde ele aguentou, disse.

Após o interrogatório, serão feitos os debates entre a acusação e a defesa, com direito a réplica e tréplica. Os jurados, então, se reúnem para decidir pela absolvição ou condenação. Passado esse ponto, a juíza Milena Dias vai ler a sentença e definir a pena dada ao réu.