Ao desconfiar que a filha de dez anos havia contraído dengue, Luiz Guimarães, que mora na Barra Funda (zona oeste), levou a criança a um posto de saúde no próprio bairro. A suspeita se confirmou e o caso foi notificado no local, mas ele acredita que ela tenha sido picada pelo Aedes aegypti bem longe dali. ‘Suspeitamos que tenha sido em Guarulhos, onde ela estuda, porque várias outras crianças da escola foram infectadas.‘ Luiz sabe que a suspeita do local de contaminação é apenas uma suposição.

Como a picada desse inseto não costuma provocar dor, coceira ou irritação instantânea, a maioria das vítimas não tem certeza do momento e local exato onde estavam. Especialistas na doença reconhecem a falta de precisão de mapas da dengue que contabilizam, por exemplo, o caso da filha de Luiz na Barra Funda e norteiam ações da prefeitura. A epidemiologista do Instituto Emílio Ribas, Ana Freitas, diz que é difícil garantir que o paciente tenha sido contaminado no mesmo bairro em que notificou seu caso, ainda mais em grandes regiões metropolitanas, como a de São Paulo. ‘Nesses locais há um descolamento intenso, então é normal que um morador tenha sido picado em um lugar e notifique longe dali, em outro bairro ou até em uma cidade vizinha.

Até por isso, é importante que as políticas de prevenção e combate à dengue sejam articuladas entre os municípios, com ações integradas‘, diz a epidemiologista. O infectologista da Faculdade de Medicina da USP, Esper Kallas, lembra de outro problema relacionado ao local de notificação da dengue: a distribuição desigual de unidades de saúde nas regiões da cidade. ‘Se a pessoa buscar atendimento na Bela Vista vai encontrar um monte de hospitais, mas em algumas regiões do extremo sul da cidade, por exemplo, terá que se deslocar quilômetros. Nesses lugares, muitos têm que ir até um bairro vizinho para acessar um posto de saúde e a amostragem já não é mais a mesma‘.

Os dois médicos lembram ainda que há uma taxa considerável de casos de dengue não notificados: como os sintomas são leves em muitos casos, parte dos pacientes não busca tratamento e se torna ‘invisível‘ ao sistema de saúde.

CRITÉRIOS DA PREFEITURA A Prefeitura de São Paulo afirma usar o conceito de LPI (Local de Provável Infecção) para definir o local de contágio de um paciente. Diz ainda que baseia suas ações em um formulário específico para pacientes com dengue que, além do local de residência, pede uma relação de deslocamentos recentes e a data dos primeiros sintomas. De janeiro até o dia 11 de abril, quase 63 mil casos foram notificados na capital paulista, dos quais mais de 20 mil já confirmados. Segundo a administração municipal, a pior situação ocorre na zona norte, que concentra 38,5% dos registros. Entre os bairros, as piores relações de casos por habitante estão na Brasilândia, Pari, Cidade Ademar, Jaraguá e Pirituba.