Até Hércules foi ao Al-Maghreb al-Aqsa, a terra do pôr  do sol, afirmam as lendas mitológicas da Grécia, para realizar o último de seus doze trabalhos.Foi quando pediu auxílio ao desafortunado Atlas, condenado a sofrer na região mais ocidental do norte da África o castigo por  uma rebelião contra Zeus. O irmão de Prometeu teve que suportar, para sempre nas costas, o peso do mundo e a abóbada do Céu.

Mas o povo  berbere, que está na região há mais de quatro mil anos, nem sabe da mitologia que  deu nome à cadeia de montanhas mais altas do norte da África. Um povo que, apesar de ter se convertido ao islamismo no final do século VII, nunca abandonou o espírito de liberdade e independência, resistindo sempre às inúmeras ondas de invasores: fenícios, romanos, vândalos, bizantinos, árabes, franceses.Um povo guerreiro, que originou duas dinastias: os almorávidas (século XI) e os almoádas ( século XII-XIII). E até portugueses, quando em 1415 as tropas de  D. João I conquistaram Ceuta, na expansão territorial. O povo berbere resistiu a todos. Uma prova: a cidade de Marrakesch, que originou o nome do país, foi fundada depois de uma rebelião que se alastrou pelo sul e centro do território, abrindo espaço para a primeira grande dinastia da história do Marrocos, a dos Almorávidas.

Durante o protetorado francês, que terminou com a independência em 1956, o país recebeu estradas, ferrovias e a modernização chegou para algumas cidades do litoral e Rabat, a nova capital. O Marrocos profundo, este continua existindo no interior, com povoados tão simples e rústicos como nos tempos bíblicos.

BRASILEIROS, OS PRÓXIMOS INVASORES
Bastou o anúncio do retorno da Royal Air Maroc ao Brasil, em princípio marcado para o dia 9 de dezembro, para surgir um pool de operadoras oferecendo roteiros na descoberta dos mercados medievais, dos kashbas berberes, dos sabores requintados e  aromas de temperos, dos sons dos tambores e castanholas ao raï eletrônico.

 Neve para quem gosta, praias para todos, deserto para aventureiros. E oásis. Imensos, para fazer esquecer o calor e mostrar o verde, como um milagre.

Um país onde as cores são fortes,  as influências estrangeiras existem, mas ficam esmaecidas perante a tradição de um povo que não se deixa dominar. Há fortalezas portuguesas, modernidades francesas, mas as experiências para o viajante são únicas e verdadeiras, na paisagem que muda constantemente, passando de bosques com cedros gigantes a picos nevados, de cidades  cosmopolitas e povoados junto às areias do deserto , onde não faltam as doces tâmaras dos oásis. País que, tão próximo da Europa, influenciou a Península Ibérica, marcando a alma andaluza.

CIDADES COLORIDAS
Marrakech é a vermelha; Fez el-Bali, a azul; Rabat, a branca, fica dentro de muralhas, enquanto a cidade moderna se estende junto ao Atlântico. Casablanca nem precisou de cor: bastou ter sido tema e nome do filme com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, um cult para sempre. Meknes é a verde,que Moulay Ismail (1672) procurou fazer a Versalhes do Marrocos e onde a praça de el-Hedim, no centro, abre para o portão  marroquino mais famoso do país, Bab el-Mansour.

Na costa atlântica ficam as cidades de pescadores, a parte industrial,  os balneários e duas cidades de influência portuguesa: El-Jadida, com um dos monumentos da arquitetura militar portuguesa mais bem conservados – Cité Portugaise –  e Essaouira, a antiga Mogador, que era frequentada por Bob Marley e Jimi Hendrix, sempre um paraiso para surfistas e aventureiros. As muralhas portuguesas que protegem a cidade velha do mar, foi pano de fundo para o filme Othelo, de Orson Welles, em 1949.

O HOTEL DAS CELEBRIDADES
Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt se hospedaram pelo chão de mármore do La Mamounia em 1943, quando se reuniram para a Conferência de Casablanca e se encantaram com o horizonte do Atlas e seus picos nevados, as muralhas que contornam a cidade. O mesmo encantamento que tiveram De Gaulle, Nelson Mandela, Caroline de Mônaco e artistas como Omar Sharif, Tom Cruise, Sharon Stone, Gwyneth Paltrow, Julio Iglesias, os Rolling Stones, Elton John.

Lá Alfred Hitchcock filmou O Homem que Sabia Demais, Marlene Dietrich foi protagonista de filme em 1930. Mas não é só o passado que faz história. O palácio transformado em hotel , passou por reformas durante 3 anos e reabriu, renovado, em fins de 2009, redecorado pelo francês  Jacques Garcia. São 136 quartos, 71 suites e 3 riads, com cozinha privativa e piscina particular, tudo dentro da exuberância e arte da arquitetura mourisca do hotel-palácio. Jardins, piscinas, tamareiras, laranjais e restaurantes, além do Pavillion de La Piscine, com salão de chá, e a confeitaria Le Menzeh, um oásis plantado no jardim. É só deixar o tempo escoar devagarinho, ouvindo os chamamentos dos imãs nas mesquitas ou o burburinho e agito da praça Jemaa El Fna, coisas do mundo real do Marrocos. Porque o hotel ainda é considerado um sonho.


Cleiton Feijó, diretor comercial Nascimento Turismo (camisa verde) e Sergio Velloso, diretor comercial da Treinamento, ambos de São Paulo, com os operadores em Curitiba José Carlos (Visual Turismo), Aroldo Schultz (Schultz), Terezinha Ferreira (Flot) e Dione Andrusko (New Age) que comercializam a partir de agora o Marrocos.

TURISMO É MOLA DA ECONOMIA
O Turismo é o mais importante setor da economia do Marrocos. Na indústria turística trabalham mais de 40% da população. Antes das crises mundiais recentes, o país recebia dois milhões de visitantes ao ano, deixando por lá receitas equivalentes ao montante total de divisas enviadas pela comunidade emigrante nos países da União Européia. A maioria dos turistas segue para as praias do sul, para Agadir ou as cidades históricas de Fez e Marrakech. O interior atrai aos aventureiros, nos caminhos que conduzem ao início do Sahara, as dunas junto da aldeia de Merzouga, próxima da fronteira com a Argélia.

CIDADE DO CINEMA
Ouarzazate foi uma cidade moderna fundada pelos franceses , onde a aridez que anuncia o grande deserto do Sahara vai conquistando o horizonte. É parte da Rota dos Kasbahs, uma estrada secundária que faz a ligação a Ait-Benhaddou, uma das povoações mais bem conservadas em toda a região, por causa do interesse despertado na indústria cinematográfica, a partir dos anos 60, quando David Lean filmou algumas cenas do épico Lawrence da Arábia. Foi no passado Aït Aïssa, depois Kahîna. A vocação de cenário cinematográfico continou tando a vida de Ait-Benhaddou como a de Ouarzazate e é tema preferido dos guias, que contam uma mistura de personagens de ficção com vida real, envolvendo Michael Douglas, James Bond, Jean Claude Van Damme, Django e Ringo, John Malkovitch. Pelos custos baixos na produção, continuam sendo a primeira escolha de produções americanas nos estúdios Atlas de Ouarzazate. Scorcese rodou ali cenas de A Última Tentação de Cristo e de Kundum e deixou por lá um enorme Buda, que foi cobiçado por um restaurante chinês. John Huston passou por lá , Bernardo Bertolucci filmou cenas de Um Chá no Deserto e as velhas muralhas  de Ait Benhaddou foram cenário de Sodoma e Gomorra, de Robert Aldrich e uma série de filmes de aventuras como O Diamante Negro.

ENCANTAMENTO PARA TODOS
Influências islâmicas e africanas nas mesquitas austeras, jardins exuberantes, palácios e mansões com interiores magníficos, fortificações no deserto, kashbahs, fortalezas portuguesas ao longo da costa, muralhas em torno de palácios, escolas corânicas (madraças), portões, medinas, souks. Madeiras preciosas entalhadas, azulejos coloridos em desenhos geométricos, telhados transformados em terraços (lajes). Ruas estreitas em labirintos por onde passam burros transportando cargas, bicicletas, gentes. E o aroma das laranjas, as tâmaras doces, o mel, a água de rosas,  e o indispensável chá de menta.

O tempero mais usado é o Ras el Hanout, uma combinação de noz moscada, gengibre,lavanda, cominho, pimenta, que está à venda em todos os herboristas. Azeitonas de todos os tamanhos, cores e temperos. E as conservas de limão. Nos souks,o mercado de Ali Babá, com cerâmicas coloridas ,jóias berberes em prata, velas e incensos de cheiro adocicado, peças e acessórios em couro, trabalhos em cobre, latão e madeira. Babuchas, djellabas, kaftans, essências para perfumes, maquilagem típica e henna para os cabelos e para os desenhos intrincados que enfeitam mãos, braços, pernas e até o rosto. Regatear é uma arte e uma obrigação, comprar artesanato uma necessidade. Espelhos trabalhados, tapetes feitos à mão, tudo o que é feito nas montanhas, vilas berberes, deserto ou praias de pescadores, e depois aparece em vitrines requintadas do Morocco chicde Casablanca, Marrakesch, Rabat. Um mundo a ser descoberto, novamente, pelos brasileiros. Um mundo de conservadorismo e liberalismo, tradição e modernidade. Você vai gostar.