DANTE FERRASOLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fim de “intensificar mobilizações” e “garantir unidade”, movimentos sociais lançarão na quinta-feira (8) uma frente que promete combater políticas de austeridade do governo federal, o “conservadorismo” e defender saídas à esquerda para a crise, como a taxação das grandes fortunas e uma auditoria da dívida pública.
Entre os 27 grupos que compõem a nova frente, chamada Frente Brasil Sem Medo, estão o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a UNE (União Nacional dos Estudantes), a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e Uneafro Brasil.
Segundo os organizadores, Frei Betto, André Singer, Jorge Sotto Maior, Vladmir Sfatle e Maria Rita Kehl apoiam o movimento.
Entre os políticos, alguns dos apoiadores são os deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ), Chico Alencar (PSOL-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP), Orlando Silva (PCdoB-SP), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o deputado estadual fluminense Marcelo Freixo (PSOL).
Apesar de criticar veementemente o ajuste fiscal implementado pela gestão Dilma Rousseff e afirmar que o governo não tem contemplado as demandas dos movimentos sociais, a frente não defende o impeachment da presidente.
“Nós entendemos que um impeachment para a entrada de Michel Temer ou para a chamada de novas eleições é uma saída à direita”, afirma Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST.
Boulos chama a política econômica atual de “inconsistente”, pois faz ajuste fiscal e, por outro lado, aumenta os juros, o que “onera mais o Tesouro para pagar os juros da dívida pública”.
Ele lembra que a frente defende a auditoria da dívida, a taxação das grandes fortunas e das remessas de lucros e dividendos.
“O ajuste tem que ser em cima de quem mais ganhou no período da bonança por meio de desoneração e subsídios do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento).”
“A alternativa é uma política ao lado dos trabalhadores, que coloca as riquezas e o Estado brasileiro ao lado dos trabalhadores”, complementa Douglas Belchior, da Uneafro Brasil.
Douglas Izzo, presidente da CUT paulista, lembra que a central apresentará em seu congresso, na semana que vem, uma proposta de política econômica alternativa à que vem sendo implementada pelo Planalto.
“Nós achamos que a saída não é o trabalhador pagar pela crise. Entendemos que aqueles do ‘andar de cima’ têm que pagar”, afirma o sindicalista.
Os membros da Povo sem Medo afirmam que sua criação não significa um rompimento com outra frente de esquerda, a Brasil Livre, que organizou protestos com pautas semelhantes no último sábado (3) -CUT e UNE, por exemplo, participam dos dois grupos.
“Há uma convergência entre as duas frentes: [ambas querem] a defesa do direito dos trabalhadores, são contra a política econômica recessiva que aplica juros altos e retira recursos sociais”, diz Izzo,
A diferença, afirma Izzo, é que a Povo sem Medo, diferentemente da Brasil Livre, não tem partidos políticos em sua composição -apesar de contar com apoio de parlamentares.
Para Rogério Nunes, da CTB, é possível que as duas frentes façam atos conjuntos no futuro, mas por ora ainda não há conversas neste sentido.
O novo grupo organiza uma mobilização para o dia 8 de novembro, que deve ter abrangência nacional.