O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) continua na busca dos motivos da queda simultânea das três linhas de transmissão da energia da Hidrelétrica de Itaipu, que causou o apagão da semana passada. Só se sabe que houve curto-circuito.

Segundo fontes ligadas ao órgão, a falta de informação tem colocado em xeque até mesmo a competência do operador. “O grande problema é que eles ainda não conseguiram decifrar todos os fatores que provocaram o blecaute”, afirmou a fonte.

Hoje, depois de reunião com mais de 80 técnicos do ONS, Grupo Eletrobrás e outras empresas do setor para produzir o relatório que será entregue à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o operador voltou a bater na tecla de que o apagão foi provocado por condições climáticas adversas, como um raio.

Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já havia dado a mesma justificativa para o blecaute, fato que foi contestado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo os especialistas, a baixa intensidade da descarga não seria capaz de provocar um desligamento como o que ocorreu.

Para o presidente da consultoria de energia PSR, Mario Veiga, é muito difícil especular sobre qualquer motivo que tenha provocado o apagão. Mas ele não descarta a possibilidade de um raio ter atingido a subestação. “É preciso deixar claro, no entanto, que não é qualquer raio nem qualquer vento que provoca um apagão da dimensão do ocorrido na semana passada.”

Além disso, explicam técnicos do setor, nenhum blecaute desse tipo ocorre por um único fator. Trata-se de uma conjunção de motivos. O ONS, no entanto, descarta algumas possibilidades, como a ação de algum hacker ou sabotagem. “Nenhuma ação humana seria capaz de derrubar as três linhas em espaços tão curtos de tempo”, afirmou um técnico.

Outra hipótese descartada é uma sobrecarga de energia nas linhas. O sistema já havia passado pelo horário de pico de maior consumo de energia e as tempestades que atingiram a região durante o dia estavam um pouco mais fracas. “Ou seja, o pior já tinha passado”, avaliou um especialista.

SEQUÊNCIA – Um documento da diretoria técnica de Itaipu sobre a operação da hidrelétrica, em 10 de novembro, dia do apagão, mostrou que o sistema de transmissão da energia da usina para o Brasil já havia apresentado problemas no período da tarde, quase 10 horas antes do blecaute.

Segundo o relatório, houve o desligamento automático, às 13h31, da linha de 765 kV Itaberá/Tijuco Preto 02, “supostamente causado por descarga atmosférica, sendo ligada às 13h56min após análise das proteções atuadas”.

A informação sobre o problema no sistema de transmissão consta no material encaminhado pela direção de Itaipu ao Ministério Público Federal (MPF) de Goiás, que abriu procedimento administrativo para apurar as causas e os responsáveis pelo apagão da semana passada.

A diretoria técnica da usina informou ao MPF-GO que, por recomendação do ONS, o “intercâmbio Itaipu/Eletrobrás (60 Hz) foi reduzido em até 1,4 mil MW médios” das 13h30min às 19h15min. Essa medida foi adotada por conta do registro de descargas atmosféricas ao longo do sistema de transmissão de 765 kV – medida adotada sempre pelo ONS em casos de tempestades.

Apesar das medidas operacionais preventivas, houve o desligamento de todas as linhas de transmissão que escoam a energia da usina ao Brasil e ao Paraguai às 22h13, provocando a perda total da geração de Itaipu. Segundo o ONS, os dois fatos não tem nenhuma ligação.