Pesquisadores brasileiros que estão na Estação Antártica Comandante Ferraz para as atividades científicas do verão 2007/2008 constataram novamente a redução da camada de ozônio.

O grupo, que enfrenta o inverno mais rigoroso na região nos últimos 20 anos, desenvolve projetos que fazem parte do quarto Ano Polar Internacional, como o estudo do buraco na camada de ozônio e de variações climáticas.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apesar de as conclusões finais saírem apenas em 2010, os resultados científicos começam a ser divulgados este ano.

“O Ano Polar está permitindo à comunidade científica participar de uma grande campanha observacional para desenvolver pesquisas nos ambientes ártico e antártico, aprofundando o conhecimento quanto à conexão dos pólos com outras latitudes, as mudanças climáticas e sua interação com o meio ambiente da Terra”, disse Neusa Paes Leme, pesquisadora do Inpe e coordenadora do projeto Atmosfera Antártica e suas conexões com a América do Sul, que estuda a camada de ozônio e a radiação ultravioleta.

Segundo a pesquisadora, em 2007 a redução da concentração do ozônio na camada foi 15% menor do que em 2006, quando foi registado um novo recorde em tamanho e destruição da camada de ozônio. A concentração do gás CFC, responsável pela destruição do ozônio, ainda é alta e os modelos indicam que a camada só estará normal em 2060, se comparada com a concentração de 1980.

A camada de ozônio é monitorada na Estação Antártica Comandante Ferraz no período de agosto a março, desde 2001, e em campanhas especiais em setembro e outubro, desde 1992. No período da ocorrência do buraco de ozônio, a concentração sobre a estação é reduzida em torno de 65% e a radiação ultravioleta pode aumentar em 500%, atingindo valores de regiões tropicais.

Além da pesquisa sobre a camada de ozônio, o Inpe também tem projetos ligados ao estudo da alta, média e baixa atmosfera, meteorologia, aquecimento global, gases do efeito estufa, radiação ultravioleta, relação sol-atmosfera (clima espacial), transporte de poluição e oceanografia.

Os pesquisadores estão elaborando em Ferraz três publicações com dados dos projetos para periódicos científicos. O projeto de meteorologia produziu um documento com informações sobre o clima da região com registros da temperatura no local desde 1986 e na baía do Almirantado desde 1949.

Durante esta temporada foram realizadas outras atividades, como instalação da antena GPS, manutenção do sistema de registros meteorológicos da torre de coleta de dados e instalação de uma nova câmera ligada à internet no módulo do projeto Geoespaço para monitorar simultaneamente a entrada da baía do Almirantado e os arredores da Estação Antártica Comandante Ferraz.

Foi testado o robô para levantamento fotográfico e obtenção de imagens de vídeo das formas de vida marinha encontradas no fundo da baía do Almirantado. Operado de forma remota, o robô, especialmente adaptado para executar missões de exploração nas águas geladas, realizou cinco mergulhos, atingindo 26 metros de profundidade.

Nas pesquisas envolvendo a fauna antártica – região onde se reproduzem cerca de 40 espécies de aves, sendo oito espécies de pingüins e as demais espécies são aves voadoras –, foi realizado o monitoramento do vírus da influenza aviária e o vírus da doença de Newcastle em pingüins da Ilha Rei Jorge, além do estudo das condições ambientais extremas da Antártica, como o frio intenso, que influenciam as características fisiológicas, reprodutivas e comportamentais das espécies que vivem ou se reproduzem nesse ambiente.

Segundo os pesquisadores, a primeira fase de atividades de vários projetos teve a rotina alterada em função da total ausência de água no sistema de abastecimento da Estação Ferraz, o que modificou alguns dos objetivos previstos, pois as medições que dependem desse recurso seriam impraticáveis ou corriam o risco de gerar dados inverídicos em relação ao padrão usual de Ferraz.