JE — O sr. era o líder do Atlético de 1949, que ganhou o apelido de Furacão. O que aquele time tinha de especial?
Nilo — O time do Furacão, como o de 1945, não era um extratime de futebol, mas tinha craques que marcaram época. É só verificar a trajetória do Caju e do Laio, dois goleiros internacionais. O Valdir, zagueiro que veio de Minas Gerais, o Wilson, o Sanguinetti, que jogou na seleção uruguaia. O ataque era Viana, Rui, Neno, Jackson e Cireno. Jogavam bola, faziam gol.

JE — Assim como o sr., eles tinham atividades paralelas ao futebol?
Nilo — Sim. O Viana era advogado do Estado. O único operário era o Rui. O Lilo era médico da saúde pública. O Jackson era advogado da Caixa Econômica. O Jofre Cabral Silva (ex-presidente do Atlético) foi que o encaminhou. O Cireno também era da Caixa.

JE — E as empresas liberavam os jogadores para treinar ou jogar?
Nilo — A gente tinha prestígio, não somente como jogador, mas como homem, socialmente. No meu caso, eu era do Banco do Estado do Paraná. Saía às 16 horas (para treinar), de Ônibus, e voltava às 18 horas, na escola Plácido e Silva (faculdade) para estudar. Quem me trazia? O Jofre Cabral e Silva, que era presidente do banco. Saía correndo do campo, enfiava a camisa, subia no carro do Jofre e ele em trazia na porta da Plácido e Silva , estudava até 23 horas e ia para casa. Quem faz isso com um João da Silva hoje?

JE — Seria possível comparar essa época com a de hoje?
Nilo — Não sei. Os jovens podem interpretar de maneira diferente. Era bem diferente, mas as nossas foram mais fáceis. Não foram épocas sem emprego. Foram épocas em que todos estavam trabalhando. 

JE — Houve mudanças em relação à torcida?
Nilo — Hoje vão mais mulheres, mais jovens e mais crianças (aos estádios). A família está apoiando o Atlético. Esse apoio da família está resultando no quadro associativo. O torcedor de hoje não é mais o antigo, que ia de gravata.

JE — O sr. viu praticamente todos os times do Atlético. Para o sr, fora o Furacão de 1949, há algum que seja marcante?
Nilo — Qual foi o último ano que foi campeão? O de 2001. Esse que tinha o Dagoberto (2004) era um time bom. Mas é difícil criticar ou padronizar depois de 1950 ou 1960. Só não quero falar daquilo que não sou. Se tivesse uma folha de jornal e fotografias de alguns jogadores, até podia analisar. Mas no escuro, assim…

JE — E os times ruins?
Nilo — Não tenho autoridade para falar sobre isso no Atlético. Na minha época, fiz aquilo que fiz. Cabe aos outros criticar e não criticar. O que verifico no Atlético é que tem pessoas que assumiram em outros tempos e são um fracasso administrativo. Não vou citar ninguém, porque não quero brigar com ninguém.