Em meio aos escombros na Praia do Bananal, na Ilha Grande, bombeiros continuavam neste domingo em busca de corpos e também recolhendo pertences das vítimas, dois dias depois do deslizamento de terra que soterrou sete casas e parte de uma pousada. Um álbum de fotografias com capa do Urso Pooh tinha fotos guardadas por uma das sobreviventes, Lívia de Brito Pereira, 28. Ela aparece ao lado de parentes, muitos deles mortos na tragédia. Ferida com uma perfuração no pulmão, Lívia está bem, segundo a prima Elizabeth, e seria transferida de Angra para um hospital do Rio.


Dentro do álbum, um poema de Lívia, cujo título é ‘Longanimidade (Perseverança)’ se destacava: “É acreditar sempre. Nunca desanimar. É a força de perseguir. Até alcançar. Das pessoas busca. O melhor encontrar. E a vida orienta. Para ao alvo chegar ” Lívia também guardava no álbum uma carta da avó, que morrera havia dois anos.


Misturados com terra e lama, havia ali roupas de bebê sujas, livros didáticos retorcidos, uma torradeira, meio fogão e muitas outras lembranças das vidas dessas pessoas que morreram na madrugada do dia 1º. Para não deixar esquecer que a cena na enseada é trágica, urubus sobrevoavam hoje a região.


Para auxiliar nas buscas e tentar localizar vítimas, três mergulhadores ocuparam hoje uma faixa de 150 metros da orla soterrada pelo deslizamento do dia 1º. Subiu para 29 o número de corpos resgatados na Ilha Grande – o de Gabriela de Brito Pereira, de 13 anos, moradora da região, foi encontrado pela manhã sob uma imensa pedra.


Segundo o governo do Estado, havia notificações do desaparecimento de mais três pessoas que passaram o réveillon na região – duas turistas de São Paulo e uma moradora da ilha. “Não quer dizer que não tenha mais gente cujo desaparecimento não foi notificado por parentes”, disse o secretário de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Cortes.


Dos 29 corpos, três estavam no mar, boiando, e dois deles foram resgatados por uma embarcação da Polícia Federal. “Com os três mergulhadores, vamos esgotar uma possibilidade que é remota, mas existe. Uma vítima foi projetada na água e sobreviveu. Pode haver alguém preso no fundo”, disse o diretor de Operações do Corpo de Bombeiros, coronel Carlos Bonfim.


Marcações feitas pelos sete cães farejadores usados nas buscas ajudaram a localizar sete corpos sob os escombros. O trabalho ontem era feito por 65 bombeiros, com o auxílio de três retroescavadeiras, seis helicópteros e quatro embarcações. O número de bombeiros diminuiu em relação ao dia anterior, quando havia 93. Além dos bombeiros, trabalhavam na ilha 13 policiais.


O coronel calculou em 10 mil metros cúbicos a quantidade de terra misturada a pedras e árvores que desceu do morro, atingindo uma faixa de 150 metros de extensão da orla. Formou-se um monte de três metros de altura e 20 de largura, em cima do qual trabalhavam os bombeiros e as máquinas.


A moradora Erivânia Pereira dos Santos, de 28 anos, disse que pretende deixar a ilha. O marido dela era funcionário da pousada Sankay, que foi parcialmente destruída, mas não trabalhou no réveillon. Evangélicos, eles passaram a virada de ano na igreja.