A construção de uma tirolesa de 755 metros de extensão no Pão de Açúcar envolveu em polêmica um dos símbolos do Rio de Janeiro.

De um lado, a empresa que administra o Parque Bondinho Pão de Açúcar exalta a atração que permitirá aos visitantes “vivenciar uma experiência única e ambientalmente sustentável”. Do outro, moradores da Urca e ambientalistas denunciam que essa e outras obras previstas provocam danos a uma unidade de conservação ambiental de proteção integral na localidade.

Assim, segundo esses críticos, as mudanças descaracterizam a paisagem, patrimônio reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) há 50 anos e também pela Unesco desde 2012.

A tirolesa alvo de polêmica vai unir os morros do Pão de Açúcar e da Urca e tem previsão de ser inaugurada no segundo semestre deste ano. Com quase 400 metros de altura, promete uma descida que pode chegar a 100 km/h. “Esse projeto da tirolesa será um presente para todos os cariocas e brasileiros. Nós vamos ressignificar o turismo no Brasil”, diz Sandro Fernandes, CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar. A nova atração, contudo, tornou-se motivo de protesto de moradores e ambientalistas. Na internet, um abaixo-assinado contra a obra conta com mais de 13,5 mil adesões. Entre os principais problemas apresentados, estão supostos danos ambientais e a descaracterização do patrimônio histórico.

“Moradores da Urca reclamam há muito tempo do nível de ruído e do tráfego de ônibus e carros no bairro, que só tem uma via de acesso, causados pelas operações do Caminho Aéreo Pão Açúcar (empresa responsável pela administração dos morros) e que nunca foram solucionados. Se no bairro da Urca o impacto é esse, o que se pode inferir a respeito do impacto sobre a flora e a fauna existentes nos morros?”, questiona Gricel Osorio Hor-Meyll, que integra o Grupo de Ação Ecológica e o movimento Pão de Açúcar sem Tirolesa.

Segundo Gricel, a “Companhia Caminho Aéreo vem expandindo a área ocupada nos cumes há 114 anos”. “Isso se agravou nos últimos anos, com acréscimos feitos pouco a pouco e que acabaram passando despercebidos”, diz ela. “Além da tirolesa, estão protocolados no Iphan novos projetos que aumentariam em 50% a área construída no cume do Pão de Açúcar, 47% no Morro da Urca e 54% na base do Morro da Babilônia, na Praia Vermelha.”

Licenças

O Parque Bondinho Pão de Açúcar – nome usado pela administração – alega que todas as licenças necessárias foram concedidas. Em nota, afirma ainda que, “para a realização da obra, consultou previamente os interesses da sociedade civil por meio de organizações competentes junto ao Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca (MoNa)”. Acrescenta que “o principal objetivo do projeto é gerar felicidade nas pessoas, garantindo acessibilidade e continuando a contribuir com o turismo consciente e positivo do Rio de Janeiro”.

Gricel rebate as afirmações da empresa. “Insistem em apresentar argumentos sem consistência. Não reconhecem que as obras pretendidas são incompatíveis com a ocupação de um patrimônio tombado, que é, ao mesmo tempo, uma unidade de conservação de proteção integral, e tem de obedecer aos critérios estabelecidos para uso”, diz.

Iphan e Prefeitura indicam que projeto está dentro da lei

O grupo que contesta a instalação da tirolesa afirma também que continuará lutando contra a obra nas frentes “jurídica, técnica, política, de comunicação e de mobilização da sociedade”. Já os responsáveis pelo Parque Bondinho Pão de Açúcar seguem convictos de que a tirolesa irá agradar a (quase) todos. “Eu tenho certeza que até algumas pessoas que questionam o projeto se unirão a nós e aplaudirão quando a tirolesa inaugurar”, diz Sandro Fernandes, CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar.

O Estadão procurou o Iphan e a Prefeitura do Rio. Segundo a autarquia federal, atualmente há dois projetos de intervenção no Parque Bondinho Pão de Açúcar – o da tirolesa está em dia, e o outro, em análise. O município também assegura que a atração está regular.

“O primeiro (projeto), aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, trata da instalação da tirolesa entre os morros da Urca e do Pão de Açúcar, que vem sendo acompanhado por vistorias quinzenais deste instituto. Já o outro projeto, um Plano Diretor com propostas para as três estações do complexo Pão de Açúcar, está nos trâmites iniciais de análise pela área técnica da Superintendência do Iphan no Rio de Janeiro”, informou o Iphan.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio, responsável pelo caso alvo de polêmica no Rio de Janeiro, se manifestou por meio de nota enviada para a redação.

A entidade também confirmou que concedeu autorização ambiental e urbanística para a construção da tirolesa. “Além disso, a GEO-RIO realizou vistoria específica sobre o trabalho de perfuração de rocha. A empresa cumpriu todas as exigências e a licença foi emitida.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.