Num dia destes, vi um documentário na televisão sobre as gigantescas construções que estão se espalhando pelo mundo. Sempre mantive uma atitude positiva em relação às conquistas humanas, compartilhando orgulhosamente cada passo que os cientistas e especialistas davam em direção ao progresso sem fim. E esta posição – perpetuamente ao lado dos avanços do conhecimento, das ciências, das maiores realizações em qualquer ramo das atividades humanas – creio que me foi passada, além da influência de meus pais, através da arte. Pois, quem trabalha com arte, em princípio, não deve e nem pode ser limitado, principalmente depois da arte do século 20 que culmina com toda a parafernália imagética que hoje nos rodeia.
Esta abertura de pensamento me permite encarar o novo, o inesperado, o surpreendente, com um tipo de aceitação quase instantâneo do que é novo ou inédito. Claro que em júris de arte esta momentânea condescendência é logo cotejada através de uma análise estético-artística da obra que ali se apresenta e que geralmente é aceita para ser exposta.
Apesar desta abertura e do alinhamento quase imediato com o novo, começo a resistir a certo tipo da mais recente onda de construções de edifícios gigantescos.

Em primeiro lugar, acredito firmemente que este tipo de conquista, a de alçar-se aos céus das cidades, de possuir o mais alto edifício do mundo, não é deste século. Este tipo de conquista maior foi objeto da procura de materiais e técnicas de construção no início do século passado. A construção do Empire States Building e do edifício da Chrysler em Nova York significou dois dos maiores feitos de engenharia da época. E não paramos por aqui: na década de 1930, a Hoover Dam, represa do rio Colorado na divisa daquele Estado americano com Nevada foi outra conquista humana que surpreendeu o mundo, até porque foi erigida quando os Estados Unidos da América estavam em plena recessão econômica. Isso sem voltar no tempo até a presidência de Theodore Roosevelt quando foi construído o canal do Panamá, outra obra notável da engenharia norte-americana.
Assim, já foi comprovada a capacidade humana para a concepção, planejamento e execução de obras de vulto; na engenharia civil estas construções são denominadas obras de arte porque é o que elas são e abrangem não somente edifícios, como pontes, viadutos, represas.

Claro que a vontade de superação do ser humano é inesgotável e cada qual se acha no direito de construir o mais alto, o maior, o melhor, o que não deixa de ser um anseio universal a favor do moderno, do contemporâneo, da novidade.
Concordo com este desejo de conquista, porém… Estou convencida que já não é mais o tempo de realizações deste tipo. Antes, um parêntesis: sou totalmente a favor de grandes construções quando se trata de obras para benefício coletivo como as represas, contenções de rios, sistemas de proteção contra enchentes, canais de irrigação, isso sem mencionar a questão ambiental, pois aí entramos em outro território polêmico.
Agora, é inadmissível a edificação de alguns dos monstros arquitetônicos que estão por aí – e tais quais os monstrengos que aparecem nos filmes de Hollywood eles estão se multiplicando – cujo objetivo é a mera exibição do poderio, seja monetário, econômico ou o do que mais for.
Sendo ou se forem estas as razões para a edificação de verdadeiras arapucas humanas, fico estarrecida com a situação. Já foi comprovado que estes edifícios, ao contrário de oferecer proteção, iludem o morador ou o coitado do visitante que é seguro viver nas nuvens. Aliás, creio que só quem vive nas nuvens pode pensar que numa emergência o ser humano pode descer 100, 200 andares!!! E o que dizer de subir depois de uma jornada de trabalho!!! Haverá sempre energia elétrica? Baterias e geradores de eletricidade precisam de combustível que acabam.
No mundo atual, que se apresenta cada dia mais vulnerável à Mãe Natureza, o homem cria monstrengos arquitetônicos para sua mera satisfação? Será que algum dos arquitetos mora nos edifícios que projetaram ou moram em casas com jardins?  E se não moram nos edifícios que projetaram, por que será? 
Isso sem falar das contingências que estão se multiplicando: quando em décadas passadas se pensou que o viajante não poderia voltar ao seu país por causa de uma nuvem negra que cobriu o norte da Europa?
Presenciei – morava em São Paulo na época – o incêndio do Joelma. Não comento, mas creio que Deus é brasileiro por não haver muitas repetições desta tragédia. E espero sinceramente que o Brasil não entre nessa do mais alto edifício do mundo.