Elgson Ribeiro Gomes, o mais produtivo arquiteto do Paraná, tanto em edifícios construídos quanto em publicações, acaba de concluir mais um documento histórico a respeito de sua especialidade. Trata-se do livro intitulado Arquitetura – Temários Curitiba Século XX – Paraná Século XX, publicado em Edição Comemorativa aos 95 anos da Universidade Federal do Paraná.
Um dos poucos estudiosos a ter pensado a respeito do futuro de nossa cidade e conseqüentemente analisado também a situação do estado federativo em que ela se localiza, o arquiteto e engenheiro civil – ele possui os dois diplomas, o primeiro pela UFPR e o segundo pela – Universidade Mackenzie de São Paulo – continua em atividade.
Abrindo um parêntesis, o arquiteto também sempre foi muito generoso ao trabalhar com as novas gerações de alunos de Arquitetura – foram mais de 300 aprendizes – inclusive pagando bolsas de estudo, às suas próprias expensas. Desta maneira, além de receberem as melhores orientações profissionais do estudioso que faz parte significativa da história da nossa renovação arquitetônica, seus alunos ainda são pagos pelo privilégio. Aqui faço uma comparação com Frank Lloyd Wright que recebia alunos em seu escritório de projetos, porém todos eles pagavam – e muito – para trabalharem junto ao mestre.
Nas primeiras páginas da publicação, Elgson situa o arquiteto Charles-Edouard Jeanneret, ou Le Corbusier, como um dos grandes responsáveis pelas mudanças ocorridas na arquitetura mundial do século 20.

O autor faz também perguntas a partir da Carta de Atenas, um dos mais importantes documentos da arquitetura que, em 1933 e naquela cidade grega, já registrava postulados para o desenvolvimento ordenado das cidades. Estes postulados surgiram de um grupo de jovens arquitetos que dividiam seus pensamentos com Le Corbusier e se intitulavam Congressistas Internacionais de Arquitetura Moderna – CIAM. Assim, fundamentada em estudos realizados em cidades européias, a Carta apontava quatro funções básicas de uma cidade: Morar, Trabalhar, Circular e Recrear-se.
Em seu livro, Elgson reflete sobre as quatro funções básicas, daí surgindo as seguintes indagações a respeito de onde moramos e com quem convivemos. Na primeira delas, ele pergunta se trabalhamos no que e onde, se intercambiamos nossos conhecimentos fazendo exatamente o quê e se interagimos com pessoas de quais idades, experiências ou conhecimentos onde adquiridos. Na segunda questão ele indaga se circulamos de que maneira daqui para lá, ou de lá para cá ou acolá e como.A terceira pergunta refere-se aos estudos realizados em que escolas, aprendemos mesmo, ou talvez nem tanto, com um tanto mais, talvez até menos nas escolas e muito mais nas ruas e praças.Na questão seguinte se nos profissionalizamos efetivamente no quê e com quem. E mais, indaga em que tipo de agrupamentos específicos estamos fixados no contexto geral e, se é de maneira transitória ou definitiva.
Na última pergunta, Elgson indaga se efetivamente nos recreamos quando, e quais são as novas alternativas e possibilidades em relação a 1933 quando o grupo dos Congressistas Internacionais de Arquitetura Moderna CIAM as definiram.
Na sabedoria dos seus 87 anos, o arquiteto responde: Se a cidade é o Palco de tudo isto, se é como de fato é a grande Escola aberta a tudo de bom ou de mal que se aprende desde a infância até os anos mais avançados, podemos espontaneamente depreender que sua razão de ser reside no processo fundamental da sobrevivência humana, da valorização da vida de forma geral e indiscriminada, de cujo contexto de convivência resulta para todos nós a possibilidade extraordinária tanto de absorção quanto de atualização do conhecimento sempre mutante, do enriquecimento espiritual, por encerrar nela a memória de tudo que vem vindo se acumulando do passado, e que no processo metabólico do dia a dia, produz sempre uma síntese de tudo que é disponível para o novo dia de todos nós, ou nosso dia de amanhã e porvir. Analisando sob este prisma se pode tranquilamente proclamar e quem sabe até promulgar de forma explícita, a quinta Função de Educar e Profissionalizar, a partir da análise de diversas possibilidades, como a valorização de quem antes de nós tenha produzido ou inventado qualquer coisa que nos seja útil e nos sirva de exemplo e estímulo às nossas mais legítimas vocações e aspirações congênitas, ou para as quais tenhamos uma afinidade mais marcante, seja na música e nas ates em geral, seja na tecnologia e na Ciência, seja enfim no que possa ser que encontremos nos nossos passos diários entre um tema e outro tema.