IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto seus subordinados elevam a retórica contra as ameaças de Donald Trump e sua Marinha parece preparar um simbólico exercício militar, o presidente russo, Vladimir Putin, disse esperar que a crise em torno da Síria seja resolvida com “bom senso”.

“A situação do mundo está cada vez mais caótica. Ainda assim, esperamos que o bom senso prevaleça”, disse Putin em uma solenidade com diplomatas no Kremlin, nesta quarta (11). Pouco depois, seu porta-voz, Dmitri Peskov, afirmou que “não participamos de diplomacia de Twitter”.

Foi uma referência à ameaça feita pela rede social por Trump, na qual disse para a Rússia “se preparar” porque seus mísseis em direção à Síria seriam “espertos”. O presidente americano está analisando qual medida militar tomará contra o governo de Bashar al-Assad, ao qual acusa por um suposto ataque químico num subúrbio com forças rebeldes perto da capital síria, Damasco.

A Rússia, aliada do ditador al-Assad em sua guerra pelo controle do país, diz que enviou observadores e não constatou evidência do uso de armas químicas, como gás de cloro. Militares E acusou diretamente a ONG Capacetes Brancos, famosa por seus vídeos e documentários, de ter encenado o ataque para incriminar Assad e justificar um ataque americano -um roteiro que o próprio Kremlin havia anunciado como provável há quase um mês.

A postagem de Trump pode ser uma escalada feita sobre um erro. Ele disse que os russos ameaçam derrubar mísseis americanos contra a Síria. Moscou, por sua vez, havia dito que retaliaria se algum de seus talvez 5.000 soldados no país árabe fosse atingido. O Kremlin tem duas grandes bases de operações na Síria, um aeroporto em Hmeimin e um porto em Tartus.

O problema é que militares e diplomatas russos, como o embaixador no Líbano, começaram a dar declarações retirando o ponto específico que provocaria a retaliação, dando a entender que qualquer bombardeio americano seria provocativo. Em tempos de comunicação instantânea, isso virou fato.

Mais perigoso que tuítes é a situação real. O governo da porção turca de Chipre informou seus controladores aéreos para desviar a região do Mediterrâneo entre a ilha e o litoral da Síria, pois teria sido informado de que a Marinha russa na área faria exercícios de tiro real. Há cerca de 15 navios de Moscou na área.

A frota americana no mesmo mar, por sua vez, está a sul de Chipre. Mísseis de cruzeiro disparados de destróieres, que voam a velocidades subsônicas,  teoricamente podem passar pela região em que está treinando a Marinha russa.