ABADIÂNIA, GO (FOLHAPRESS) – Policiais realizam nesta terça-feira (18) buscas na Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual criado pelo médium João Teixeira de Faria em Abadiânia, no interior de Goiás.

Cerca de 18 policiais chegaram ao local por volta das 14h30 e anunciaram a busca a funcionários da instituição.

As buscas visam apreender mídias, como celulares e computadores, e outros eventuais materiais que comprovem a prática de crimes sob investigação.

O objetivo também é identificar funcionários que possam testemunhar nos inquéritos e conhecer o local onde, segundo as vítimas, ocorriam os abusos.

A chegada deixou funcionários apreensivos. Nesta terça, o hospital não possui atividades agendadas.

As buscas são acompanhadas por representantes do Ministério Público e dois advogados do médium.

O advogado Thales Jayme, um dos responsáveis pela defesa de João de Deus, diz que as buscas ocorrem "com tranquilidade" e tem sido dado acesso a todos os documentos.

No início da visita, policiais solicitaram acesso a documentos com dados da contabilidade da casa. A Promotoria investiga se houve uma movimentação nas contas do médium no valor de R$ 35 milhões na última semana. Segundo o advogado, o médium está em situação difícil devido à saúde frágil.

O médium é acusado de abusar sexualmente de mulheres que procuravam atendimento na casa dom Inácio. Os casos começaram a se tornar públicos no sábado (8), após 13 supostas vítimas relatarem violações à TV Globo e ao jornal O Globo.

Na segunda (10), Aline Sales, 29, contou à Folha de S.Paulo que esteve na casa dom Inácio em 2012, foi levada para um banheiro, posta de costas e que João de Deus colocou a mão dela em seu pênis.

Desde então, a força-tarefa montada pelo Ministério Público de Goiás recebeu 506 relatos de supostos abusos cometidos pelo médium. A maioria chegou por email e as denunciantes estão sendo chamadas a prestar depoimentos.

Na última sexta (14), a Justiça decretou a prisão preventiva do médium. Ele ficou escondido num sítio na zona rural de Abadiânia até se entregar na tarde de domingo (16) e ser levado para a prisão em Aparecida de Goiânia.

O momento da apresentação foi registrado com exclusividade pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

MÉDIUM NEGA ABUSOS

No depoimento que prestou à polícia, o médium negou qualquer tipo de culpa nos abusos sexuais dos quais é suspeito, e sua defesa tentou desqualificar as denunciantes. "Ele não admite [envolvimento]. Apresenta suas versões e cabe à polícia provar", afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, que acompanhou a oitiva.

O médium falou por mais de duas horas a duas delegadas. Segundo a delegada Karla Fernandes, ele respondeu a todas as perguntas e se recordou de alguns atendimentos feitos a mulheres que o denunciaram.

O suspeito disse que a regra era recebê-las coletivamente, e não em recintos individuais, como consta dos relatos de supostas vítimas.

O delegado espera concluir os inquéritos sobre violências relatadas por 15 mulheres em 15 dias, quando será tomada a decisão sobre eventuais indiciamentos. Por ora, os crimes em apuração são os de estupro e violação sexual mediante fraude (no caso específico usar a fé para obter sexo).

A delegada Karla disse que a prisão poderá aumentar o número de denúncias. Além dos 15 casos sob análise da polícia, o Ministério Público recebeu centenas de relatos de abusos. "Entendemos que, com a prisão, haverá o encorajamento de vítimas e isso pode levar a um aumento da procura", declarou.