CRISTINA CAMARGO
BAURU, SP (FOLHAPRESS) – Cinco dias após uma festa “open bar” (com bebida à vontade) em que um estudante morreu e outros três foram internados com intoxicação alcoólica, a família da aluna Gabriela Alves Correa, 23, que foi hospitalizada, divulgou uma carta em que pede que os pais orientem seus filhos e que as autoridades reforcem a fiscalização para evitar novas tragédias.
“Também nós, familiares desses estudantes, precisamos estar atentos e orientar constantemente nossos filhos (principalmente os que estudam longe de casa)”, diz a carta, assinada com as iniciais dos pais da aluna. “São pessoas jovens e com um futuro promissor pela frente. Não podem ter suas vidas interrompidas de maneira tão trágica.”
Gabriela deixou no fim da tarde desta quinta-feira (5) o Hospital Estadual de Bauru (a 329 km de São Paulo), onde esteve internada. Ela foi a última estudante a ter alta.
Humberto Moura Fonseca, 23, que estudava engenharia elétrica, morreu no sábado (28) após participar de uma competição para ver quem bebia mais rápido em uma festa na cidade. Ele passou mal após ingerir cerca de 30 doses de vodca, segundo testemunhas. A polícia diz que o jovem sofreu um infarto.
A festa Inter Reps foi organizada por repúblicas estudantis numa chácara e não tinha autorização legal. A polícia investiga a precariedade no atendimento prestado aos estudantes embriagados – todos alunos da Unesp.
Na carta, os pais de Gabriela também cobram mais rigor, inclusive da universidade, e afirmam que convites para a festa foram vendidos nas dependências da Unesp. “Esperamos que haja uma maior fiscalização por parte da universidade nos eventos que envolvam seu nome”, pedem.
“Agora é hora de pensarmos nas consequências do ocorrido e em como evitar tragédias futuras. Só podemos esperar que as próximas festas contem com infraestrutura melhor”, diz outro trecho da carta.
FESTA PROIBIDA
O Ministério Público de Bauru tenta encontrar um mecanismo legal para proibir a realização de festas “open bar” na cidade. Uma das possibilidades é pedir à prefeitura e à Câmara Municipal a apresentação e aprovação de um projeto de lei com a proibição.
“O público vê numa festa ‘open bar’ a possibilidade de beber até cansar. Porque já pagou pelo consumo, já gastou. E as pessoas nem sabem o que estão bebendo”, afirma o promotor Libório Nascimento, da Promotoria dos Direitos do Consumidor.
O Ministério Público investiga a morte de Humberto e a intoxicação dos outros estudantes. Três promotores estão envolvidos na apuração.
As festas universitárias são tradicionais em Bauru, principalmente no início do ano letivo. Pelo menos 22 delas foram canceladas após a morte de Humberto.
LAUDO
Em entrevista ao “Jornal da Cidade”, o médico Roberto Carlos Echeverria, diretor do IML de Bauru, afirmou que o estudante morto tinha problemas cardíacos. Um laudo necroscópico mostraria, segundo o periódico, que Humberto tinha o coração maior que o normal e estreitamento das coronárias, condições favoráveis ao infarto.
A informação surpreendeu a família do estudante. Henrique Moura Fonseca, irmão de Humberto, disse que o jovem era esportista e sempre fez exames médicos. Nenhum deles apontou problemas de saúde, afirmou.
A família acredita que houve omissão no atendimento ao rapaz e que a vida de Humberto poderia ter sido salva caso existisse uma estrutura adequada de atendimento médico no local da festa.
O Ministério Público trabalha com a informação, prestada por testemunhas, de que Humberto bebeu 1,2 litro de vodca em apenas 28 minutos.
Um vídeo que circula pelas redes sociais deverá ser usado como prova de que houve uma competição de ingestão de álcool entre os alunos. Os jovens aparecem nas imagens com coletes da Skol enquanto viram rapidamente copos de bebida. Um apito marca o início do circuito alcoólico.