ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER E NAÍLA BARBOSA DA COSTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O coração é brega”, declamou Fafá de Belém nos minutos finais de seu show na Virada Cultural. Agradeceu ao prefeito Fernando Haddad (PT), a quem chamou de “aquele gato, sem conotação política”.
Descalça, com “uma certa dose de nervosismo” e um vestido branco que rodopiava a cada giro no palco, Fafá saudou “o grande Tupã” e compartilhou “as lendas do meu povo” com a plateia do Theatro Municipal neste domingo (21).
A casa encheu. O vendedor ambulante Carlos Lirinha, 34, ficou de fora e ironizou que os shows da Virada no teatro “não eram para gente diferenciada”. Para entrar, só quem tinha convite –distribuídos gratuitamente antes do espetáculo (informação difícil de encontrar na internet) e sujeitos à lotação do espaço.
Ainda havia revista com detector de metais e vistoria nas bolsas. Comes e bebes iam para a lata do lixo.
A cantora de Belém do Pará cantou na íntegra as 13 faixas de “Tamba Tajá”, seu disco de estreia, de 1976.
A capa já mostrava a essência Fafá: ela fotografada no meio da mata, feito índia.
A sessão de acupuntura no governo de Geraldo Alckmin (PSDB) veio com a alfinetada sobre a água em seu Norte natal. Algo “fresco e cristalino, fora do volume morto”.
O público vibrou com hits inaugurais como “Haragana” (“Ah morena, moreninha/ Morena má haragana/ Volta comigo, morena/ Deixa essa vida cigana”) e “Cá Já”, composta para ela por Caetano Veloso e com arranjos de Wagner Tiso. Fafá mostrou saudosismo por uma época em que “faziam muitos acordes para uma estrofe” e cantou a música duas vezes –ficou insatisfeita com a primeira performance.
“Quando tinha 19 anos era craque nisso”, afirmou sobre o domínio dos arranjos na estreia. “Mas a gente vai ouvindo tanta porcaria que vai desacostumando”.
“Tô muito nervosa. Algumas canções não canto há 39 anos. Desde que eu nasci”, brincou a artista de 58 anos.
Seu gol, disse, era “contar a história para quem nunca viu ou pouco sabe dela”.
Em vez de terminar a apresentação com a melancólica “Fracasso”, como no disco seminal, pôs uma saia florida, apertou mãos na primeira fila e emendou “Esse Rio É Minha Rua” e “Foi Assim”, do célebre começo “Foi assim/ Como um resto de sol no mar/ Como a brisa da preamar”. De pé, o público a acompanhou num karaokê de “laialaialaiala”. Sucesso.