BRUNO MOLINERO E MARCELO TOLEDO
SÃO PAULO E RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Uma picada rápida e pronto. Rainha, 3, já estava com seu microchip sob a pele e liberada para voltar ao trabalho nas ruas de Poços de Caldas (MG) para ajudar a sustentar a família de seu dono.
Rainha é uma das 150 éguas e cavalos que puxam diariamente charretes com turistas pela cidade. Após uma série de denúncias de maus-tratos contra os animais, todos receberam chips com informações que permitem acompanhar sua saúde e localizar o dono.
O caso passou a ser investigado pelo Ministério Público Estadual há três anos, depois de a imagem de um cavalo de 12 anos caído em uma avenida circular por redes sociais e gerar abaixo-assinados contra as charretes. O passeio já atraiu visitantes famosos, como os ex-presidentes Getúlio Vargas e Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde então, outras petições e até uma audiência pública foram feitas na cidade sobre os maus-tratos. Um diagnóstico da PUC de Poços apontou à época em que as discussões surgiram que, de 70 cavalos analisados, 38% apresentavam fadiga e não tinham condições de trabalho.
“A atividade sempre foi polêmica, assim como o alto número de animais soltos nas ruas. Com o registro subcutâneo pelo chip, temos como rastrear as condições de saúde do animal e dados do dono”, disse Jorge Ferreira do Lago, coordenador da Vigilância Ambiental de Poços.
Segundo ele, alguns animais, quando envelheciam, eram abandonados. Em média, a prefeitura flagra 20 cavalos soltos por dia nas ruas, o que é perigoso para o trânsito e para a saúde animal -eles reviram lixeiras em busca de comida.
“Muitas pessoas veem cavalos maltratados ou abandonados e acham que são dos charreteiros, o que não é verdade. O chip vai evitar isso. Para mim, o animal é uma pessoa da família”, disse Luiz Carlos Jonas, 47, presidente da Associação dos Condutores de Veículos de Tração Animal há dois anos e “pai” de Rainha e mais cinco cavalos.
Segundo a associação, que promete punir quem maltratar animais, um veterinário acompanha os bichos, que precisam estar em dia com a vacinação, alimentados e não ter problemas de saúde para fazer os passeios, que custam a partir de R$ 30.
Sobre as ações de entidades de proteção animal, disse ser perseguição à atividade. “É coisa de meia dúzia de gente maldosa que se diz protetora dos animais.”
Os chips foram implantados por profissionais da prefeitura entre os dias 9 e 17, após uma bateria de exames para checar se os animais estavam aptos para o trabalho. Com o cadastramento, apenas cavalos microchipados poderão transportar turistas pelo centro, cachoeiras e produtores artesanais da cidade.