Quem foi jovem nos anos 80 vai saber o que a palavra tédio reporta no primeiro momento: a música de mesmo nome da banda Biquíni Cavadão.Sabe esses dias em que horas dizem nada/E você nem troca o pijama, preferia estar na cama/Um dia, a monotonia tomou conta de mim/É o tédio, cortando os meus programas, esperando o meu fim — canta o vocalista Bruno, cuja cara expressava o tal sentimento. Mas o que busco retratar aqui é sobre a angústia dos pais modernos em querer sempre ocupar seus filhos. E se não conseguem cumprir a missão entopem seus filhos de atividades, ou caso contrário, vai parecer que são desleixados com a educação deles, ligam a TV a cabo, o videogame ou o tablet e assim suspiram aliviados os pais dessa geração.

O não fazer nada, o tédio de fazer repetidamente algo sem prazer faz parte daquilo que chamamos formação do ser. Quantas vezes na sua infância você ficou horas a fio sem nada para fazer e com o nada como companheiro? Quantas aulas enfadonhas e intermináveis enfrentamos? Nessa hora lembro-me do Charlie Brown viajando em sala de aula e a professora dele (blá, blá, blá). E hoje os pais vivem a agonia de agendar o dia da criança, o fim de semana, o feriado, não dando aquele tempo em que elas possam preencher ou não, com seu vazio existencial.

A experiência do tédio, considerada o Patinho Feio da Psicologia permite que se mergulhe no universo de criar uma situação imaginária, de despertar da criatividade, creio eu. Para as pessoas mais ativas, virar o jogo e procurar algo para fazer por conta própria, e aos mais calmos, divertir-se com o estado de dormência. A BBC Brasil traz uma matéria interessante a respeito, Por que é bom sentir tédio (http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/01/150118_vert_fut_beneficio_tedio_ml).

Tempo vago — A psicóloga Luciana Magnani discorre sobre a importância do tédio infantil. Ao contrário do que se pensa, a agenda cheia de uma criança e planejada incansavelmente por seus pais ou cuidadores pode não chegar a resultados positivos. O tempo vago, o nada para fazer, tem também relevância na formação de adultos emocionalmente saudáveis. São esses momentos que preservam a espontaneidade e criatividade, aspectos fundamentais para o desenvolvimento da personalidade humana. Uma criança espontânea e criativa terá respostas mais adequadas às situações vivenciadas, observa.

E não é à toa, que há muita criança desenvolvendo uma ansiedade provocada. Porque a ela, os adultos estão delegando multitarefas, numa falsa aparência de cuidado.

Luciana Magnani CRP 08/21326 – Rua Ébano Pereira, 44 – 10 andar – sala 1004 – Centro – Curitiba-PR Telefone (41) 8807-0005.

Ronise Vilela é jornalista e mãe. Sugestões de pauta podem ser enviadas para [email protected]