Entre 1870 e 1879, chegaram ao Brasil 193.931 imigrantes. Mas entre 1890 e 1899 o número de estrangeiros subiu para 1.205. O Estado de São Paulo foi o ponto de partida para essa reviravolta na economia e início da industrialização do país. A população de 1 milhão de habitantes passou a 4 milhões em apenas três décadas – de 1880 a 1914. E as grandes cidades viraram a torre de Babel, com gente falando japonês, dialetos italianos, alemão, húngaro, formando 22% da população oriundos de mais de 50 países. A Itália dominou o cenário com quase 1 milhão de pessoas, seguida de Portugal (425 mil), Espanha (390 mil) e Japão (186 mil). Sangue novo, vida nova nos Volpi, Brecheret, Portinari, Di Cavalcanti, e tantos outros. Notáveis ou simples trabalhadores do campo.

JAPÃO CHEGOU NO KASATO MARU – Foi no dia 18 de junho de 1908 que chegou ao porto de Santo o navio Kasato Maru, construído pelo estaleiro inglês Wighan e Richardson Co., na Inglaterra, trazendo 785 imigrantes japoneses que inciaram viagem no porto de Kobe . Comprado pela Rússia em 1889, o navio foi chamado de Kazan, cidade a oeste de Moscou, para transporte de soldados e equipamentos médicos. Foi em 1904, com a guerra entre os impérios do Japão e da Rússia, que a embarcação foi conquistada pelos nipônicos e rebatizada como Kasato Maru. Levou imigrantes para o México e Peru em 1906, antes de trazer os primeiros imigrantes para o Brasil. Mais tarde foi transformado em cargueiro, até integrar a esquadra japonesa da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Sua longa história termina em 9 de agosto de 1945, abatido pelos russos quando transportava latas de atum e caranguejos no Mar de Bering.

A cidade de Santos teve que se adequar para receber aos imigrantes. O Estrela de Ouro Futebol Clube, também chamado de Casarão, construído em 1921 com apoio do governo japonês, foi a base do atendimento aos imigrantes, com escola para a comunidade nipônica. Serviu também como sede da Sociedade Japonesa de Santos. Era uma verdadeira sede social, além de funcionar como escola para os jovens, com professores vindos do Japão. Em 1942 o prédio foi confiscado pelo governo federal, junto a outros patrimônios japoneses, italianos e alemães. Funcionou como Ministério da Guerra, onde era feito o alistamento militar. O imigrante japonês ficou sem espaço, nem condições de se reestruturar cultural e socialmente. Entidades esportivas procuraram criar vida social à coletividade Nikkei em Santos e, após 64 anos em posse do governo federal, em 2006 a Sociedade Japonesa conseguiu a concessão do uso do Casarão, reinaugurado em 18 de junho de 2008, depois de reformado, e reaberto ao público nas comemorações do centenário da imigração.

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Alegria é a marca de cada cultura, cada povo representado pelos imigrantes e descendentes que chegaram ao Brasil desde o século 19Festas populares, como a Oktoberfest, marcam o calendário brasileiro o ano todo

E assim o brasileiro aprendeu que Sumimasen serve para pedir desculpas, licença e agradecer a alguém por devolver algo que você deixou cair. É palavra que serve até para chamar o garçon no restaurante; Arigatô gazoimasu é a versão mais educada de dizer obrigado; Arigatô gozaimashita é a fórmula para agradecer serviços prestados no final de uma refeição ou período de hospedagem; Ohayou gozaimasu representa a versão polida do ohayou sozinho, que significa bom dia e é usado entre pessoas mais íntimas; Campai é um brinde. Esqueça o tim-tim porque é palavrão. Se um japonês perguntar como se diz campai em português, traduza como saúde; Konitchuá é como dizer oi, de maneira educada. Use ao chegar a qualquer estabelecimento comercial, antes mesmo de perguntar se alguém fala português; Izakayá, ou bar tradicional japonês, é bom lugar para happy hour. Cada grupo de amigos fica em uma cabine, com mesa reservada horas a fio; Edamame é vagem de soja, aperitivo que acompanha a cerveja local, encontrada principalmente nos izakayás; Ryokan originalmente significa hotel. Hoje é usada para as hospedagens mais autênticas, onde o hóspede dorme em tatame e todos usam quimono para dormir. O café da manhã tem peixe grelhado, sushi, sashimi, arroz, alga e sopa de tofu (missoshiroOnsen são as piscinas termais onde as pessoas tomam banho em grupos, sem nenhuma peça de roupa, nem mesmo biquíni ou sunga. Muitos hotéis e casas de banho mantém alas separadas para homens e mulheres, mas não é regra geral. E convém saber: tatuagens são mal vistas em espaços onde é necessário expor o corpo. A justificativa é histórica, porque no passado as tatuagens eram uma maneira de distinguir os integrantes da máfia japonesa.

HERANÇA FINLANDESA – Foi Toivo Vuskallio, líder idealista, que encabeçou o grupo de 300 finlandeses que desembarcaram em Penedo em 1929. Toivo era adepto da filosofia baseada em contato com a natureza, vida simples e saudável, alimentação estritamente vegetariana. Em 1982 foi criado o Museu Finlandês, com acervo de tapeçarias, velas, cerâmicas, enfeites natalinos, bordados e pinturas em tecido com desenhos típicos da Finlândia e, principalmente, a tapeçaria ryijy, tradição centenária do país. Em quase todas as casas e pousadas de Penedo é possível seguir o hábito de tomar sauna, em ambiente com temperatura superior a 70º C, para depois cair no rio de água gelada ou ficar debaixo do chuveiro frio. Para os finlandeses, a sauna é mais do que um simples banho e relax. Tem função social, reunindo amigos e parentes pelo menos uma vez por semana, para colocar assuntos em dia e até fechar negócios. Na Finlândia, grandes pavilhões são construídos perto dos lagos e rios e para criar o vapor, os finlandeses usam forno de lenho ou eletricidade, colocando pedras quentes sobre o forno e jogando água com essência de pinho para provocar a evaporação, no Brasil. No país de origem os banhistas batem no corpo com galhos de bétula, árvore típica das regiões árticas, para ativar a circulação sanguínea.

Penedo é conhecida como Pequena Finlândia e é a única colônia finlandesa no Brasil. Com direito até a minicidade finlandesa e fábrica de brinquedos de Papai Noel, praça com anfiteatro para shows, sauna típica e agência de correios para as crianças que escrevem ao bom velhinho. De acordo com a lenda, Papai Noel mora na Lapônia, na montanha Korvatunturi (montanha com orelhas), por causa do formato dos picos, que parecem orelhas de cachorro. São as orelhasque ouvem e observam o comportamento das crianças durante o ano todo, o que tem importância na hora dos presentes natalinos.

Penedo hoje é um excelente destino turístico, com pousadas típicas, lojinhas de artesanato que lembra a terra mãe, em madeira, cerâmica, ferro trabalhado, tapeçaria e velas. Geléias, conservas, chutneys entram na lista de todo visitante, que primeiro experimentou as trutas, os fondues, raclettes, bombons e doces. A hospedagem vai da mais luxuosa, junto de cascatas, até as mais simples. Mas todas cheias de ambiente agradável, com lareira no inverno e até piscinas no verão. O clima é de montanha, o que podem ser uma benção divina para quem sai do Rio de Janeiro ou São Paulo. Penedo fica a 171 quilômetros do Rio, seguindo a Via Dutra para entrar no quilômetro 311.

NORTE AMERICANOS SULISTAS – Em 1867, mais de 3000 pessoas imigraram para o Brasil, como decorrência da Guerra de Secessão norte- americana entre 1861 e 1865. Os sulistas se radicaram nas cidades de Santa Barbara do Oeste e Americana (150 km e 133 km a noroeste de São Paulo, na região de Campinas). Não são poucos os descendentes que deixaram parentes em Troy, no Alabama, ou Oglethtorp, na Georgia. No cemitério do Campo, na zona rural de Santa Bárbara do Oeste, há mais de 400 sepulturas de norte americanos e seus descendentes nascidos no Brasil . Entre os quais 20 soldados confederados. Em 1988 a cidade ganhou o Museu da Imigração, com acervo sobre a história local, história dos norte-americanos e exposições temporárias. Com fotos, utensílios domésticos, instrumentos musicais, mobiliário, roupas, documentos.

A guerra acabou em 1865 com a vitória do norte e a abolição da escravatura ( o sul tinha 4 milhões de escravos), economia em ruínas nos dois lados e saldo de 618 mil mortos em batalha e por causa de epidemias. Os sulistas emigraram para a Inglaterra, México e Brasil.