Com o coração partido e a cabeça tentando entender que escrevo um texto em pleno século XXI sobre esse assunto: amamentação em local público. Qual é o problema em alimentar sua criança num parque, transporte público, na fila do mercado? O que há de errado nisso?

Pois bem, sempre há uma mente retrógrada a resgatar o pior de tempos remotos e reinventar conceitos, com base em surto psicótico. Então, com o efeito de redes sociais, uma universitária posta que amamentar em público é coisa de pobrefazendopobrice. Leia no link detalhes sórdidos sobre http://www.brasilpost.com.br/2015/11/04/amamentacao_n_8474116

.html?ncid=fcbklnkbrhpmg00000004 – depois disso achei que era chilique de meia dúzia de desocupadas, mas então me deparo com pesquisa publicada em agosto, em que 47%,5 das mulheres brasileiras já relataram sofrer algum tipo de preconceito por amamentar em público; com esses dados, entramos no ranking como um dos países que mais censuram a mamada pública no mundo. Palmas! Também há detalhes sobre esses números no link http://mdemulher.abril.com.br/familia/bebe/brasil-e-o-pais-onde-as-mulheres-sao-mais-criticas-por-amamentar-em-publico-diz-pesquisa

A erotização do peito tem hora, local e razão. A amamentação é um vínculo afetivo, nutricional e psicológico dos mais importantes entre mãe e filho. Nem todas as mulheres, por razões diversas, podem ou puderam amamentar e nem por isso são menos mães, no entanto, esse movimento contra a amamentação pública, me parece uma atitude de nojo, moralismo e falta do que fazer. É tão natural amamentar, que duvido que uma mãe fique monitorando e fazendo autocensura se isso é pertinente ou não.

A criança – Amamentei minha filha por seis meses. Tive que fazer o desmame rápido por conta de um problema na tireoide. Acredito que essa polêmica toda não leve em consideração o principal interessado na história: a criança. O vínculo mãe e filho é estreitado quando a gente amamenta. Não entendo porque amamentar, nos dias de hoje, é visto como algo sensual ou sexual. É natural e como tal, toda mulher que pariu tem o direito de amamentar e toda criança tem o direito de ser amamentada. É preciso pensar mais na saúde da mãe e da criança, e menos nos olhos alheios que enxergam maldades. Lembro que quando me sentava para amamentar pensava ‘agora ela é só minha e eu sou só dela. Neste momento sou insubstituível’. Creio que amamentar é um ato de amor, relata a jornalista Cristiane Rangel.

Paula Z., secretária de 28 anos, tem uma menina de seis meses que amamenta, mas confessa que às vezes se sente reprimida em dar o leite materno nos lugares públicos. Eu evito, porque sempre tem um marmanjo olhando para os peitos e me sinto incomodada. Sei que não é nada de errado, mas para evitar me sentir mal eu coloco a fralda sobre meus seios, revela a jovem.

Particularmente acho um absurdo a mulher mais uma vez ter que se isolar na sociedade, a fim de não provocar polêmicas por um ato tão natural, saudável e importante quanto a amamentação. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff assinou o decreto que regulamenta a Lei 11.265/2006, sobre a comercialização de alimentos para mães e crianças, durante o período de amamentação e proíbe, entre outros pontos, que produtos que possam interferir nesse processo, tenham propagandas de cunho informativo para alertar a respeito dessa interferência, como chupetas, mamadeiras e leites artificiais.

Ronise Vilela é jornalista e mãe. Sugestões de pauta podem ser enviadas para [email protected]