Muito se ouviu dizer que Neymar precisava aprender muito antes de ir para a Europa. O técnico René Simões chegou a dizer que estaria preocupado com a criação de um monstro, depois do episódio entre ele e o técnico Dorival Júnior em 2010 na Vila Belmiro, quando técnico e jogador discutiram. Neymar faltou com o respeito ao treinador e errou feio, mas teve um pai para puxar as orelhas e dizer: Menino feio, assim não se faz, pede desculpas para o professor! – E pronto. Cai-Cai foi o apelido que durou mais. O futebol cria estereótipos que só o futebol tupiniquim é capaz de criar. Invenção de adversários com dor de cotovelo. E o monstro estava se criando, para deleite de quem gosta de ver pra onde vai essa bola. Um belo monstro camisa onze!

O menino não aprendeu a jogar bola na Europa. Neymar possui o que muitas pessoas neste planeta sonham a vida toda em ter: Dom… E a grande chance que teve no Santos foi demonstrar que o futebol mundial poderia aproveitar de seu talento. O Barcelona não contratou o jogador pensando em ensiná-lo, mas sim aproveitar o que ele tem de melhor. Neymar, Ganso e Robinho faziam maravilhas e encantavam o Brasil. Imagina o que seria com Messi e Iniesta¿

O Barcelona foi além e contratou a artilheiro do Campeonato Inglês, Luis Suàrez, para jogar no time que já tinha Neymar e Messi. Hoje artilheiro do Campeonato Espanhol com doze gols marcados, um dos campeões de assistência, ajudado pela má fase do Real Madrid e Cristiano Ronaldo, pela contusão de Messi. Neymar vai tomando conta da Europa, provando que a única coisa que separa Neymar de uma Bola de Ouro é o tempo de adaptação dele ao futebol europeu. O Rei Pelé, com medo de perder o trono, disse que Vasconcelos é melhor que Neymar. Confesso que não sou historiador e não sei de cabeça metade das coisas deste planeta bola e tive que pesquisar um pouco para saber que Vasconcelos era titular no Santos até que Pelé chegou na Vila e tomou conta da camisa 10. Fala Romário: Pelé calado é um poeta!

Eu me lembro a última vez em que vi Neymar atuando de perto. Foi no Couto Pereira. O volante Willian fazia um belo trabalho de anular o menino da Vila, que era vaiado, ridicularizado, quase não pegava na bola. O torcedor com um bebê no colo olhava para mim e perguntava: Cadê o Neymar¿ Joga nada esse moleque cai-cai! Neymar ficou setenta e dois minutos sem conseguir dar um drible, sem chutar em gol, sem sequer um passe em sua direção. Aos vinte e cinco do segundo tempo ele pegou na bola com um pouco de liberdade, se livrou de quatro marcadores, driblou o goleiro Vanderlei e chutou quase sem ângulo para empatar e colocar fogo na partida que estava 1×0 para o Coritiba, gol daquele Deivid que deu entrevista meses depois dizendo que queria sair do Alto da Glória para jogar em time grande. Ele enganou o torcedor Coxa por algum tempo e parou de jogar futebol.

Neymar também fez o gol da virada aos trinta e sete do segundo tempo e o mesmo torcedor com o bebê no colo olhou para a cabine onde eu estava e berrou indignado: Também, o Willian cansou!. Ou Neymar esperou Willian cansar. O menino da Vila já estava pronto havia um tempo. Naquele momento o Santos já estava ficando pequeno para a grandeza do menino, que joga moleque, que se diverte com uma bola nos pés ambidestros. Era domingo, dia dezesseis de dezembro de 2012. O dia em que eu vi o futuro melhor do mundo jogando bola de perto. Neymar sabe muito bem para onde essa bola vai, bem antes de colocar seus pés nela!

Mauro Mueller é apresentador do Show de Bola da Rede Massa, radialista e ator