Para quem ainda não sabe, alunas da faixa etária de 13 a 17 anos do Ensino Médio e Fundamental do Colégio Anchieta, uma escola tradicional de Porto Alegre (RS), criaram abaixo-assinado via internet (https://www.change.org/p/col%C3%A9gio-anchieta-vai-ter-shortinho-sim), exigindo à direção desta instituição liberar o uso do short, desde que uma de suas alunas foi proibida de assistir às aulas, em razão do uso da indumentária, tida como inadequada.

É só digitar a hashtag #vaitershortinhosim que inúmeros artigos, textões, postagens aparecerão na sua tela sobre o assunto. Uma breve enquete via redes sociais nos meus perfis do Facebook e Twitter, que pediam espontaneamente as opiniões sobre o assunto, mostraram o posicionamento de pessoas entre 20 e 50 anos. Há concordância com as meninas no quesito luta pela condição feminina. Não é apenas o debate do uso do short, mas a sexualização imputada à cultura machista, a falta de liberdade para mulheres, enquanto aos homens pouco se discute sobre como se vestem ou se portam.

Não quero desvalidar de forma alguma reivindicações de qualquer natureza, mas é preciso fazer um traçado mais do que a modinha ou a polêmica por si só. Não concordo, então crio uma cultura de ódio, pratico verborragia virtual e bloqueio a possibilidade da discussão. Desculpem-me os revolucionários de internet, mas essa equação da intolerância é a mais presente em perfis diversos. A própria petição das alunas começa o texto Nós, alunas do ensino fundamental e médio do Colégio Anchieta de Porto Alegre, fazemos uma exigência urgente à direção. Exigimos que a instituição deixe no passado o machismo, a objetificação e sexualização dos corpos das alunas; exigimos que deixe no passado a mentalidade de que cabe às mulheres a prevenção de assédios, abusos e estupros; exigimos que, ao invés de ditar o que as meninas podem vestir, ditem o respeito.

No mundo real, existem regras nas instituições, no trabalho e provavelmente nas casas de pessoas comprometidas com educação. Se a norma em questão está ultrapassada e não acompanha o tempo, sim, devemos discutí-la em primeira instância, refletir todos os lados. Vejo gente só querendo burlar, em nome de uma revolução cultural, mas sem base, só no efeito #mimimi e de defesas rasas. Mais clara, como crianças de dois anos fazendo birra. O mundo é feito de comportamento, regras e situações que gostamos, mas muitas delas, adversas. Não é resiliência (outra palavrinha mal usada) é também saber viver em sociedade, que são diferenças, prós e contras.

E por fim, indico aqui também essa entrevista exibida na Rádio CBN, com o doutor em Educação Daniel Medeiros (https://cbncuritiba.com/2016/02/29/educacao-e-cidadania/)

 

Ronise Vilela é jornalista e ativista de redes sociais.