Quando falta esperança e confiança da sociedade, o ato de governar com harmonia torna-se impossível. O desânimo e a desesperança invade o cotidiano das famílias, destruindo os valores da convivência social. A grande vitima é a população. O Brasil vivencia essa realidade com brutal recessão econômica ocorrida em 2015, que se repetirá em 2016 e se refletirá nos anos de 2016 e 2017. Estagnação econômica, contas públicas deterioradas, déficit fiscal ascendente não tiveram geração espontânea, foram construídas por um governo primário e voluntarista. Teve um aliado na opinião pública manipulada e pouco informada e uma oposição frágil no combate dos desmandos oficiais. A popularidade do governo, nos últimos anos, era extravagante, mesmo com a demagogia populista construindo a crise em que estamos mergulhados.
A chamada nova matriz econômica do governo Dilma Rousseff, destruindo os fundamentos básicos da economia brasileira, garantiu a sua reeleição em 2014. O engodo da falsa prosperidade, alimentada pela massacrante propaganda agregada ao marqueteiro sem escrúpulos, anestesiou a sociedade que, na sua maioria, acreditava viver tempo de prosperidade. Nas manifestações de protestos do dia 13 de março contra o governo, a Datafolha apurou que mais de um terço dos que saíram às ruas, no Brasil, votaram em Dilma Rousseff, dimensionando a tese evasionista da culpa dos milhões de brasileiros de baixa renda e baixa escolaridade que não saberiam votar.
Paralelamente, as forças de oposição brasileira tem grande responsabilidade por ausência de combatividade política. Poucos foram os resistentes, a exemplo do senador Alvaro Dias e outros poucos parlamentares no desmascaramento do festival de mentiras e corrupção que se avolumavam como um monte Everest. Tornando atual o que disse Benjamin Disraeli, primeiro ministro da Inglaterra, no século XIX: Não há governo seguro sem uma oposição forte.
O professor Roberto Romano, docente da cadeira de Ética da Universidade de Campinas, transplanta Disraeli para a realidade brasileira: Um Estado desgastado, com uma máquina velha e ineficiente e um Congresso que continua a ser, ainda hoje, caixa de ressonância das oligarquias regionais. O desencanto com a política agora emerge de maneira bombástica como consequência da crise inédita na história da República. O Estado foi desmontado para servir a determinados grupos políticos e interesses empresariais, como demonstra, com fartura de evidenciais, a Operação Lava Jato. O Estado público e republicano, dotado de uma burocracia profissional competente, foi capturado e é o grande ausente na desastrada governabilidade.
A tudo isso acrescente-se a marginalização dos grandes debates sobre as questões nacionais que afetam diretamente a vida do cidadão. O deserto de ideias, onde a pobreza de formulações voltadas para o futuro da construção de uma nação, não frequenta a vida nacional. Agravado com a esterilidade presente nas grandes universidades brasileiras, incapazes de propor caminhos para o futuro. O Brasil real do povo trabalhador não frequenta o dia a dia da chamada inteligência acadêmica. Nem nas entidades patronais que só reagem quando a crise econômica as atinge. Deixando o caminho livre para os mistificadores como o ex-sindicalista Jaques Wagner para quem o objetivo do governo é a retomada do desenvolvimento. Ou para Wagner Freitas, presidente da CUT: O tema central para a CUT é a retomada do emprego e da renda. Dois alienados irrecuperáveis. O desemprego e a perda de renda tornou-se realidade concreta.
No mandarim chinês ni hao quer dizer tudo bem. Em português a tradução é inversa: vai tudo mal. Falar em retomada de crescimento, como fazem os donos do poder, é mentir e continuar enganando os incautos. A realidade cotidiana das famílias na busca da sobrevivência com o desemprego avassalador desmente a fantasia. Lamentavelmente a reconstrução dos fundamentos econômicos e sociais vai demorar muito tempo. Os desequilíbrios macroeconômicos e fiscais, construídos nos últimos anos, produziram o desastre. Sem reformas estruturais o futuro fica impossível de ser construído.
As linhas aqui traçadas não são fruto de previsão pessimista, mas profundamente realista. No Brasil, hoje, o pessimista é um otimista bem informado. A República tem um governo sem rumo e sem credibilidade.

Helio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira