A Praça Afonso Botelho, a praça da Arena da Baixada, tem pista de skate, local para caminhada e exercícios e outros equipamentos de lazer. Porém, escondido no seu subterrâneo existe algo que poucos conhecem mas que tem grande importância para a rotina da região, especialmente em dias de chuva intensa. Ali, dois grandes reservatórios estão preparados para guardar a água em dias de temporais.

Com capacidade para armazenar até 750 mil litros de água, os reservatórios entraram em operação em março para amenizar as cheias do Rio Água Verde, que passa canalizado pela região. Os dois reservatórios compõem o sistema de prevenção de alagamentosda cidade, sendo os únicos subterrâneos. Além dos tanques na Afonso Botelho, Curitiba usa as lagoas de parques para prevenir os alagamentos.

Estamos utilizando vários locais da cidade para este fim (amenizar os alagamentos). Temos os parques multipropositos, como o Guairacá, o Parque Barigui, com gestão de reservatórios, como no São Lourenço, conta o secretário municipal de Meio Ambiente, Renato Eugenio de Lima.

Somando apenas estas unidades, a capacidade de armazenagem chega a 158,4 milhões de litros de água, equivalente a cerca de um quarto do que uma cidade como Curitiba consome de água potável todos os dias. Mas ninguém pode dizer que não vai ter mais alagamento. Depende do volume, intensidade e duração da chuva. O que fazemos é amenizar um possível problema, completa o secretário.

O projeto de Curitiba cidade resiliente a temporais começou em 2014. De lá para cá outras ações estão em andamento, como a descanalização de trechos de rios — o que leva a uma melhor permeabilização do solo — a ampliação de galerias para escoar a água da chuva — como a feita no primeiro semestre no Cristo Rei —, entre outras.

Nós estamos usando os reservatórios naturais cada vez mais, e privilegiando os projetos a céu aberto, com a renaturalização dos rios, diz Lima. No passado, foi uma alternativa bastante utilizada (a impermeabilização e canalização de rios). Hoje, boa parte das cidades mais desenvolvidas não tem mais utilizado essa estratégia. E algumas, como Curitiba, estão fazendo renaturalização, mantendo os rios naturais, explica.
Sobre os reservatórios subterrâneos, contudo, não devem ser uma prática comum em Curitiba por causa do custo de implantação e manutenção. Os reservatórios de construção civil a gente usa como estratégia quando não tem alternativa a céu aberto, completa Lima.


Em defesa da descanalização dos rios

Os trabalhos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente para conseguir recuperar e renaturalizar parte dos rios de Curitiba faz parte da estratégia para reduzir as ocorrências como inundações, redução de custos com manutenção, além de melhora na qualidade de vida dos cidadão.

Se você fecha o rio totalmente, quando chove ele vai inundar, transbordar. Além disso, rio natural não precisa de manutenção. Já o rio canalizado precisa de manutenção constante, explica o secretário municipal do Meio Ambiente Renato Eugenio de Lima, que é também professor do curso de geologia da UFPR, em entrevista ao Jornal Bem Paraná em junho deste ano, quando falava sobre o projeto de renaturalização dos rios da Capital.

A meta, inclusive, é ousada: conseguir, até 2034, recuperar os rios da Capital, tanto em termos de poluição, como a sua renaturalização. O trabalho que estamos fazendo hoje está garantindo que a cidade, daqui a 10 anos, tenha a possibilidade de conviver harmonicamente com processos naturais, que ela esteja preparada, mais resiliente e respeite a natureza no sentido de conseguir um Ddsenvolvimento sustentável, complementou na época.


Outros projetos em andamento

Além de trabalhar com os reservatórios, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente também tem outros projetos, como o de ampliação de galerias que escoam água da chuva. Um exemplo é na região do Alto da XV, próximo de uma concessionária de automóveis e um shopping, região que alaga em dias de chuva intensa.
Uma série de outros projetos neste sentido também já foram preparados e enviados para Brasília e estão à espera de recursos federais para obras de saneamento.


Rápida

Como funciona
Os tanques subterrâneos na Praça Afonso Botelho começam a reservar a água em dias de temporais. Enquanto acumulam a água excedente, vão dispensando aos poucos, evitando que as águas do Rio Água Verde transbordem pelos bueiros e alaguem a região do Rebouças. Já nos reservatórios como as lagoas do sistema Guairacá — composto por três lagos — vão recebendo e reservando as águas dos temporais regulando a quantidade que volta ao rio. No Parque São Lourenço, o lago também funciona para prevenir os alagamentos. Quando há alerta de chuva forte, o lago tem seu nível abaixado e assim pode reter mais água quando a chuva chega. O Parque Barigui também funciona como reservatório a céu aberto, retendo o excesso de água em dias de muita chuva. O Barigui é o que tem maior capacidade de reservamento. São mais de 115 milhões de litros de água reserváveis.