Você é forte! Força! Tem que agüentar, tem que ter força! Quantas vezes você ouviu isso na sua vida? Quantas vezes você foi o ombro, mas na verdade queria um ombro? Choro contido no banheiro da firma, na frente do computador, na sala de espera do consultório, mas teve que dar aquela respirada heróica, pois afinal de contas, você tira uma espada e grita eu tenho a força!

Não, não sofro da síndrome de He-Man que me obriga a sacar a arma da força escondida na adaga. Chega! Sem mimimi ou drama, mas às vezes é bom o mundo e as pessoas a nossa volta saberem que nem sempre estamos na posição de fortes. Porque nos tornamos reféns dessa imagem de pessoa que sempre sai digna dos conflitos, segura a onda e ainda não borra a maquiagem.

Nem sempre o antônimo de forte é fraco, mas pode ser cansaço. Uma fadiga de manter sempre uma linha, não chorar, não gritar e não pedir por socorro. O comportamento da pessoa forte em toda e qualquer circunstância pode parecer traço de personalidade, de segurança, de equilíbrio, mas muitas vezes esconde o medo de se mostrar frágil. Sejamos sensatos, há situações em que desmoronamos, mas simplesmente essa característica sedimentada da força, não permite que um dia você não possa ser quem peça a ajuda.

E sabe qual é a grande desvantagem de tudo isso? Sempre, mas absolutamente sempre, você será o ombro, o conforto e quem resolverá os problemas alheios. Vai chegar um dia que as pessoas não vão perguntar se você está bem, afinal de contas você é forte e os fortes não tem problemas menores, sabem lidar com a carência, com problemas financeiros, com a caixa de pizza congelada que não cabe no refrigerador. Os fortes tem respostas para todas as perguntas, não sentem frio, calor, fome ou sede, pois seu grau de resistência é infinitamente maior, diferente daqueles que sempre se melindram por coisas frugais.

Como encontrar a saída de emergência? Em primeiro lugar, não sofra da síndrome de He-Man; admita que às vezes você esteja perdido, se sentindo desprotegido, nem por isso precisa tirar forças de onde não tem, mas tampouco se desesperar. Então você vai perceber que existem ombros amigos, que estão fortes naquele momento, nem por isso são super-heróis, sempre com a força, mas com a palavra ou atitude necessária, para mostrar que a vida é assim mesmo, algumas vezes as coisas dão certo, noutras você vai ter que tentar de novo. Ou não, como diria Caetano.

Ronise Vilela é jornalista e ativista de redes sociais.