Na ultima 4a. feira, 26 de outubro de 2016, deveria iniciar-se o processo de coleta de assinaturas, que se estenderia nos três dias seguintes, concretizando assim o 2º passo previsto para aprovar o referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, conforme o que estabelece a Constituição venezuelana. Diante da desobediência à Carta Magna pelo Executivo, a Mesa de la Unidad Democrática – MUD – que congrega as forças de oposição – convocou o povo às ruas para o que denominou de “Toma de Venezuela” (Tomada da Venezuela), um movimento pacífico destinado a “refazer o fio perdido da democracia”.

Os manifestantes acorreram em massa aos seis pontos de concentração popular estabelecidos pela MUD para daí marcharem pela larga autopista Francisco Fajardo (a mais importante de Caracas, que atravessa de leste a oeste), cuja paralização praticamente tranca todo o trânsito de Caracas. Não só por isso foi tolhido o direito de ir e vir pelas ruas da capital. A Guarda Nacional Bolivariana (GNB), criada por Hugo Chávez, bloqueou tanto as vias onde aconteciam as marchas oposicionistas, quanto os acessos à capital, a fim de impedir que pessoas contrárias ao governo participassem dos protestos. Várias estações do metrô deixaram de funcionar e o transporte de ônibus e mesmo veículos particulares não tinham como avançar em meio aos piquetes e às multidões pró e contra o governo chavista.

Na famosa Praça Venezuela a GNB forçou passagem com sua frota de veículos de guerra. Segundo o jornal El Nacional, eram “5 tanquetas (tanques de pequeno porte), 3 rinocerontes y 3 ballenas (caminhões antidistúrbios totalmente blindados apelidados pelo povo de rinocerontes e baleias)”.  Enquanto isso o Ministro do Poder Popular para a Defesa, general Vladimir Padrino López, declarou que as Forças Armadas apoiam integralmente a Maduro.

O povo que reclama e sofre com a inflação sem controle, a aguda escassez de alimentos, medicamentos e artigos básicos e com a falta de segurança, não possui armas. Ainda assim, a oposicionista Assembleia Nacional comandada por Henry Ramos Allup decidiu processar o Presidente da República e já “convocou” Maduro  para uma primeira audiência, sob a acusação de não estar cumprindo a Constituição. A decisão de Allup é vazia e, sem dúvida, Maduro não o atenderá.

Agora, restam poucas chances para impedir o reaparecimento de guerrilhas no território venezuelano. A melhor delas, no momento, é  a mesa de diálogo com a oposição intermediada pelo Papa Francisco. O representante da Santa Sé, o monsenhor italiano dom Claudio Celli, foi no domingo ao Palácio Miraflores para a primeira reunião entre as partes. Par demonstrar que está comprometido com o processo, o presidente Nicolás Maduro se fez presente e, todo sorrisos, ao final considerou como muito positivas as conversações realizadas a portas fechadas durante cinco horas.

Nenhum resultado foi apresentado, mas uma segunda reunião ficou marcada para 11 de novembro, já para analisar uma pauta de quatro pontos que inclui a soberanía nacional, a verdade, direitos humanos e reparação de vítimas de incidentes violentos, as questões econômica e social e como gerar confiança e avançar com o cronograma eleitoral.

Como facilitadores da discussão estiveram, além de monsenhor Celli o Secretário-Geral da Unasul Ernesto Samper, mais os ex-presidentes da REpública Dominicana Leonel Fernandez, do Panamá Manuel Torrijos e o ex-1º Ministro da Espanha José Luis Zapatero. Pela MUD falou Jesús Torralba, alertando que a agenda de manifestações contra o governo está mantida e que se esperam sinais concretos de entendimento para o 11/11, pois em caso contrário retirar-se-á da mesa de diálogo. Enquanto Thomas Shannon, representando o governo Obama, apoia aparentemente com entusiasmo o processo agora instalado; Vontade Popular, a agremiação política cujo líder Leopoldo López segue no cárcere, não compareceu por considerar que não existem condições efetivas para o diálogo, mas não fechou as portas para a hipótese de participar nas próximas reuniões.

Tem gente demais  em volta dessa mesa e a larga agenda de quatro pontos desde logo remete às velhas tradições latino-americanas de mais jogar conversa fora do que buscar atalhos para soluções concretas, além de que persistem as desconfianças de vários líderes oposicionistas de esta é apenas mais uma manobra de Maduro, destinada a ganhar tempo e enfraquecer seus cada vez mais numerosos adversários.

 

Vitor Gomes Pinto

Escritor. Analista internacional

Venezuela tenta evitar o conflito aberto

Vitor Gomes Pinto

Escritor. Analista internacional

Na ultima 4a. feira, 26 de outubro de 2016, deveria iniciar-se o processo de coleta de assinaturas, que se estenderia nos três dias seguintes, concretizando assim o 2º passo previsto para aprovar o referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, conforme o que estabelece a Constituição venezuelana. Diante da desobediência à Carta Magna pelo Executivo, a Mesa de la Unidad Democrática – MUD – que congrega as forças de oposição – convocou o povo às ruas para o que denominou de “Toma de Venezuela” (Tomada da Venezuela), um movimento pacífico destinado a “refazer o fio perdido da democracia”.

Os manifestantes acorreram em massa aos seis pontos de concentração popular estabelecidos pela MUD para daí marcharem pela larga autopista Francisco Fajardo (a mais importante de Caracas, que atravessa de leste a oeste), cuja paralização praticamente tranca todo o trânsito de Caracas. Não só por isso foi tolhido o direito de ir e vir pelas ruas da capital. A Guarda Nacional Bolivariana (GNB), criada por Hugo Chávez, bloqueou tanto as vias onde aconteciam as marchas oposicionistas, quanto os acessos à capital, a fim de impedir que pessoas contrárias ao governo participassem dos protestos. Várias estações do metrô deixaram de funcionar e o transporte de ônibus e mesmo veículos particulares não tinham como avançar em meio aos piquetes e às multidões pró e contra o governo chavista.

Na famosa Praça Venezuela a GNB forçou passagem com sua frota de veículos de guerra. Segundo o jornal El Nacional, eram “5 tanquetas (tanques de pequeno porte), 3 rinocerontes y 3 ballenas (caminhões antidistúrbios totalmente blindados apelidados pelo povo de rinocerontes e baleias)”. Enquanto isso o Ministro do Poder Popular para a Defesa, general Vladimir Padrino López, declarou que as Forças Armadas apoiam integralmente a Maduro.

O povo que reclama e sofre com a inflação sem controle, a aguda escassez de alimentos, medicamentos e artigos básicos e com a falta de segurança, não possui armas. Ainda assim, a oposicionista Assembleia Nacional comandada por Henry Ramos Allup decidiu processar o Presidente da República e já “convocou” Maduro para uma primeira audiência, sob a acusação de não estar cumprindo a Constituição. A decisão de Allup é vazia e, sem dúvida, Maduro não o atenderá.

Agora, restam poucas chances para impedir o reaparecimento de guerrilhas no território venezuelano. A melhor delas, no momento, é a mesa de diálogo com a oposição intermediada pelo Papa Francisco. O representante da Santa Sé, o monsenhor italiano dom Claudio Celli, foi no domingo ao Palácio Miraflores para a primeira reunião entre as partes. Par demonstrar que está comprometido com o processo, o presidente Nicolás Maduro se fez presente e, todo sorrisos, ao final considerou como muito positivas as conversações realizadas a portas fechadas durante cinco horas.

Nenhum resultado foi apresentado, mas uma segunda reunião ficou marcada para 11 de novembro, já para analisar uma pauta de quatro pontos que inclui a soberanía nacional, a verdade, direitos humanos e reparação de vítimas de incidentes violentos, as questões econômica e social e como gerar confiança e avançar com o cronograma eleitoral.

Como facilitadores da discussão estiveram, além de monsenhor Celli o Secretário-Geral da Unasul Ernesto Samper, mais os ex-presidentes da REpública Dominicana Leonel Fernandez, do Panamá Manuel Torrijos e o ex-1º Ministro da Espanha José Luis Zapatero. Pela MUD falou Jesús Torralba, alertando que a agenda de manifestações contra o governo está mantida e que se esperam sinais concretos de entendimento para o 11/11, pois em caso contrário retirar-se-á da mesa de diálogo. Enquanto Thomas Shannon, representando o governo Obama, apoia aparentemente com entusiasmo o processo agora instalado; Vontade Popular, a agremiação política cujo líder Leopoldo López segue no cárcere, não compareceu por considerar que não existem condições efetivas para o diálogo, mas não fechou as portas para a hipótese de participar nas próximas reuniões.

Tem gente demais em volta dessa mesa e a larga agenda de quatro pontos desde logo remete às velhas tradições latino-americanas de mais jogar conversa fora do que buscar atalhos para soluções concretas, além de que persistem as desconfianças de vários líderes oposicionistas de esta é apenas mais uma manobra de Maduro, destinada a ganhar tempo e enfraquecer seus cada vez mais numerosos adversários.