Parece incrível que a Holanda, um dos países mais desenvolvidos e democráticos do mundo, esteja às vésperas de proporcionar a um populista de extrema direita, Geert Wilders do Partido para a Liberdade (PVV) a possibilidade de formar o próximo governo. O sistema é parlamentarista, pluri-partidário e 150 cadeiras estão em jogo nas eleições desta 4a. feira, 15 de março. O favoritismo do atual 1º Ministro, Max Rutte do Partido para a Liberdade e a Democracia (VVD), de centro-direita, diminuiu drasticamente, mas as previsões são de que ainda consiga vencer, com uma cadeira ou duas a mais que os populistas de Wilder. As pesquisas indicam o seguinte resultado, segundo o nº de cadeiras (entre parêntesis o resultado obtido na eleição de setembro de 2012): Centro-direita do VVD 24 (41) – Populistas do PVV 22 (15) – Trabalhistas do PvdA 9 (38) – Socialistas do SP 15 (15) – Cristãos-democratas do CDA 22 (13) – Democratas do D66 com 17 (12) – Verdes do GL 20 (4) – Aposentados do 50 Plus 5 (2) – Outros 16 (10).

A queda maior foi dos trabalhistas que governaram junto com Rutte nos últimos anos. Dois grandes temas dominam os debates: Imigração e Identidade Nacional. Mesmo os partidos tradicionais que governam o país desde o fim da 2a. Guerra e a esquerda têm propostas nacionalistas, como a restrição da movimentação de trabalhadores estrangeiros, um dos pilares da União Europeia. Na Holanda os governos sempre são de coalizão e ainda que Wilders vença não deverá conseguir formar uma maioria minimamente estável por falta de quem o apoie. A plataforma do PVV tem como propostas banir a migração proveniente de países muçulmanos, bloquear as fronteiras holandesas, fechar as mesquitas, banir o Corão, abandonar a União Europeia e o Euro. Os resultados do pleito holandês certamente influenciarão as outras votações europeias previstas para este ano, na Alemanha, França e Hungria.
Um fator de última hora surgiu com as ofensas proferidas por Tayyp Erdogan, o ditador turco que deseja aumentar seus poderes por meio de um plebiscito nacional. Numa reação desmedida chamou o governo holandês de nazista, anti-islâmico e de “República de bananas” por ter impedido a entrada do ministro turco de relações exteriores cujo objetivo era fazer um comício para a numerosa comunidade otomana que vive em Rotterdam. A legislação holandesa proíbe a realização de manifestações políticas de apoio a temas de interesse interno de outros países. Isso ocorreu também em outros estados europeus, mas Erdogan – hoje um aliado do líder russo Vladimir Putin -, interessado em desestabilizar ao máximo a União Europeia, não por acaso escolheu a agora indecisa Holanda para seus ataques. Embora pareça contraditório, o efeito na prática deve ser um favorecimento final, desejado e talvez decisivo a Geert Wilders.

Vitor Gomes Pinto
Escritor e analista internacional