O interesse em saber como se origina a fé na própria capacidade tem grande importância educacional, dado que esta é uma boa chave para o controle do processo de ensino e aprendizagem; despertar na criança ou no jovem esta potencialidade facilita o trabalho docente, pode produzir um profissional mais competente no futuro, e uma pessoa melhor na convivência com sua comunidade.

São várias as origens de uma boa crença em si mesmo. A mais importante delas é constituída pelas experiências exitosas que vamos acumulando ao longo da vida, sucessos continuados em tarefas simples acumulam-se e fortalecem o senso de uma possível vitória em eventos mais complexos. O sentimento de dar conta é construído lentamente, pequenas conquistas como auxílios domésticos realizados a contento, frases espirituosas elogiadas, reconhecimento de esforços mesmo que ínfimos. Por outro lado, fracassos repetidos, exigências impossíveis de serem atendidas a cada etapa de desenvolvimento, darão um senso mais deficitário de eficácia, um medo que poderá imobilizar. Famílias são importantes neste quesito, estimulando crianças e jovens a cumprirem tarefas e vencer desafios, com bom senso e respeitando limitações que são normais em cada faixa etária, situação de saúde e adesão aos esportes. Uma pesquisa interessante feita da década de 1980 constatou que crianças que podiam assistir um vídeo onde se filmara uma sua vitória significativa na solução de algum problema, tendiam a ter melhor desempenho nos próximos desafios em relação àqueles que não tiveram seu desempenho filmado, o que sugere que a observação do próprio sucesso incrementa sua autoconfiança, ou seja, a percepção do progresso real de certa forma modela seu progresso na aquisição de habilidades. Fracassos anteriores são fortes indutores de ansiedade, quando estes são associados – principalmente pelos adultos – à sua capacidade, mais que ao esforço ou facilidade/dificuldade da tarefa, ou mesmo ao simples azar.

Outra forma de aumentar a autoestima, embora não tão eficaz quanto a anterior, é pela observação da experiência de outros, principalmente aqueles com quem houver identificação (mesma faixa etária, interesses comuns) ou então alguma admiração (ídolos, pessoas mais velhas com características que entusiasmem), pois observações podem sugerir a possibilidade de que também sejamos vitoriosos em empreitadas semelhantes. Evidentemente a recíproca é verdadeira, pois quando todos os pares não estão tendo sucesso, a conclusão é de que também não teremos, e isso pode implicar no abandono do empenho na tarefa, e professores se preocupam particularmente com isso, pois determinar uma atividade impossível de ser realizada por todo um grupo de alunos, além de demonstrar deficiência de planejamento e desconhecimento das especificidades daquela sala em especial, ainda pode servir como decréscimo de crença em si mesmos, por parte de muitos ali presentes.

Outra forma possível é simplesmente pela persuasão, ou seja, pela conversa direta e simples, que demonstre confiança na capacidade do jovem para a realização de suas tarefas. Num tempo de muitos celulares e muita conversa virtual, um verdadeiro diálogo, com calma e amizade, pode funcionar bastante bem, principalmente se partir de uma pessoa que goze de credibilidade e que possa comprovar suas palavras, com exemplos anteriores de sucessos obtidos e valores demonstrados.

Porem é importante que todo aquele que desejar incrementar a autoconfiança de um jovem ou criança perceba seu estado de saúde, possíveis sintomas de ansiedade, assim como determinados distúrbios de atenção ou aprendizagem, como dislexias, dislalias e vários outros que prejudicam a instrução, gerando vulnerabilidades que podem ser sanadas.

A crença em si mesmo é sempre uma inferência pessoal, da qual resulta uma proposição que faremos sobre nós mesmos para toda a vida, e difícil de mudar; cuidar da infância é assim fundamental.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.