Primeira capital do país, fundada em 1º de junho de 1533, Cartagena é hoje um destino turístico da Colombia com destaque internacional. A Colombia deve seu nome ao navegador que nunca largou âncora em seu mar, nem jamais colocou os pés em suas terras.

O país de 47 milhões de habitantes se inspirou no reino espanhol, no modo de vida da aristocracia madrilena, na alegria das festas da Catalunha, na elegância dos prédios da Andaluzia, no rigor da paróquia castelhana.

Cinco séculos depois da chegada dos primeiros colonos, em 1499, tomou o nome de Locombia, contração de loco e Colombia. Sempre procurada por estrelas pop como Shakira, ou artistas como Fernando Botero, e o prêmio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marquez – 1982 – recebeu também Pablo Escobar, chefe do cartel de Medellín.


Cidade murada, teve muros protetores iniciados em 1600

Cartagena das Índias, seu nome de origem, eclética e acolhedora, está sempre na moda. O turista que optar por Cartagena como destino de férias, estará optando também por tradições seculares. E deve ir, como primeiro passeio, ao Café del Mar, instalado nas muralhas da cidade, para curtir a esplanada com calçamento de pedras polidas pelos muitos séculos de uso. A esplanada funciona como um grande salão, aberto para o mar. O turista tem a sensação de estar em um clube exclusivo, lugar perfeito para experimentar um mojito, uma margarita ou cerveja no final da tarde, quando o espetáculo é o pôr do sol, com ondas que chegam ao horizonte, céu em fogo, o balé dos surfistas fazendo manobras sobre as ondas. Um espetáculo gratuito (a Margarita custa 7 euros)

A muralha envolve a cidade com seus 12 quilômetros de construção, realizados entre 1600 e 1798. Para entender a história local e a cultura do povo, é preciso subir até o monastério Pope, de 1606, construído na elevação de 150 metros. A vista é panorâmica sobre Cartagena, tanto a antiga quanto a nova, Boca Grande.


Cartagena, primeira capital da Colombia, é um dos principais destinos turísticos do país

A extensão moderna foi construída em uma faixa de terra de três quilômetros. A capela do convento abriga a estátua de Nossa Senhora da Candelaria, eterna padroeira da cidade, sempre salvando o povo das ameaças como a lepra e os piratas. Uma vez ao ano, no dia 2 de fevereiro, a imagem desce da colina com sua coroa de ouro, oferecida pelo papa João Paulo II em 1986, quando de seu visita a Cartagena. A procissão é um dos destaques do calendário festivo local.

Além da capela, o turista pode visitar o museu histórico, mesmo que tenha esquecido de falar sobre os anos negros, quando os galeões espanhóis desembarcavam sua carga de escravos negros e repartiam lotados de ouro e esmeraldas.

As muralhas, classificadas em 1984 pela Unesco, abrigam dois bairros: de um lado o centro, dominado pela basílica de Santa Catalina de Alexandria ( 1577- 1661), em torno da qual foram erguidos palácios grandiosos, residências de capitães e a nobreza colonial, além de pequenas praças arborizadas e suas calçadas de pedras antigas. É o melhor ângulo para boas fotos.


Hotéis de luxo, pousadas charmosas, o turista é bem recebido na cidade histórica

Getsemani é o outro lado, bem mais simples. Ali o som da salsa reverbera das janelas, crianças jogam futebol na rua, pintores amadores reproduzem as fachadas coloridas e o resultado final é cinematográfico. As casas baixas ficam de portas abertas, alinhadas ao longo de ruazinhas tão estreitas, que dá a impressão que buscam apoio umas nas outras.

Roupas secam ao vento e sol, seguindo as linhas elétricas e as pessoas sentam em cadeiras de plástico nas calçadas, para olhar o tempo passar. Não há pressa. A Colombia básica vive ali. O ponto em comum entre os dois bairros são as praças e jardins, lugares de encontro e de movimento. Parque Bolívar ou Fernandez de Madrid, praça San Pedro Claver ou Santo Domingo, cada lugar é uma espécie de território independente.

Quando a noite cai começa a festa com música, bandas de metais (steel band), guitarristas, fanfarras. Barracas coloridas oferecem lembranças turísticas, artesanato, chapéus de palha, bijuterias, cópias de esculturas de Botero, tecidos manuais, óculos falsos de marcas famosas, cigarros falsificados.

É hora de beber uma Aguila gelada no porto, enquanto a suavidade tropical cobre a cidade com seus encantamentos. Fachadas e ruazinhas pavimentadas marcam a elegância colonial, por onde desfilam morenas de silhueta de manequins e latin lovers mal barbeados, com porte de marinheiros e de toureiros. É hora do charme e da sedução.

Bares de mesas na calçada, ambientes animados escondem outras belezas. Basta empurrar um portão para se deslumbrar com pátios floridos, balustradas, jardins internos. A casa maior é Casa Pestqgua, transformada em hotel cinco estrelas, associado à cadeira Relais & Châteaux – o primeiro da Colombia. O diretor é um francês que vive há vinte anos na Colombia e foi arqueólogo, diretor de teatro, executivo, escritor, ator de novelas colombianas. Projetou o hotel-palácio de 11 apartamentos espalhados em três andares, com restaurante famoso, um grande pátio arborizado, piscina. Quem fica nas suítes que dão vista para a rua, pode ouvir os passos dos pedrestes, a passagem das caleches levando turistas, a conversa das señoritas que desfilam com seus vestidos de renda. Dá para ouvir também o som das taças de cristal de quem vai beber champanha. E ver o brilho das pedras preciosas, os raios de sol atravessando os cachos de orquídeas, a fonte de águas transparentes.

Como tudo é Caribe, vale conhecer a ilha de Mucura ( duas horas de barco rápido, custando 60 euros). A ilha é uma miniatura com 30 hectares de terra, onde fica o hotel Punta Faro, com 37 quartos. Não há chaves nas portas e os turistas, ilhados entre a laguna de águas claras e caminhos de areia e coqueiros, podem parar para pensar na vida. Para usar a internet, procur Desconectate del mundo. A praia é de sonho, os quartos são mínimos, a calma é absoluta. Ambiente perfeito para casais que apreciam o voo das fragatas e outros pássaros e curtem a fonte do jardim. O jantar é servido cada noite em um lugar diferente, com luz de velas.

Santa Cruz del Islote dista 10 minutos de barco. É um cenário artificial, que teve base em um coral. Um pescador ergueu ali uma cabana, outro chegou, e pronto: hoje são 600 pessoas que se amontoam em um hectare em de areia. A comunidade vive em casas de janelas abertas, ouve música sempre e curte a paisagem. Há uma escola, vários bistrôs, um aquário, duas mercearias, um restaurante. A favela origina a leva de empregados do Punta Faro e os pescadores que alimentam o restaurante com peixe fresco. Os habitantes são pobres. Mas vivem em liberdade, seu tesouro maior. Bom lugar para limpar a cabeça de tantas más notícias e tantos horrores diários.