Se é em momentos de crise que criamos oportunidades, que inovamos sendo criativos, podemos dizer que a operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, nos deixou boas lições.

A primeira delas é o perigo das generalizações e como isso pode reverberar. Quando nos damos conta da irresponsabilidade, muitos já foram atingidos.

O que nos conduz à questão da comunicação, ponto importante a ser ressaltado. Já foi destacado que a operação tinha como alvo a corrupção e não a produção, mas quando isto foi esclarecido, as palavras já tinham se espalhado como folhas ao vento e as restrições dos importadores já tinham ocorrido. A velocidade com que se divulgam fatos e versões na era digital é absurda.

Separado o joio do trigo, começam a aparecer os pontos positivos da história, porque é também na crise que nos tornamos mais fortes. O episódio funcionou para o setor como uma simulação de incêndio, para sabermos se diante de uma situação real que coloque em risco a sanidade da nossa produção, estamos prontos para darmos uma solução, sem comprometer a saúde de um plantel inteiro.

O Ministério da Agricultura foi ágil apresentando respostas, esclarecendo os fatos e acalmando os ânimos da opinião pública e dos importadores. Prova disto foi à rápida normalização do mercado.

É claro que nada disto teria sentido se não houve consistência nos fundamentos apresentados. Nenhum discurso se sustenta se a prática comprova o contrário. Se realmente a nossa carne não tivesse qualidade, o próprio consumidor teria contra argumentado e não teria sido tão pronta a reabertura de mercado.

E o que houve foi o inverso, o monitoramento de algumas instituições, como o próprio Mapa mostrou que mesmo com todo o barulho, a confiança do consumidor não foi abalada.

Mais uma lição. Podemos demonstrar que, apesar de casos como os que originaram a Operação Carne Fraca, que são isolados e devem ser punidos com o rigor da lei, o setor tem organização suficiente para administrar uma iminente crise que possa vir a ocorrer. É isso o que é importante quando se fala em sanidade. A rapidez de resposta aos problemas no momento imediato em que ele é detectado.

Isto não nos isenta de melhorarmos o nosso serviço de inspeção sanitária. É oportuno que se discuta o assunto. O governo federal alterou o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa), que era de 1952, o que permitirá maior rigidez na punição aos estabelecimentos industriais por suas ações.

No final de março foi inaugurado o Laboratório Multiusuário de Biossegurança para a Pecuária (Biopec), instalado na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS). Outra medida que atestará a qualidade da carne da América Latina.

Esse deve ser o nosso caminho em todas as cadeias produtivas do agronegócio: pesquisa; inovação; segurança alimentar; e excelência no que fazemos. A crise também nos mostra oportunidade.

A avicultura poderia ser tão ou mais afetada que a pecuária de corte neste episódio, o que teria gerado um efeito em cascata, atingindo até mesmo a produção de grãos num cenário mais negativo.

Contudo, o que vemos é um cenário de oportunidades. O mundo precisa de proteína animal. O Paraná é o maior produtor e exportador brasileiro de aves. Atualmente, o vírus da gripe aviária circula em mais de 30 países, um problema que até o momento não enfrentamos. De qualquer forma, temos preparo para lidar com a situação e manter o nosso plantel saudável para suprir a demanda do mercado externo. Quem disse que a carne é fraca?

Ágide Meneguette é presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR