Exaustão emocional, fadiga, impaciência, irritabilidade, estresse, falta de concentração, falhas de memória, decepção e baixa satisfação com as atividades do trabalho, além de insegurança a respeito de suas habilidades profissionais. Se você se identificou com estes sintomas, pode estar sofrendo com a síndrome de burnout. Cada vez mais frequente – uma pesquisa realizada pela sede brasileira da International Stress Management Association com mil profissionais identificou que 72% dos entrevistados sofriam com estresse, sendo que 30% deles apresentavam o Burnout – a síndrome, que inicialmente foi identificada em profissionais que lidam diretamente com o público, como médicos e professores, hoje pode afetar qualquer um: do alto executivo à dona de casa.

Estresse todo mundo tem, em algum momento, e por vezes até com muita frequência. Mas é passageiro e não consome o pensamento em tempo integral. O indivíduo estressado com o trabalho mantém a capacidade de se desconectar, seja num final de semana ou nas férias, com a resolução do problema emergencial que gerava o estresse, explica o psiquiatra Carlos Augusto Maranhão de Loyola. Mas quando estes sentimentos se prolongam e o ambiente de trabalho passa a acarretar uma série de problemas de saúde, como hipertensão, obesidade, distúrbios do sono e dores no corpo, é preciso ligar o sinal de alerta.

Quando a síndrome se instala, a pessoa apresenta sintomas de esgotamento mental e deixa de realizar atividades que saiam da rotina casa-trabalho. O indivíduo dorme mal, se alimenta mal e coloca a atividade física e os momentos de lazer de lado. A preocupação com trabalho se torna uma constante, revela Loyola. Segundo o especialista, as vítimas do burnout ainda passam a duvidar de sua própria capacidade de solucionar problemas profissionais, sentem-se desassistidas e passam a um estado de indiferença emocional generalizada, tanto nas relações profissionais e pessoais – muitas inclusive podem desenvolver a dependência química, já que buscam em determinadas substâncias um canalizador para toda esta angústia.

Mas o que pode gerar a síndrome? Carga horária excessiva, funções extremamente burocráticas, pouca liberdade no exercício do trabalho, turnos irregulares, estrutura desorganizada da empresa e chefias que dão ordens ambivalentes são os gatilhos mais comuns para o adoecimento profissional. Indivíduos com característica de personalidade perfeccionista, ansiosos, competitivos, narcisistas, pessoas que não medem esforços para se destacar, sempre com a intenção de manter um alto desempenho, também são mais propensos a ter a síndrome. Segundo dados de 2016 da Previdência Social, mais de 75 mil trabalhadores foram afastados de suas funções no período em razão de quadros depressivos, como o burnout – até 2020, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão será a doença mais incapacitante do mundo.

O tratamento precisa objetivar uma mudança no estilo de vida, tanto no que diz respeito à relação do indivíduo com o trabalho, quanto aos padrões de sua personalidade que possam facilitar o desenvolvimento do burnout. Isso pode ser conquistado por meio da psicoterapia e de uma reorganização de vida que leve o sujeito a controlar melhor a separação entre a entrega saudável e prejudicial ao trabalho. Entretanto, nos casos em que as alterações de humor ou a ansiedade sejam muito evidentes, pode ser necessária a prescrição de psicofármacos, afirma o psiquiatra. A prevenção, no geral, se dá por hábitos de vida saudáveis – atividade física regular, alimentação saudável, sono adequado, separação de momentos para o lazer e trabalho. Precisamos tomar as rédeas da rotina, saber colocar limites, não deixar de fazer aquilo que nos traz recompensa – seja um futebol para descontrair com os amigos, um final de semana desconectado do celular com a família ou tempo para brincar com os filhos.


Sintomas da Síndrome de Burnout:

1 – Necessidade de se afirmar ou provar ser sempre capaz;

2 – Dedicação intensificada, com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho e a qualquer hora do dia (imediatismo);

3 – Descaso com as necessidades pessoais – atividades como comer, dormir, sair com os amigos começam a perder o sentido;

4 – Recalque de conflitos – o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas;

5 – Reinterpretação dos valores – isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da autoestima é o trabalho;

6 – Negação do outro – nessa fase os outros são completamente desvalorizados, tidos como incapazes ou com desempenho abaixo do seu. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;

7 – Recolhimento e aversão a reuniões (antissocialização);

8 – Mudanças evidentes de comportamento (dificuldade de aceitar certas brincadeiras com bom senso e bom humor);

9 – Despersonalização – evitar o diálogo e dar prioridade aos e-mails, mensagens, recados etc.;

10 – Vazio interior e sensação de que tudo é complicado, difícil e desgastante;

11 – Depressão – marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;

12 – E, finalmente, a do esgotamento profissional propriamente dito, que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica uma urgência, com sintomas variados: fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, muita falta de ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e problemas digestivos.