O picadeiro, as tendas e as lonas não são os únicos lugares em que se pode ter experiências circenses. Por meio do Projeto de Extensão Circo e Artes Ginásticas, a UFPR promove diferentes atividades relacionadas ao circo, das quais podem participar todos que tiverem interesse. As aulas de atividades circenses, desenvolvidas pelo Circo UFPR, e o grupo de pesquisa e produção de conhecimento em Circo Cirthesis são opções para os admiradores da temática.

Inspirado no Cirque du Soleil, o Circo UFPR nasceu a partir da tese de doutorado do professor Sérgio Abrahão, coordenador do projeto de extensão, que tinha como objetivo estudar formas de levar o Circo Novo – método que não adota a presença de animais em espetáculos, trabalhando mais com a presença corporal dos artistas – para a escola. A iniciativa surgiu há cerca de 12 anos e foi incorporada ao programa de Ginástica que é aliado do circo.

As aulas de atividades circenses ocorrem em duas turmas, uma de iniciação ao circo e outra de alunos mais avançados. Os encontros acontecem duas vezes por semana para cada grupo e novas turmas são abertas todos os semestres. O grupo avançado está em funcionamento desde 2013, porém sempre há renovação. À medida que os alunos iniciantes ficam mais experientes, vamos chamando para que componham essa turma, explica a professora responsável pelas atividades, Michele Rodrigues. O tempo mínimo para trocar de turma é de seis meses e também são levados em conta pré-requisitos como comprometimento e assiduidade.

Aberta à comunidade interna e externa, a prática é uma boa opção de atividade física porque envolve as diversas vertentes do circo e se adapta à praticamente todos os perfis físicos. O projeto me encantou principalmente porque conseguimos atingir muitas pessoas. Aqui tem lugar para todo mundo, baixinho, gordinho, alto, etc. O circo é algo acolhedor, que te ‘abraça’ fazendo com que se se sinta parte de um grupo, relata Michele. Segundo a professora, é gratificante notar pessoas que, no início, tinham medo de praticar e hoje realizam acrobacias difíceis. Muitos pensam que os movimentos são complicados e que não conseguem realizá-los. Mas se você não deixar seu corpo experimentar, nunca saberá se consegue.

Encenações, acrobacia, malabares, ginástica, dança, teatro, entre outras vertentes do circo são abordadas nos encontros. Trabalhamos um pouco de cada modalidade, passando para os alunos todas as experiências da área. O circo tem várias linguagens expressivas e corporais, a ideia é proporcionar uma visão do circo como um todo, conta Michele.

Além de se exercitar e aprender novas técnicas, os grupos também realizam apresentações e oficinas em escolas públicas. Nas oficinas, normalmente, são mostradas técnicas iniciais de malabares e manobras simples de acrobacia. A dinâmica vem junto com um pouco da história do circo e da conscientização a respeito dos animais. As apresentações são espetáculos criados especialmente para cada evento e podem ser solicitados por quem tiver interesse com três meses de antecedência.

Naomi Hashimoto tem 20 anos, é aluna do curso de Direito da UFPR e faz parte da turma de iniciantes desde o começo deste ano. Ela decidiu pela prática por ser uma entusiasta em experimentar coisas novas. Estou achando incrível, nunca imaginei que passaria por esse tipo de experiência, pois é muito diferente de tudo que já fiz. É incrível a união do grupo, eu sinto muita vontade de vir às aulas e me divirto sempre, afirma.

O estudante de mestrado Elielton Araújo, de 24 anos, também é iniciante e recomenda a atividade para todo mundo. Achei esse projeto uma ótima iniciativa e espero que ele só cresça, pois faz muito bem para o corpo e para a alma.

As aulas acontecem no Departamento de Educação Física da UFPR às terças e quintas-feiras das 18h às 20h para o nível avançado e às segundas e quartas-feiras das 18h às 19h30 para os iniciantes.

Cirthesis

Aliado à prática, o grupo de pesquisa e produção de conhecimento em circo, Cirthesis, visa aprofundar a compreensão do circo no sentido de fundamentos, teorias e aprendizado. O foco é a pesquisa sobre a pedagogia do circo e tentar desenvolver uma didática por meio da iniciação ao tema, identificando quais são os princípios e elementos linguísticos que compõem esse universo. Participam das discussões, que ocorrem quinzenalmente, professores, alunos de iniciação científica, pesquisadores, formadores em circo, entre outros interessados.

Estamos tentando pensar na prática do circo enquanto verbo. ‘Circar’ significa uma pluralidade composta por acrobacias, palhaço, ilusionismo e todos os elementos culturais que pertencem a esta arte. Com relação ao ensino do circo associado à educação física, outro desafio é entender o que acontece com o corpo na prática dessas atividades, conta o responsável pelo projeto, Bruno Tucunduva.

O Cirthesis atua com a produção científica e acadêmica, porém tem parceria com circos e escolas de circo que contribuem como objeto de análise para as pesquisas. Para Michele, essa é uma troca de conhecimentos que se complementa. Por meio desse grupo, passamos a estudar a parte técnica, cênica, a intenção dos exercícios, qual o público a se atingir e a linguagem da apresentação, explica.

Esse é um projeto inovador não só por sua temática, pouco explorada, mas também pela forma de abordagem e integração dos participantes. A ideia é agregar mais pessoas ao grupo por meio da participação online. Durante nossos encontros, abrimos videoconferências, assim pessoas de outros lugares também colaboram. Na última reunião tivemos dois participantes do Espírito Santo e uma pesquisadora de uma universidade uruguaia, conta Tucunduva. Segundo o professor, a missão é internacionalizar o projeto, justamente por isso os artigos são produzidos em português e em inglês e, no futuro, também estarão disponíveis em espanhol.

Além das videoconferências, outra ferramenta utilizada pelo grupo é a intitulada Recursos Educacionais Abertos. São vídeos contendo entrevistas, slides e exercícios que explicam práticas, conceitos e experiências de forma mais dinâmica. Acompanhando os vídeos, são produzidos textos curtos com abordagem científica e disponibilizadas fontes de pesquisa para incentivar o aprofundamento na temática e orientações pedagógicas. A proposta desses recursos online é atingir pessoas que estão pesquisando o circo, estão começando a se formar enquanto artistas e que possam discutir conosco e propor projetos de pesquisa, afirma Tucunduva.

O professor trouxe o projeto para a UFPR há cerca de um ano, mas a iniciativa, de sua autoria, já existe há dez anos. Apesar de o foco ser pedagogia e iniciação ao circo, propostas a respeito de diferentes temas de pesquisa são bem-vindas. Os encontros são quinzenais às quartas-feiras das 13h30 às 15h30 no Departamento de Educação Física da UFPR.

Os interessados podem acompanhar os projetos por meio da página Circo UFPR e do grupo Cirthesis no Facebook.