SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em vez de presentes e produtos comprados em free shops, a lista de pedidos dos parentes dos venezuelanos que moram em São Paulo e visitam sua terra natal nos últimos anos inclui comida, produtos de higiene pessoal e, principalmente, remédios.
Enquanto conversava com a reportagem, a advogada Blanca Montilla, 49, pedia ao sogro, médico, que fizesse receitas para os medicamentos de hipertensão e diabetes da mãe, que ainda mora em Caracas.
Sete meses atrás, quando foi ao país pela última vez, as irmãs pediram café, leite e outros alimentos. “Só viajei com duas camisetas e o resto ainda era de coisas para deixar lá. Ainda saí com excesso de bagagem”, disse.
Já a esteticista María Fuentes, 38, foi a um supermercado de Santo André (ABC paulista) e encheu o carrinho com xampus e condicionadores, tubos de pasta de dente e sabonetes para levar para a família que vive no Estado de Aragua (oeste).
“Minhas irmãs quase choraram quando viram o xampu. Havia quase um mês que elas não sabiam o que era lavar o cabelo com xampu e usar um desodorante.”
Além das encomendas familiares, Montilla e Fuentes levaram também remédios a parentes de outros venezuelanos. A escassez que afeta suas famílias fez com que os imigrantes se unissem.
A interação ganhou força em 2014 e acontece, na maioria, em grupos nas redes sociais. O maior deles, Venezuelanos Residentes em São Paulo, reúne 900 pessoas.
Na página, há dezenas de pedidos de usuários perguntando se alguém pode levar encomendas. Os remédios estão no topo da lista, principalmente os de uso controlado.
“Boa noite, por favor existe alguém que esteja viajando em breve de São Paulo a Caracas que possa levar remédio para um paciente epilético?”, disse uma usuária, na última sexta-feira (26).
Membro de grupos de expatriados desde que chegou ao Brasil, em 2006, Fuentes afirma, porém, que o número de pessoas que ajudam está diminuindo. “Acho que as pessoas estão tendo que levar tanta coisa que não conseguem pôr esses pedidos nas suas bagagens”, lamenta.
Sem poder ir ao país com frequência, o economista Héctor Aguilera, 44, se reveza com os irmãos nos EUA para arcar com o custo elevado de enviar a cada dois meses uma encomenda com todos os produtos que faltam.
PROTESTOS
A união devido à ajuda mútua fez com que os venezuelanos em São Paulo se organizassem também para fazer manifestações de apoio aos conterrâneos que estão nas ruas contra Nicolás Maduro.
O primeiro protesto, em 15 de abril, reuniu 50 pessoas no parque Ibirapuera. Na semana seguinte, o número triplicou e o grupo chegou a fechar a avenida Paulista. No sábado eles fizeram uma missa em homenagem aos 60 mortos nos dois meses de protestos.
Diante da repercussão, eles dizem ter recebido contatos do Movimento Brasil Livre e do Vem pra Rua, que foram a favor do impeachment de Dilma Rousseff e comparam o PT com o líder venezuelano.
Os planos para um ato conjunto, desejado pelos manifestantes brasileiros, porém, foram recusados.