Uma pena que a ação policial que apelida cada capítulo de uma novela política que parece nunca ter fim, tenha escolhido o nome Pátmos para identificar um momento dos mais escabrosos, terríveis e acintosos, da nossa história. Mais parecido com algum filminho de terror de ficção científica, com toques melodramáticos e até cômicos, como os que aparecem em novelas mexicanas, o tal filminho de quinta categoria colocou em cena Pátmos, a Ilha Sagrada.

Conhecida como a Jerusalém do Egeu, Pátmos começou a ficar famosa desde que São João chegou às suas praias, no ano 95 depois de Cristo, fundando o Monastério de São João em 1088. A vida monástica e espiritual começou a declinar, quando os habitantes locais ficaram ricos, através do comércio e da construção de navios. O mundo então mudou, com os monges dividindo as terras com os novos ricos.

Pátmos faz parte do Dodecaneso, junto com as ilhas Lipsi, Leros, Kalymnos, Kos, Astypalia, Nisyros, Tilos,Symi,Rhodes, Chalki, Kastellorizo e Karpathos. Espalhadas ao longo da costa da Turquia, as ilhas do Dedocaneso são localizadas ao Sul, atraindo turistas por causa de suas praias e por terem as cidades mais cosmopolitas do arquipélago, marcadas pelas influências de outras culturas na sua arquitetura. Formam o último território anexado à moderna Grécia.

Provavelmente a distância de Atenas e do continente foi um dos fatores que ajudou no grande número de invasões de outros povos, que deixaram traços da ocupação por toda parte. Há templos construídos pelos dorians em Rhodes e os Cavaleiros de São João foram os mais famosos invasores, chegando na ilha em 1309 e ficando lá até 1522, quando foram derrotados por Suleiman,o Magnífico.

Se a arquitetura otomana é mais presente nas ilhas maiores e mais ricas, como Kos e Rhodes, os italianos chegaram em 1912, depois de séculos de domínio turco em suas terras. Foram os italianos que, sob ordens de Mussolini, construíram imponentes edifícios públicos em cidades como Lakki (Léros). Somente em 1948, depois de anos de ocupação, as ilhas foram anexadas ao Estado Grego em 1948.

O Dedocaneso varia paisagens de maneira dramática, passando de terras secas como em Chalki e Kásos, para Tilos e Nisyros, onde vulcões transformaram as terras em terrenos férteis e verdes. Astypália e Pátmos, com suas casas caiadas de branco, continuam mantendo o ar de autenticidade, já difícil de encontrar em outras ilhas mais procuradas pelo turismo de massa. O clima das ilhas do Dodecaneso é agradável até em pleno outono, propiciando longas temporadas de veraneio para quem procura praias.

Praias de areia ou pedras, esportes aquáticos, portos para iates, vales e montanhas, grutas e canyons e até vulcão (em Nisyros) são os atrativos para visitantes do mundo todo. Mas é na parte histórica que reside o mistério e o charme da região, como o famoso Monastério de São João em Pátmos, do século 11, o Asklepieion de Kos, a cidade com muralhas medievais dos Cavaleiros de Rhodes, e a única e tradicional cidade de Olympos em Kárpathos.

PÁTMOS

Ferry boats, iates, navios de cruzeiro atracam em Skala, porto e principal cidade que se estende em torno da baia bem abrigada. Lojinhas e restaurantes servem a quem chega até a ilha por algumas horas. Chora fica no final de uma ruazinha de chão de pedras, que leva ao Monastério de São João. A vista panorâmica no alto desvenda Samos e Ikaria e o aglomerado de 40 monastérios e capelas da região. Chora é uma jóia da arquitetura bizantina e principal atração fica dentro da igreja Agia Anna, dedicada à mãe da Virgem Maria. Dentro da igreja fica a Sagrada Gruta do Apocalipse, onde São João teve a visão do fogo e ditou o Livro das Revelações ao seu discípulo Prochoros. Os visitantes conhecem também a pedra onde Revelações foi escrito e o lugar onde o santo apoiou sua cabeça.

Há pinturas nas paredes do século 12 e ícones de 1596 de São João do pintor cretense Thomas Váthas. Dizem que São João ouviu a voz de Deus saindo de uma clivagem na rocha, visível ainda hoje. A rocha é dividida em três partes, simbolizando a Trindade.

MONASTÉRIO DE SÃO JOÃO

O Monastério de São João, do século 12, é o mais importante local de peregrinação dos ortodoxos e católicos. Fundado em 1088 pelo monge Christodoulos, em honra a São João, o Divino. Um dos mais ricos e influentes monastérios da Grécia, tem arquitetura que lembra um castelo de contos de fadas, com suas pontes e torres. Mas foi construído para proteger tesouros religiosos, que atraem milhares de turistas todos os anos. São mais de 200 ícones, 300 peças de prata e uma quantidade de jóias de grande valor.

O evento principal no Monastério é a celebração da Páscoa Ortodoxa, a mais importante de toda a Grécia. Milhares de visitantes de aglomeram em Chora para assistir à Cerimônia Niptiras, quando os pés de 12 monges são lavados, lembrando o evento em que Cristo lavou os pés de seus discípulos, antes da Última Ceia.

Final de primavera, início do verão, é a melhor época para viajar até a Grécia. Esqueça do que anda acontecendo por aqui, mesmo que tenham o nome sagrado de Pátmos. É a vida que segue, independentemente de algumas pessoas e de mal feitos.

DETALHES

Kos, Rhodes e Karpathos têm aeroportos internacionais. Léros, Astypália e Kásos são aeroportos domésticos. Viajando por mar, é preciso decidir para onde pretende ir, já que muitas ilhas não têm conexões diretas, mesmo que sejam próximas umas das outras. Alguns trechos são longos: são necessárias nove horas para navegar entre Rhodes e Pátmos. Tenha em mente que o clima pode mudar repentinamente. O vento frio meltémi pode ser agradável no alto verão, mas como é muito poderoso, pode impedir o serviço de ferryboats, deixando turistas literalmente ilhados.

O serviço de ônibus costuma ser bom, principalmente nas ilhas maiores e mais frequentadas. E sempre haverá taxis , motos e bicicletas para serem alugados. Claro que o estado das estradas varia bastante. Mas você estará na Grécia e já é o bastante.