Na última sessão antes do recesso parlamentar de julho, a Câmara Municipal de Curitiba voltou a viver um clima de hostilidade contra os vereadores em razão da aprovação de quatro dos projetos do pacote de ajuste fiscal do prefeito Rafael Greca (PMN). Pela quarta vez em quarenta dias, nesta quarta-feira (28)  a Casa foi invadida por manifestantes contrários às medidas, que gritaram palavras de ordem e lançaram cédulas de dinheiro falso sobre o plenário. A sessão chegou a ser suspensa às 9h30, pouco mais de meia hora depois de aberta, e só foi retomada quatro horas depois, às 11h45, quando os servidores já haviam deixado o plenário. 

Na véspera, os vereadores haviam concluído a aprovação dos projetos, em sessão realizada na Ópera de Arame, depois que duas tentativas anteriores de votar as medidas haviam terminado em ocupação do Palácio Rio Branco, sede do Legislativo municipal, no Centro da Capital. Na segunda-feira, a votação foi marcada por confrontos entre policiais militares e servidores, que terminou com pelo menos 24 feridos, segundo a Secretaria de Estado da Segurança, entre eles 14 policiais e dez manifestantes.

Ontem, pouco tempo depois de aberta a sessão, um grupo de cerca de 100 pessoas ocupou as galerias da Câmara, ignorando o limite de 28 visitantes estabelecido, segundo a direção da Casa, pelo Corpo de Bombeiros. Para entrar, os manifestantes passaram pelo portão externo da Casa e forçaram a porta que dá acesso ao segundo andar. Os servidores ocuparam as galerias durante mais de uma hora e gritaram palavras de ordem como Eu acredito na luta, resistência e não tem arrego, você tira o meu direito e a gente tira o seu sossego. Quando o presidente do Legislativo, vereador Serginho do Posto (PSDB), suspendeu a sessão, eles lançaram cédulas falsas sobre o plenário.

Depois de desocupar o plenário, os manifestantes continuaram o protesto do lado de fora, colocando cruzes no gramado em frente ao prédio, em sinal de luto pela aprovação do pacote. Também havia faixas, varal com fotos de vereadores e do confronto com policiais, na segunda-feira, em frente à Ópera de Arame, e um caixão simbólico.

Diante de mais um dia de conflito, o presidente da Câmara desabafou. Está na hora de o Executivo ter responsabilidade na gestão. Essa crise não foi causada pela Câmara. Quem provocou essa crise tem nome e sobrenome, porque já dava sinais há muito tempo, nas duas últimas gestões. E a Câmara mais uma vez assume a responsabilidade da gestão, criticou.

Danos

Segundo a direção da Casa, ao protestarem cantando e pulando nas galerias do prédio histórido do Legislativo, cuja construção data do século 19 foram identificados pelos bombeiros danos ao edifício. Foram encontrados descolamentos do piso a ponto de caber um dedo entre o solo e o rodapé, da escada que se separou da parede e do lustre, que desceu cerca de um palmo do teto. Nova vistoria deverá ser feita para avaliar o eventual comprometimento das estruturas do prédio.

A primeira invasão da Casa ocorreu ainda em 22 de maio, quando a Comissão de Legislação tentou votar parecer sobre os projetos de ajuste. Na ocasião, parlamentares foram impedidos de entrar e sair da sala das comissões pelos manifestantes, que portavam buzinas e rojões.

Outros sete projetos do pacote permanecem pendentes, e devem ser votados a partir de agosto. Ontem, os vereadores tanto da base governista quanto de oposição concordaram na avaliação de que o primeiro semestre do ano foi difícil. O líder da bancada do prefeito, Pier Petruzziello (PTB), disse lamentar que a violência tenha sido exercida em detrimento da democracia e do diálogo. Já a vereadora oposicionista professora Josete (PT) culpou a suposta intransigência a prefeitura pelos conflitos. Não está tudo bem pois a cidade perdeu. Todo mundo perdeu. Houve desgaste da gestão, mas a Câmara Municipal também acabou desgastada, avaliou.

Greca sanciona quatro medidas

O prefeito Rafael Greca (PMN) sancionou ontem os quatro projetos do pacote de ajuste fiscal aprovados pela Câmara Municipal de Curitiba na segunda e terça-feira, em meio a uma batalha com os servidores públicos contrários às medidas. Ao sancionar as propostas, Greca afirmou que agora sua administração estaria pronta para avançar.
A administração pode vislumbrar agora a efetiva possibilidade de retomada de um processo equilibrado de gestão e desenvolvimento da cidade, disse o prefeito. Os desafios ainda são grandes, mas começamos a fazer Curitiba voltar a ser a Curitiba que todos queremos, com uma administração responsável, que zela pelos seus cidadãos, afirmou Greca.
O prefeito também agradeceu aos vereadores, que segundo ele votaram os projetos sob pressão de sindicalistas e manifestantes contrários às propostas. Os vereadores reafirmaram o compromisso com a cidade, com os cidadãos e com os servidores, afirmou Greca, em mensagem enviada ao líder do governo na Câmara Municipal, Pier Petruzziello, e lida pelo vereadora na sessão de ontem.