A situação do presidente Michel Temer (PMDB) se agravou nos último dias de tal maneira que dificilmente a Câmara Federal rejeitará a denúncia do procurador-geral, Rodrigo Janot, que o acusa de corrupção passiva com base na delação da JBS, e que pode afastá-lo do cargo. A previsão é do senador Alvaro Dias (Podemos), para quem tudo caminha para a eleição indireta do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), cujos aliados já estariam, inclusive, planejando um pós-Temer e dividindo espaços no futuro governo. 

Recém lançado pré-candidato à sucessão presidencial pelo novo partido Podemos, Alvaro não vê chances de realização de uma eleição direta com a queda de Temer, como alguns setores vêm defendendo, até pela questão do calendário. Não haveria tempo para aprovar a mudança na Constituição e não haveria sentido em realizar duas eleições em 2018, como provavelmente aconteceria neste caso.
Para Alvaro, o País terá que suportar o sacrifício de uma transição lenta, com um governo fraco acossado por denúncias de corrupção e por uma crise continuada. Em entrevista ao Bem Paraná, o senador avalia o cenário e explica os motivos da provável queda do segundo presidente da República em pouco mais de um ano.

Bem Paraná – Como o senhor avalia a situação atual do presidente Temer? Há mesmo uma debandada na base do governo no Congresso?
Alvaro Dias – Isso reflete a cultura brasileira do adesismo fácil. Os políticos em comportamento de manada. Quando o barco afunda, os políticos correm para se salvar. Há uma conspiração na Câmara. Já estão dividindo o poder. Nos últimos dias, a situação do presidente Temer se agravou de tal forma que dificilmente a Câmara não vai aceitar a denúncia do procurador-geral.

BP – Porque isso está acontecendo, já que até agora o presidente tinha uma maioria folgada no Congresso?
Alvaro – É uma soma de fatores. A prisão de mais uma pessoa próxima ao presidente (o ex-ministro Geddel Vieira Lima). O anúncio da delação do (ex-presidente da Câmara) Eduardo Cunha e do (doleiro) Lucio Funaro.

BP – Como o senhor vê a possibilidade de eleição indireta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que também foi denunciado na operação Lava Jato? A crise política continuaria?
Alvaro – Não há alteração. A substituição da Dilma pelo Temer foi mais do mesmo, e a do Temer pelo Maia será mais do mesmo. Se estava péssimo, ficará péssimo. Só muda o nome da crise. De Temer para Maia. É o preço que temos que pagar pela transição de 2018.

BP – Nas últimas semanas, tem crescido o movimento em defesa da antecipação das eleições diretas. O senhor acredita nisso?
Alvaro – Não. Não acredito. Isso é uma falácia. É só olhar o calendário. Temos seis meses para chegar ao ano que vem. A mudança na Constituição levaria algum tempo. Teríamos duas eleições no mesmo ano. É impossível. O País não aceita. Além disso, a Câmara tem interesse na eleição do Maia. Não vamos alimentar ilusões.

BP – Nesse cenário, as reformas então estariam sepultadas?
Alvaro – Acho que a reforma da previdência nem se fala mais. A reforma trabalhista pode até passar, mas não esgota o assunto porque já nasce com defeitos. Terá que ser retomada no próximo governo eleito.

BP – Na sua avaliação, porque o País chegou nessa situação?
Alvaro – O erro foi no impeachment da Dilma. Eu defendia na época que houvesse o impeachment completo, tanto da Dilma quanto do Temer, da chapa. Mas a maior parte dos políticos está mais interessada em dividir o bolo do governo Temer do que em procurar soluções para o País. Perdemos tempo. A tendência é que o sacrifício se prolongue.

Pesquisa

Senador lidera no Paraná

Levantamento da Paraná Pesquisas sobre a eleição presidencial divulgada na última sexta-feira aponta que o senador Alvaro Dias (Podemos) lidera as intenções de voto para a eleição do ano que vem no Paraná. De acordo com o instituto, que ouviu 2.207 eleitores do Estado entre os dias 2 e 5 de julho, Alvaro teria hoje 31,1% da preferência do eleitorado, contra 15,3% do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) e 12,6% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida aparecem o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), com 9,5%; o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, com 5,9%; a ex-ministra Marina Silva (Rede), com 4,7% e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 3%.
Lula lidera a rejeição, com 58,8%. Alvaro tem 10,8%. Segundo o senador, esse seria o item mais importante da pesquisa. As pesquisas atuais dizem respeito ao passado, não ao futuro. Em relação à eleição do ano que vem elas pouco significam. De que o jogo ainda não começou. Uma rejeição insignificante, como a minha, revela um potencial de crescimento, no caso, de 90%, avalia.