Recentemente o presidente Michel Temer (PMDB) pediu para eu e todos os brasileiros compreendessem a decisão dele de aumentar os impostos sobre o combustível. A população brasileira irá compreender, disse o presidente textualmente, ao justificar o reajuste. O governo espera arrecadar nada menos que R$ 10 bilhões até o fim do ano. E de um dia para o outro os postos de gasolina, sem pudor algum, subiram até R$ 0,70 o litro da gasolina. Não interessa se os estabelecimentos compraram o combustível ainda com o preço mais em conta. O aumento foi imediato. Mas quando há redução, os postos alegam que não pode baixar o preço imediatamente porque adquiriram o produto ainda com o preço antigo – mais alto.
Durante alguns dias pensei na proposta de Temer. Primeiramente acredito que independente da minha compreensão ou não, da compreensão do povo, o aumento do imposto sobre o combustível seria elevado de qualquer maneira. Então passei a, de fato, tentar entende-lo. Sei da dificuldade financeira que o país atravessa. Também tenho ciência da enorme dívida fiscal herdado pelo presidente. O cenário, realmente, não é dos melhores. Pelo contrário. Mas aumentar o imposto num país com uma das maiores cargas tributárias do mundo deveria ser muito bem pensado pelo governo. Deveria ser a última opção. Mas pense comigo: aumentar a alíquota de um produto utilizado diariamente por dezenas de milhares de pessoas é a receita ideal para incrementar a arrecadação. Repito: espera-se um incremento de R$ 10 bilhões em seis meses.
Desculpa presidente, mas é difícil compreender vossa decisão. Muitos mais atender seu pedido. É muito fácil aumentar imposto e cobrar esta conta da população brasileira. No mês em que vossa excelência esteve no foco da Câmara Federal, que julgava a denúncia de corrupção proposta contra o senhor, por sua decisão, foram abertas as torneiras dos cofres públicos. O senhor, presidente Temer, autorizou o pagamento de mais de R$ 2 bilhões para deputados federais em emendas parlamentares. Parte do recurso, infelizmente, será desviado em negociatas obscuras nos rincões do Brasil.
Quem votou pelo não prosseguimento da denúncia teve as emendas atendidas pelo Palácio do Planalto. Aquela velha e já conhecida relação promíscua entre o Executivo e o Legislativo. Conchavos que desaguam em operações da Polícia Federal. Por que ao invés de destinar R$ 2 bilhões em emendas aos parlamentares o recurso não foi contingenciado e melhor aplicado? Deveria, vossa excelência, aprimorar os mecanismos de fiscalização e evitar os recorrentes casos de corrupção que sangram os cofres públicos.
Temer deveria sim pensar em uma reforma do processo penal, séria e coerente. Não esta que se apresenta no Congresso Nacional que mais pensa em colocar cabresto na atuação da PF e do Ministério Público Federal (MPF), em alongar ainda mais o encarceramento de envolvidos em crimes do colarinho branco, permitindo a prisão apenas quando esgotado todos os recursos até última instância, entre outras alterações que mais parecem chacota com a população brasileira.
Iremos sim presidente pagar esta conta. Não temos outra saída – a não ser protestar. Vamos despejar R$ 10 bilhões no cofre do governo, mesmo sabendo que a contrapartida será nula. Não teremos mais saúde, educação tampouco mais segurança. Mas não me peça, não nos peça, compreensão. Aceite somente nossa impotência diante de vossos desmandos. O Temer irá me compreender.

O PMDB tenta acabar com a Lava Jato

Já não é mais segredo. As cartas estão na mesa. A ordem no Palácio do Planalto é frear a qualquer custo a Operação Lava Jato. Só se discute a forma de cumprir tal missão. Sabe-se, no entanto, que caberá ao Congresso Nacional colocar freio na maior operação de combate a corrupção no Brasil. Mas o plano inclui a participação de outros poderes – jogando por terra a tal independência dos poderes preconizada na Constituição Federal. Pelo Legislativo tramitarão projetos sem paternidade cuja única intenção é proteger os próprios parlamentares. No Judiciário, assistiremos impávidos aos julgamentos de recursos, de embargos, com jurisprudência duvidosa.
Está tão descarado o plano do governo que um dos procuradores da República, que faz parte da força-tarefa da Lava Jato, veio a público e sem papas na língua desferiu que o PMDB tenta acabar com a Lava Jato a todo custo: Mas, mesmo com todas as articulações do governo e de seus aliados, as investigações vão continuar por todo país. Infelizmente, muitas pessoas que apoiavam a investigação só queriam o fim do governo Dilma e não o fim da corrupção disparou Carlos Fernando dos Santos Lima.