Uma nova onda de boatos disseminados via redes sociais vem causando furor em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais. É que na última terça-feira, após um grupo de criminosos realizar um assalto em um bar no bairro Órfãs, informações irresponsáveis e em tom alarmista começaram a ser divulgadas, inclusive propondo às pessoas que “não saiam de casa”.

Um vídeo da ocorrência registrada durante a semana, inclusive, chegou a ser divulgada e chamou grande atenção, já que esse tipo de ocorrência não é comum na cidade. Na quinta-feira, um dos suspeitos de ter participado do crime foi morto em confronto pela Polícia Militar.

Na casa do suspeito, policiais encontraram indícios de que ele possuiria ligações com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). E a partir daí pessoas mal intencionadas aproveitaram para criar pânico, divulgando áudios em que a facção ameaça retaliar a morte do integrante, assassinando policiais e provocando uma onda de crimes, como um novo arrastão que teria ocorrido em um câmpus universitário – o que nunca aconteceu.

Os falsos raptos

Notícias falsas em tom alarmista ganhando repercussão nas redes sociais está longe de ser novidade. E o pior é que não são só os leigos que compram a história e ajudam a divulgar a mentira, mas até mesmo veículos de comunicação, como se viu nesta semana diante dos boatos repassados via Whatsapp dando conta da suposta atuação de uma quadrilha no rapto de crianças em Curitiba e Região Metropolitana.

A mentira repercutiu tanto que a delegada-titular do Serviço de Investigações de Crianças Desaparecidas (Sicride), Iara Dechiche, teve de convocar uma entrevista coletiva para desmentir o boato, esclarecendo que a única investigação em andamento é de um caso em Campo Largo, onde uma mãe fez um Boletim de Ocorrência sobre uma suposta tenttiva de rapto de sua filha na semana passada.

Segundo a delegada, é necessário que a população colabore com a polícia evitando disseminar esse tipo de informação, que sequer possui um fundo de verdade. “Se e quando houver a comprovação de uma quadrilha desse tipo agindo no Estado, seremos os primeiros a emitir um alerta para a população”, disse a delegada, esclarecendo ainda que esse ipo de boataria que se espalha atrapalha demais o trabalho policial, já que, mesmo que sejam boatos, é obrigação da polícia checar a informação, o que demanda deslocamento de policiais que deixam outras investigações — sérias — para descobrir a veracidade ou não destes boatos.

Mensagens falsas ou ofensivas são maioria nas investigações da polícia

Fotos e histórias que você recebe via whatsapp e repassa sem checar para algum grupo podem dar mais dor de cabeça do que você imagina. Segundo o Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber), da Polícia Civil do Paraná, informações falsas ou mensagens que comprometem a reputação de terceiros já respondem por mais da metade dos procedimentos da unidade e superaram o número de casos mais graves, como investigações de pedofilia ou estelionato.

Nas últimas semanas, algumas notícias falsas percorreram grupos de whatsapp: jovens que apedrejavam carros no bairro Bacacheri a fim de assaltar motoristas; que um grupo sequestrava idosos no Jardim Botânico; outra mensagem, com a foto de uma mulher, dizia que ela raptava crianças no interior. Casos como esses atrapalham o trabalho da polícia e podem levar o autor da mensagem ou quem a compartilha a ser processado.

De acordo com o delegado-chefe do Nuciber, Demétrius Gonzaga de Oliveira, dos cerca de 11,5 mil casos investigados pela unidade no momento, pelo menos 6 mil dizem respeito a histórias como essas e envolvem falsa comunicação de crime, calúnia, injúria ou difamação. Investigações sobre crimes de maior potencial ofensivo, como estelionato, pedofilia ou associação criminosa, somam aproximadamente 5,5 mil.

Percebemos uma inversão. Nos últimos dez anos, sempre houve mais crimes contra o patrimônio, estelionatos e desvios de dinheiro. Os crimes de menor potencial eram cerca de 30%. Hoje estão passando, por causa dessas brincadeiras, afirma. Com a internet disponibilizada de forma aberta, serviços a custo baixo e aparelhos acessíveis, as pessoas começam a brincar achando que estão invisíveis.

Demétrius diz que, em grande parte desses casos, quem se apresenta como vítima acaba como investigado. Em muitas investigações, a pessoa que se dizia vítima era criminosa, afirma. Isso gera consequências graves, pois a autoridade deve adotar providências.