AMANDA NOGUEIRA BARCELONA, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Uma van atropelou dezenas de pessoas no centro de Barcelona por volta das 17h desta quinta-feira (17), 12h em Brasília. Há pelo menos 13 mortos e 100 feridos, segundo a polícia da Catalunha. Mais cedo, o governador Carles Puigdemont havia informado a confirmação de 12 vítimas, número que agora foi atualizado pela polícia. A polícia trata a ação como um ataque terrorista.

A facção terrorista Estado Islâmico assumiu a autoria em um comunicado divulgado na agência de notícias da milícia. “Os responsáveis pelo ataque em Barcelona são soldados do Estado Islâmico e conduziram a operação em resposta a chamados para atacar Estados da coalizão [que luta contra a milícia na Síria e no Iraque].”

O ataque ocorreu nas Ramblas, uma via de grande circulação de pedestres que liga uma praça central à orla da cidade. O chefe dos Mossos d’Esquadra (polícia catalã), Josep Lluís Trapero, afirmou que o motorista fugiu a pé após deixar a van em frente ao Teatro del Liceu -seu paradeiro continua desconhecido. Trapero confirmou a prisão de dois suspeitos de ligação com o atentado. O primeiro foi o marroquino Driss Oubakir, 28, que morava legalmente em Ripoll (a 105 km de Barcelona) e teria alugado a van usada pelo terrorista nos arredores de Barcelona. O outro preso é um espanhol do enclave de Melilla, no norte da África, cujo nome não foi divulgado. O homem, segundo a polícia, seria o responsável por uma explosão vinculada ao ataque em um prédio de Alcalar, a 202 km de Barcelona —na ação, ocorrida de madrugada, uma pessoa morreu e sete ficaram feridas. A polícia, porém, descarta relação do atentado com outro atropelamento ocorrido horas antes nas Ramblas, em que o motorista foi morto pela polícia após atropelar dois agentes.

A gerente de vendas Ambra Gorini, que trabalha em um prédio nas proximidades do ocorrido, afirma que muitas pessoas se abrigaram em lojas e só foram liberadas pela polícia duas horas depois do ataque. “Assustador e estranho”, disse. Todas as estações de metrô e trem foram fechadas. As autoridades pedem que moradores e turistas evitem a região. Diversas ambulâncias foram deslocadas para o local do ataque. As ruas estão fechadas para carro e completamente vazias, exceto por pequenas aglomerações em varandas e lojas.

O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, informou que está a caminho de Barcelona para coordenar os esforços de segurança, que serão reforçados na cidade catalã. A Câmara Municipal suspendeu todas as atividades da cidade, inclusive as festas de Gràcia, tradicional celebração do bairro catalão que completa seu bicentenário nesta edição. O evento é chamariz para milhares de turistas à cidade, que já costuma ficar cheia durante o verão europeu. Vídeos em redes sociais mostram feridos recebendo atendimento nas ruas. Testemunhas afirmam que pessoas pediram abrigo em estabelecimentos próximos ao local do atropelamento.

Poucas horas após o ataque, muitas pessoas já doavam sangue em hospitais da cidade. O assistente de logística Hector Flores está entre a centena de voluntários no hospital Sant Pau, que encontrou através das hashtags “#Barcelona” e “Ramblas” em uma rede social. “A gente está retuitando todos os centros onde pode-se doar já há algum tempo para que não se aglomerem em um único ponto”, disse. O casal de brasileiros Maurício Kanno, 34, e Francielle Piuco Biglia, 33, contam que ficaram cerca de três horas em uma biblioteca a cerca de 150 metros das Ramblas após o atentado, por recomendação de um policial a paisana. Eles estavam nas Ramblas na hora do ataque. “Vimos um monte de gente correndo, não estávamos entendendo o que acontecia. Depois vimos um carro preto que parou, saíram policiais com armas. Queria pegar o metrô, mas estava tudo fechado. Acabamos indo para a biblioteca”, diz Biglia, que mora há oito anos em Barcelona.

REAÇÕES

“Catalunha tem sido e será uma terra de paz e acolhimento. Não deixaremos que uma minoria acabe com um modo de vida que se forjou ao longo dos séculos”, disse o governador da Catalunha, Carles Puigdemont. A prefeita de Barcelona, Ada Colau, que está fora da cidade, mas se manifestou pelas redes sociais. “Barcelona é uma cidade de paz. O terror não conseguirá que deixemos de ser quem somos: cidade aberta ao mundo, valente e solidária”, disse Colau, que agradeceu à solidariedade ao redor do mundo.

“Sejam duros e fortes, nós amamos vocês”, escreveu o presidente americano, Donald Trump, aos espanhóis em uma rede social. “Os EUA condenam o ataque terrorista em Barcelona e farão todo o necessário para ajudar.” O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, disse que “terroristas em todo o mundo devem saber que os EUA ou nossos aliados estão comprometidos em encontrá-los e trazê-los à Justiça”. “O governo brasileiro deplora veementemente o ataque terrorista ocorrido na tarde desta quinta-feira em Barcelona”, afirmou, em nota, o Itamaraty. Não há registro de brasileiros entre as vítimas até este momento.

VEÍCULOS COMO ARMAS

Confirmado como ataque terrorista, o episódio em Barcelona entra em uma já extensa lista de atentados na Europa em que os autores usaram veículos como armas. Em 2016, os mais mortíferos ocorreram com caminhões em Nice (14 de julho, com 86 mortos e 434 feridos) e Berlim (19 de dezembro, com 12 mortos e 56 feridos).

Neste ano, Londres foi alvo de três ações semelhantes, mas com automóveis. Em 19 de junho, uma pessoa morreu e dez ficaram feridas quando um extremista de direita avançou com uma van contra pedestres perto da saída de uma mesquita. No mesmo mês, no dia 3, terroristas usaram uma van para atropelar pedestres na ponte de Londres e atacaram pessoas a facadas num mercado próximo. O ataque foi reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico. Em 23 de março, um motorista matou duas pessoas e feriu outras 40 em um atropelamento na ponte de Westminster. Depois, saiu do carro e esfaqueou um policial num dos portões do Parlamento britânico –o agente também morreu. A ação também foi reivindicada pelo EI.

A capital da Suécia, Estocolmo, também foi alvo de um ataque com veículo em 2017. Em 7 de abril, um motorista avançou com um caminhão sobre pedestres e deixou cinco mortos. Na edição de novembro de 2016 da revista “Rumiyah”, publicada pelo EI, um texto sugeria a utilização de veículos como arma contra os “infiéis”, por ser uma forma simples e barata de praticar um ataque.